História e evolução da Copa do Mundo Feminina

"As coisas não acontecem de um dia para o outro" - com essa frase, Marta, a maior artilheira de todos os tempos do futebol brasileiro, masculino ou feminino, se despede das Copas do Mundo

Daniela Marinho
Imagem: Getty Images

Com mais de 1 milhão de ingressos vendidos, a Copa do Mundo Feminina tem tudo para se tornar o campeonato esportivo feminino mais concorrido da história, de acordo com a FIFA. Nessa edição, pela primeira vez, 32 times estão competindo – mais do que os 24 times presentes nas duas edições anteriores.

Ainda que tenha ganhado uma visibilidade maior, a questão do esporte feminino ainda tem que enfrentar duros desafios estruturais, como a falta ou o número baixo de patrocínio – em comparação ao futebol masculino, o estigma dos vários anos que as mulheres foram impedidas de jogar, a profissionalização tardia no país e investimento.

Origens do futebol feminino

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Matéria no jornal ‘O Imparcial’ em 1941 sobre futebol feminino — Foto: Acervo da Fundação Biblioteca Nacional – Brasil

Apesar de já haver registros de partidas de futebol feminino desde o século XVIII, foi somente em 1895 que o esporte começou a ganhar maior notoriedade com a participação do British Ladies’ Football Club (BLFC). Este clube de futebol feminino pioneiro representou desafios consideráveis, uma vez que não contava com o apoio das associações de futebol do Reino Unido.

Mesmo com as adversidades, o BLFC realizou sua partida inaugural em Londres, seguida por uma bem-sucedida turnê. A cobertura midiática que conseguiu foi ampla, não só pelo interesse no esporte em si, mas também por suscitar debates na sociedade vitoriana inglesa acerca dos direitos e papéis das mulheres.

Papel da FIFA

Somente 61 anos após a FIFA estabelecer a primeira Copa do Mundo masculina foi que o “mesmo” aconteceu numa versão feminina. Apesar do sucesso dos jogos de 1988, persistiam desconfiados quanto ao sucesso comercial de uma “Copa do Mundo” feminina. Inicialmente, a FIFA optou por nomear o torneio de “Campeonato Mundial de Futebol Feminino para a Copa M&M’s”, incorporando a marca do fabricante de doces Mars, único patrocinador corporativo do evento.

As dúvidas, entretanto, foram completamente dissipadas. Mais de meio milhão de entusiastas compareceram para prestigiar a competição que contou com a participação de 12 nacionais. Após uma final emocionante, na qual a equipe dos EUA derrotou a Noruega diante de uma multidão empolgante de 65.000 pessoas no Tianhe Stadium em Guangzhou, o então presidente da FIFA, João Havelange, declarou: “O futebol feminino agora está firmemente estabelecido e florescente.”

Futebol “não era” para mulher

Havia uma crença de que as jogadoras de futebol feminino não estavam à altura de seus colegas masculinos. Isso se refletia em diferença nas partidas, que eram 10 minutos mais curtas que as masculinas, gerando comentários como o da capitã da seleção americana, April Heinrichs, que aludiu ironicamente ao medo de lesões físicas durante os jogos: “tinham medo de que nossos ovários caíssem se jogássemos 90 minutos.”

Além disso, as jogadoras não eram tratadas como profissionais, o que resultava em medidas de corte de custos. A seleção americana, por exemplo, precisava fazer escalas para buscar outras equipes antes dos jogos e enfrentar condições desfavoráveis ​​em comparação com os jogadores masculinos, como o uso de uniformes de segunda mão.

As condições de hospedagem também eram inferiores, com todas as jogadoras dividindo um quarto em uma simples cama e café da manhã durante viagens ao exterior.

Outro aspecto importante a ser destacado é que a Copa do Mundo Feminina não oferecia premiação em dinheiro até o ano de 2007. Essa disparidade reforçava a desigualdade de tratamento entre o futebol masculino e feminino em termos de reconhecimento e compensação financeira.

De passo em passo

Copa do Mundo Feminina
Imagem: VCG/VCG VIA GETTY IMAGE

Desde então, algumas mudanças ocorreram. Para o torneio deste ano em julho, um orçamento de US$ 435 milhões foi alocado para a realização de todo o evento. Diferentemente das edições anteriores, as equipes concorrentes contarão com campos de base dedicados nas duas cidades-sede, Austrália e Nova Zelândia, proporcionando melhores condições para as competidoras.

Além disso, o valor do prêmio em disputa aumentou consideravelmente. Desta vez, as jogadores competirão por um montante de US$ 150 milhões, o que representa um grande aumento em relação ao prêmio de US$ 30 milhões oferecido durante os Jogos de 2019. Ainda que esse valor seja significativo, vale ressaltar que equivale apenas a um terço dos US$ 440 milhões destinados ao prêmio total da Copa do Mundo Masculino. Essa disparidade financeira continua a ser uma questão importante a ser enfrentada no cenário do futebol feminino, com expectativas de superação.

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