Gregos antigos sacrificavam pessoas feias durante pestes e crises

Para afastar crises, após bem alimentada, a pessoa era açoitada pelo povo, e mais tarde poderia ser abandonada ou morta.

Felipe Miranda
Imagem: Pixabay

Quando pensamos nos gregos, pensamos em uma grande civilização extremamente racional, um dos principais berços da ciência, matemática e o berço da filosofia moderna e da política. Quando pensamos na Grécia, muitas vezes um paraíso pode vir à cabeça, mas trata-se de uma visão muito idealizada, na verdade. Os gregos também possuíam religião, e não eram um povo exatamente científico e racional. Eles eram como nós hoje, com suas crenças – e essas crenças às vezes podem gerar comportamentos um tanto sombrios.

Rituais que envolviam sacrifícios de animais ou mesmo de humanos não eram raros – muitas vezes tendendo ao comum. O sacrifício humano, conforme as crenças, deveria agradar aos deuses, então relativamente bem praticado ao redor do mundo. E não, os gregos também não escapavam disso.

Existe um ritual que fora praticado na Grécia antiga chamado de pharmakós (a grafia pode ser também pharmakos ou pharmākos). Em resumo, trata-se de um ritual onde uma pessoa é escolhida como bode expiatório. Essa pessoa poderia ser apenas expulsa, ou poderia ser sacrificada, em “nome de um bem maior”. O ritual sobreviveu por séculos – possivelmente entre o século 8 ao 5 a.C. Há poucas evidências que contam as histórias, então pouco se sabe sobre o ritual.

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Templo grego dedicado à Atena, deusa da sabedoria. Imagem: Superchilum / Wikimedia Commons

Em resumo, durante esse período da história grega, durante épocas de crises esse ritual podia ser utilizado. Em alguns períodos, seja por fatores externos, seja por fatores internos, havia crises, pestes, secas e fome, isso não só na Grécia, mas por todo o mundo. Na realidade, períodos de seca e pestes há até hoje (a pandemia de covid-19 é um exemplo). Apenas a fome que conseguimos, hoje, contornar um pouco, para a parcela das pessoas que não vivem na miséria.

Não só na Grécia, mas em diversos povo e em diversas religiões, desde a antiguidade até os dias de hoje, muitas vezes essas crises são atribuídas a algum motivo divino. Fome, pestes, enchentes… muitos atribuíam e atribuem ao castigo de Deus, ou dos deuses, dependendo da religião.

E bom, nem sempre a Grécia foi o antro da civilização. Durante um período, a maior parte dos povos gregos se resumiam a uma série de arcaicos vilarejos rurais. Principalmente durante esse período, em tempos de crise elegia-se, em cada vila ou cidade grega, o habitante mais feio. Vale lembrar, no entanto, que o termo ‘feio’, na época, provavelmente referia-se a um cidadão com alguma deformidade ou deficiência, e não simplesmente uma estética não muito dentro do padrão, como nos referimos hoje a alguém “feio”.

A pessoa eleita, então, torna-se o pharmakos. Então, a pessoa era alimentada com iguarias, as comidas mais requintadas possíveis. Após isso, a pessoas eleita (ou pessoas) eram conduzidas pelas ruas da cidade enquanto eram violentamente feridas com galhos verdes. A partir daqui, o destino da vítima poderia variar: a pessoa poderia ser morta por apedrejamento, queimada, jogada de um penhasco, ou simplesmente expulsa do local, sem necessariamente envolver a sua morte.

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Imagem: Pixabay

Os gregos eram obcecados com a pureza. Isso, inclusive, pode ser notado nas artes gregas – as formas perfeitas dos corpos em pinturas e estátuas. Então, pessoas com deformidades e deficiências eram mal vistas. Logo, expulsar ou sacrificar essas pessoas, vistas como impuras ou contaminadas, poderia agradas aos deuses e afastar quaisquer crises que estivessem ocorrendo naquele momento ou pudessem ocorrer no futuro.

A semelhança entre o nome pharmakos e fármaco, inclusive, não é mera coincidência. Um fármaco é um remédio. A palavra relacionada a pharmakos era pharmakon, e originou a palavra farmácia em diversas línguas modernas. Pharmakon era uma palavra que se referia a veneno e remédio (até porque a linha entre um veneno e um remédio é bastante tênue). Então, o pharmakos era considerada a escória, mas era, também, o salvador daquela sociedade.

A prática acabou tornando-se relativamente comum, e não apenas durante crises. Por exemplo, foi celebrado anualmente em Atenas durante o festival de Thargelia.

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