Ossos pesados dos espinossauros podem ter dado a eles a capacidade de nadar

Letícia Silva Jordão
Espinossauro. Apesar de ser um dinossauro que caçava na água, nunca evoluiu para viver na água. Imagem: Davide Bonadonna

Os espinossauros desafiavam todas as probabilidades. Eles tinham dentes cônicos como crocodilos, embora outros dinossauros carnívoros tivessem dentes curvos em forma de faca. Em vez das características típicas do tiranossauro e do alossauro, estes dinossauros tinham focinhos longos que lhes davam uma aparência de crocodilo. 

No entanto, o que mais surpreende nesta espécie é o fato deles serem os únicos dinossauros não-aviários conhecidos por passarem tanto tempo na terra quanto na água, mas essa ideia não é totalmente nova. 

Os paleontólogos acreditavam que os espinossauros viviam ao longo das margens de rios e lagos antigos desde a descoberta do Baryonyx em 1986, que possuía peixes dentro do seu sistema digestivo.

Mas, a partir de 2015, os paleontólogos descobriram novas características nos espinossauros, como pés largos e uma cauda em forma de remo, que sugeriam que ele era um nadador habilidoso. Dentre todas elas, o que mais entregou este dinossauro foram seus ossos densos, que teriam ajudado ele a manter sua flutuabilidade neutra no mar.

Agora, o paleontólogo Matteo Fabbri do Field Museum of Natural History e colegas, revelaram que o espinossauro não foi o único dinossauro que se destacou na água. Baryonyx, um dinossauro menor, provavelmente também era um nadador competente, levantando novas preocupações sobre como e quando esses dinossauros desenvolveram seus talentos aquáticos.

A dificuldade de encontrar características aquáticas

Parte da inspiração do estudo, publicado na Nature, veio de uma visita ao Museu La Specola, em Florença, que Matteo Fabbri fez para observar a exposição zoológica. “[…] notei um esqueleto de hipopótamo lindamente montado”, diz Fabri

“Fiquei chocado ao ver como um animal que estamos acostumados a ver em ambientes aquáticos, não tem traços esqueléticos marcantes sugerindo tal ecologia”. Essa experiência fez com que ele se perguntasse se os dinossauros não-aviários, como os espinossauros, também ocultavam suas possíveis características aquáticas.

Os paleontólogos lutaram para determinar quais dinossauros eram nadadores competentes. Durante grande parte do século passado, os especialistas pensavam que herbívoros como o Brachiosaurus de pescoço comprido e o Parasaurolophus de bico de pato, mergulhavam na água para evitar carnívoros. 

No entanto, nenhuma evidência conclusiva pôde ser descoberta para apoiar esta alegação. Os paleontólogos descobriram mais tarde que muitos dinossauros carnívoros sabiam nadar e que até deixaram rastros de natação, como arranhões na lama que traçaram suas rotas enquanto atravessavam rios e lagos. 

Mas, uma coisa é um dinossauro poder nadar por um curto período de tempo; outra bem diferente é que um dinossauro tenha adaptações aquáticas, ou aspectos de sua anatomia que são projetadas especificamente para nadar.

Ossos mais densos são uma das adaptações aquáticas mais típicas entre os organismos que passam tanto tempo na terra quanto no mar. Ela oferece a capacidade de flutuar livremente, o que é vantajoso ao tentar atravessar um rio ou lago. 

A flutuabilidade, por outro lado, pode ser um problema sério para organismos que desejam migrar ou caçar abaixo da superfície. Quanto mais flutuante for um animal, mais energia será necessária para entrar na água e nadar abaixo da superfície. Os ossos mais densos, por outro lado, funcionam como um lastro natural, permitindo que animais anfíbios flutuem na água ao invés de afundar.

Espinossauros possuem ecologias variadas

Como foi descoberto que o espinossauro tem ossos densos, Fabbri e coautores se perguntaram se espinossauros poderiam ter adaptações comparáveis ​​que os paleontólogos ainda não haviam descoberto. Os cientistas coletaram amostras dos ossos de 380 criaturas vivas e pré-históricas, incluindo 36 ossos da coxa e 12 costelas de dinossauros não-aviários como o Espinossauro e o Alamosaurus de pescoço comprido.

Espinossauros possuíam ossos robustos e eram mais comparáveis a criaturas semi-aquáticas como as primeiras baleias e hipopótamos, de acordo com descobertas anteriores. No entanto, dois outros espinossauros foram descobertos em outros locais. 

O Baryonyx da Inglaterra pré-histórica tinha ossos um tanto sólidos, não tão compactos quanto os do Espinossauro, mas ainda assim robustos e ideais para nadar em profundidade. Enquanto isso, o Suchomimus do Níger tinha ossos mais parecidos com predadores terrestres como o T. rex.

“Ficamos surpresos e satisfeitos ao descobrir que vários espinossauros têm ecologias variadas”, explica Fabbri.

Para os paleontólogos, foi chocante o fato de que Baryonyx e Suchomimus fossem de tamanho e estrutura semelhantes, mas tivessem densidades ósseas tão diferentes. Além disso, a disparidade entre as espécies levanta preocupações sobre a evolução desses animais, mostrando que os espinossauros podem ter evoluído para serem predadores aquáticos, enquanto que o Suchomimus evoluiu para realizar outro feito que ainda é um mistério.

É evidente que esses dinossauros não eram cópias de carbono uns dos outros, mas sim representavam vários modos de vida, embora parecessem idênticos na superfície. Os ossos dos dinossauros são a chave para determinar a diferença.

Outros estilos de vida de dinossauros ocultos podem ser revelados como resultado da pesquisa atual. A maioria dos dinossauros só é conhecida através de esqueletos fragmentários ou como combinações de partes de outras espécies. É raro ver o esqueleto inteiro de um dinossauro não-aviário, o que torna ainda mais difícil determinar o estilo de vida de um dinossauro. 

No entanto, a densidade óssea parece ser um bom indicador de que um dinossauro viveu principalmente em terra ou teve adaptações de natação, como vimos com o espinossauro.

Compartilhar