O espelho é um item indispensável em nosso dia a dia. Os utilizamos desde o momento em que acordamos, até o momento em que vamos dormir. Ao escovar os dentes, ao pentear o cabelo, no trânsito, através dos espelhos retrovisores. Mas será que os animais se reconhecem no espelho?
A autoconsciência é um dos principais itens que distinguem os seres humanos dos outros animais. É a nossa capacidade de entender, conceituar e experimentar nossa individualidade, personalidade e pensamento. Podemos diferenciar nós mesmos e o outro, além de entender que nós somos algo distinto do mundo, que cada um possui seus traços, características, comportamentos, sentimentos, opiniões, e muito mais que fornece nossa autoconsciência e nos tornam únicos.
Se auto reconhecer em um espelho é um fator determinante para a autoconsciência. É considerado o melhor teste possível para testar a autoconsciência em pessoas ou animais.
Você já deve ter visto, por exemplo, o seu cachorro se assustando e apresentando um comportamento diferente ao ver seu reflexo a primeira ou as primeira vezes. No entanto, ao interagir com o reflexo, ele não sente cheiro e não percebe uma interação com o reflexo. Logo, para ele, o outro cão não existe. O cachorro não sabe que o reflexo é ele mesmo.
Quais animais se reconhecem no espelho?
Em 2006 um estudo foi realizado com três elefantes asiáticos (Elephas Maximus). Os cientistas utilizaram um espelho enorme, em que os elefantes coubessem. Os pesquisadores fizeram marcas nos elefantes e os colocaram diante do espelho para ver a reação. Se eles demonstrassem uma reação em seus próprios corpos, em relação a mancha, significaria que eles sabem que o reflexo é deles. É como se fizessem uma pinta em você, e ao se ver no espelho, você tenta tirá-la passando o dedo.
“Todos os três elefantes apresentaram comportamento consistente com o teste do espelho e comportamento autodirigido durante o T3 (espelho aberto) e T5 (teste da marca), como trazer comida e comer bem na frente do espelho (um local raro para tal atividade), movimentos repetitivos e não estereotípicos do tronco e do corpo (tanto na vertical quanto na horizontal) em frente ao espelho, e movimentos rítmicos da cabeça dentro e fora da visão do espelho; tal comportamento não foi observado na ausência do espelho”, disseram os pesquisadores no estudo.
“Em mais de uma ocasião, os elefantes enfiaram suas trombas na boca em frente ao espelho ou lenta e metodicamente moveram suas trombas do topo da superfície do espelho para baixo. Em um exemplo, Maxine colocou sua tromba com a ponta na boca no espelho, como se estivesse inspecionando o interior de sua cavidade oral, e em outro caso, ela usou sua tromba para puxar sua orelha lentamente para frente em direção ao espelho.”, notam os cientistas em seu trabalho.
Os grandes símios (macacos sem caudas), como bonobos, chimpanzés, orangotangos e gorilas também tendem a passar no teste. Isso não é de se estranhar. No entanto, indivíduos muito jovens ou muito velhos podem falhar no teste, ou por ainda não ter desenvolvido essa autoconsciência, ou por já estarem a perdendo.
De cara, os macacos podem não perceber que são eles mesmos. Mas conforme se movimentam, rapidamente notam que o espelho é a repetição do que ele faz. Dessa maneira, observa-se uma curiosidade do animal se reconhecendo no espelho, como olhar partes do corpo que não consegue olhar sem o espelho.
Entre os símios, os gorilas apresentam uma dificuldade de se auto reconhecer. Neles, o comportamento é mais raro.
Outros animais se reconhecem no espelho também, como alguns golfinhos, que apresentam os maiores níveis de interesse entre todos os animais selvagens.
Baleias orcas são parentes muito próximas dos golfinhos, e não das baleias, como seu nome faz parecer. Elas compartilham a inteligência dos golfinhos, e obviamente também se notam no espelho.
Leões marinhos, pegas da Eurásia, e até mesmo formigas parecem se comportar de maneira não social em frente ao espelho, mas demonstrar um comportamento diferente, ou seja, sabem que são eles. Para alguns animais, são necessárias mais algumas evidências para se afirmar categoricamente, mas os resultados indicam que isso possivelmente ocorre.
No entanto, isso pode demonstrar que se auto reconhecer em um espelho não é um atestado de autoconsciência puro. Os animais se reconhecem no espelho, então há a consciência corporal, mas isso, diferente do que se imaginava, pode não ser necessariamente um atestado de autoconsciência como a que temos nós humanos, mudando muito a perspectiva do que se imaginava. É um novo campo que os cientistas estão explorando.
