James Webb detecta a galáxia mais distante já encontrada

Felipe Miranda
Imagem: Zamani/ESA/Webb/NASA/CSA

Há cerca de 13,4 bilhões de anos, logo após o início do universo, uma luz partia de um ponto do universo e recentemente chegou aos nosso olhos — na verdade aos nossos telescópios, até porque os olhos não enxergam essa luz. Agora, foi confirmado pelos cientistas que essa luz se trata da galáxia mais distante e antiga já localizada em todo o universo.

A galáxia surgiu em algum momento muito próximo ao Big Bang — a grande expansão que deu origem ao universo. Nessa época, o universo ainda era muito nebuloso e sombrio — mais do que é hoje. As coisas eram muito diferentes e os primeiros aglomerados estelares e galáxias surgiam das nuvens de gás e poeira. A nova galáxia encontrada data de menos de 400 milhões de anos após o Big Bang.

O que permitiu a descoberta é o Telescópio Espacial James Webb (JWST), da NASA. Além de muito mais poderoso tecnologicamente do que o seu antecessor, Telescópio Espacial Hubble, o JWST segue uma órbita diferente, um pouco melhor posicionada do que o Hubble. Dessa maneira, ele permite enxergar com mais detalhes e maior distância do que jamais enxergamos com os telescópios. O nível de detalhes foi tão grande que os pesquisadores não só mediram a distância, como descobriram algumas propriedades da galáxia, nos dando informações preciosas para entender melhor os primeiros anos do universo.

“Foi crucial provar que essas galáxias, de fato, habitam o universo primitivo. É muito possível que galáxias mais próximas se mascarem como galáxias muito distantes” disse em um comunicado da NASA a astrônoma e coautora Emma Curtis-Lake, da Universidade de Hertfordshire, no Reino Unido. “Vendo o espectro revelado como esperávamos, confirmando essas galáxias como estando no verdadeiro limite da nossa visão, algumas mais longe do que o Hubble poderia ver! É uma conquista tremendamente emocionante para a missão”.

A descoberta partiu de um projeto criado em 2015 por um grupo de cientistas, o JWST Advanced Deep Extragalactic Survey (JADES). O programa possui a ambiciosa missão de modelar o universo primitivo em um nível de detalhes sem precedentes, utilizando principalmente os dados fornecidos pelo James Webb.

Na primeira rodada de observações, os pesquisadores, que levou 10 dias de captação de dados, os pesquisadores conseguiram captar uma região 15 vezes maior do que as imagens infravermelhas profundas feitas pelo Hubble e, ao mesmo tempo, atingir um nível de detalhes maior do que o outro telescópio entregava.

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A região examinada. Imagem: Zamani/ESA/Webb/NASA/CSA

“Pela primeira vez, descobrimos galáxias apenas 350 milhões de anos após o Big Bang, e podemos estar absolutamente confiantes de suas distâncias fantásticas.”, disse o coautor Brant Robertson, da Universidade da Califórnia em Santa Cruz. “Encontrar essas primeiras galáxias em imagens tão incrivelmente belas é uma experiência especial”.

Depois dessa primeira rodada, os cientistas passaram 28 horas coletando dados sobre o desvio para o vermelho de 250 galáxias fracas. Dessa maneira, com a análise dos dados os pesquisadores puderam obter propriedades do gás presente na área e das estrelas das galáxias observadas.

“Estes são, de longe, os espectros infravermelhos mais fracos já tomados. Eles revelam o que esperávamos ver: uma medição precisa do comprimento de onda de corte da luz devido à dispersão do hidrogênio intergaláctico”, disse astrônomo e um dos coautores do estudo, Stefano Carniani, da Scuola Normale Superiore, na Itália.

Das galáxias observadas, quatro eram especiais — as mais antigas já observadas. Elas surgiram a partir de períodos na casa dos 330 milhões de anos após o Big Bang.

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Quatro das galáxias eram especiais. Imagem: NASA, ESA, CSA, and STScI, M. Zamani (ESA/Webb), L. Hustak (STScI). Science: B. Robertson (UCSC), S. Tacchella (Cambridge), E. Curtis-Lake (Hertfordshire), S. Carniani (Scuola Normale Superiore), and the JADES Collaboration

“É difícil entender as galáxias sem entender os períodos iniciais de seu desenvolvimento. Assim como acontece com os seres humanos, muito do que acontece mais tarde depende do impacto dessas primeiras gerações de estrelas. Tantas perguntas sobre galáxias têm esperado pela oportunidade transformadora do Webb, e estamos entusiasmados por poder desempenhar um papel na revelação desta história”, diz o coautor Sandro Tacchella, da Universidade de Cambridge, no Reino Unido.

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