Estes pica-paus travam guerras sangrentas para proteger seu habitat

Amanda dos Santos
Um pica-pau-das-bolotas usando uma das etiquetas de rádio usadas no estudo. (Foto da Sahas Barve, uma das autoras do estudo)

O pica-pau-das-bolotas habita as florestas de carvalho do Oregon ao México e as sementes – que são conhecidas por bolotas – são sua questão de vida ou morte.

A guerra em busca das bolotas que precisam para sobreviver durante o inverno dura dias contra grupos rivais.

Sahas Barve, ornitóloga do Museu Nacional de História Natural Smithsonian, disse ao New York Times que foram vistos pássaros com olhos arrancados, asas quebradas, penas ensanguentadas e pássaros caíram no chão lutando entre si.

Barve é a principal autora de uma nova pesquisa, publicada na Current Biology, que detalha os meandros dessa guerra.

Brigas territoriais são atração para outros pica-paus

pica-paus em guerra

Os pesquisadores descobriram que as brigas territoriais chamam a atenção de uma multidão de curiosos não violentos.

A luta entre gladiadores pica-paus atrai espectadores que voam quase três quilômetros de distância e deixam seus próprios territórios sem vigilância, apenas para assistir uma hora ou mais do espetáculo de penas feroz, relata Kate Baggaley para a revista Popular Science.

Desse modo, as lutas envolvem cerca de 40 pássaros e são violentas, podendo durar até dez horas.

O que eles tentam proteger? O clã do pica-pau monta “depósitos” bem abastecidos em árvores mortas tapadas com milhares de bolotas e é esse tesouro que, em luta, eles tentam preservar.

pica-pau e as sementes

A luta pelo controle nas famílias

Os depósitos são controlados por grupos sociais compostos por até sete machos que se reproduzem com uma a três fêmeas, conforme o estudo relata.

Esse grupo estranho é geralmente composto por dois conjuntos não relacionados de irmãos, são coalizões gêmeas de irmãos e irmãs que se acasalam e defendem vigorosamente seus depósitos do território contra ladrões.

O grupo também ganha um reforço de descendentes de anos anteriores, chamados de “ajudantes”. Eles ficam normalmente por cinco a seis anos ajudando seus pais, tias e tios a cuidar do ninho.

Só que os ajudantes não podem se reproduzir até encontrarem os seus próprios territórios. Runwal escreveu no Times que “as lutas pelo poder são, portanto, o resultado de ajudantes que se esforçam para se tornarem criadores”.

imagem do estudo

A guerra sangrenta do pica-pau-das-bolotas

A guerra começa quando todos os membros masculinos ou femininos de um grupo que controla o habitat escolhido morrem.

Daí vem a oportunidade para coalizões de irmãos ou irmãs que atuam como ajudantes nesse habitat para preencher a vaga da supremacia. As coalizões são compostas principalmente de dois a quatro pássaros.

Uma dúzia ou mais podem aparecer para a luta e apenas um pode vencer.

Então, os jogos vorazes do pica-pau-das-bolotas é organizado em coalizões de três ou quatro pássaros lutando e se posicionando nos galhos. Um grupo precisa vencer todos os outros para ganhar uma vaga no território, diz Barve em um comunicado.

Barve e sua equipe usaram minúsculos transmissores de rádio ligados a pica-paus na reserva de Hasting, na Califórnia com a intenção de estudar três lutas pelo poder em 2018 e 2019.

Eles monitoraram os espectadores que ficam nos bastidores de forma passiva. “Parece que essas lutas pelo poder são fontes realmente importantes de informação social”, disse Barve à Popular Science. O melhor palpite é que eles consigam petiscos suculentos com isso.

Damien Farine, ecologista do Instituto Max Planck, disse ao Times que o estudo ilustra como rastrear pássaros individualmente pode iluminar o funcionamento de suas sociedades.

O estudo foi publicado na revista Current Biology.

 

 

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