Por que as pessoas acreditam em coisas estranhas?

Lisiane Pohlmann
Por que as pessoas acreditam em coisas estranhas? (Imagem: Miriam Espacio/Unsplash)

Quando eu era criança, costumava escolher se tomava sorvete: olhava pra rua e, se entre os cinco próximos carros que passavam, passasse um que fosse vermelho (por exemplo), eu compraria o sorvete. É claro que o que regulava essa dinâmica era a minha vontade, e não a superstição: se eu estivesse com vontade de comer sorvete e a dinâmica não funcionasse, eu dizia que aquela vez não valia e tentava novamente, até finalmente passar um carro vermelho. Acontece que realmente há quem acredite que, por trás das questões cotidianas, existem fatos desconexos pautando nossas ações.

Isso tem a ver com superstição? Tem sim. A ideia infantil de controlar os eventos, e é absolutamente normal durante a infância. Mas essas ideias às vezes persistem na vida de um adulto, na forma de crenças infundadas, e é disso que falaremos aqui.

Quem nunca viu (nem que seja no History Channel) alguém que acredita em chupacabras, ET’s que visitam a Terra, fantasmas que aparecem em espelhos ou coisas desse tipo? Tem gente que ouve mensagens malignas em músicas rodadas ao contrário, que acredita em conspirações por trás de rótulos de marcas famosas ou mesmo de filmes. Vocês se lembram da polêmica por trás da construção das pirâmides do Egito? Pois é.

O psicólogo e historiador Michael Shermer lançou há alguns anos o livro “Por que as pessoas acreditam em coisas estranhas?”, buscando elencar os motivos dessas crenças em histórias bizarras. Ele utilizou como critério para definir o que são estas “coisas estranhas” a falta de evidências científicas para comprová-las. Resumo aqui os seis motivos encontrados opor Shermer para que as pessoas acreditem em coisas estranhas:

Motivo 1: As pessoas QUEREM acreditar

Segundo Shermer, a razão principal para que as pessoas acreditem em coisas estranhas é que elas querem acreditar. A vontade de acreditar gera bem-estar, consolo e poe ser reconfortante. As pessoas acreditam nas coisas que as fazem sentir-se melhores, mesmo que não tenham evidências para sustentar estas crenças.

Motivo 2: Gratificação imediata

Grande quantidade das crenças estranhas promovem instantaneamente uma sensação de bem-estar. Você acreditar que uma “sessão de descarrego” vai ajeitar os seus problemas, por exemplo, pode deixá-lo mais tranquilo, responsabilizando a um terceiro elemento pela solução.

Motivo 3: São ideias simples

Estas crenças normalmente têm explicações simples para coisas complexas. “Coisas boas e ruins acontecem tanto para as pessoas boas quanto para as ruins, aparentemente de modo aleatório. As explicações científicas costumam ser complicadas e requerem treino e esforço para ser entendidas. A superstição e a crença no destino e no sobrenatural oferecem um caminho mais simples”, afirma Shermer. Não é necessário muito esforço para compreender essas ideias.

Motivo 4: Níveis de incerteza

O local onde o indivíduo está inserido influencia suas crenças. O antropólogo Malinowski mostrou o quanto a magia costuma aparecer em situações de incerteza, medo ou apelo emocional. Ou seja: quanto mais incertezas o ambiente oferece, mais os indivíduos nele inseridos tendem a “acreditar em qualquer coisa” que lhes dê confiança.

Motivo 5: Pessoas inteligentes em uma área da ciência não são necessariamente inteligentes em outras

Pesquisadores incríveis de uma determinada área podem cometer erros tremendos ao adentrar em outras áreas, com as quais não têm familiaridade com o campo. O treino, o conhecimento e o tempo de estudo em uma área determinada não são sinônimo de que se obterá sucesso – ou mesmo coerência – em outras. Autores famosos de biologia, por exemplo, na maioria das vezes não são autoridades para falar sobre matemática.

Motivo 6: As pessoas querem defender crenças às quais chegaram por razões não racionais

A maioria das pessoas baseia seu sistema de crenças em uma ampla variedade de razões que não têm evidência empírica, e destaco aqui o apelo emocional. Shermer também enumera variáveis como a constituição social, experiência pessoal e influência de amigos e familiares. “Selecionamos dentre a massa de dados aquilo que confirme mais as coisas em que já acreditamos e ignoramos ou racionalizamos o que não vem confirma-las. Todos fazemos isso, mas as pessoas inteligentes fazem melhor, seja por talento ou por estarem treinadas”, explica. Ou seja, encontramos padrões inexistentes nos fatos e buscamos utilizá-los para confirmar nossas crenças pessoais, sem pra isso elaborar razões suficientes para mantê-las ou defendê-las.

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