Ainda não desvendamos o veneno desta água viva

Felipe Miranda
As águas-vivas de Nomura podem crescer até dois metros de diâmetro e são encontradas mais comumente no mar entre a China e o Japão. (Imagem: Lucia Terui)

Nemopilema nomurai é o nome científico de uma água viva gigante que habita as profundezas do oceano. Pela complexidade da composição, ainda não desvendamos o veneno desta água viva.

Conhecida também como água-viva de Nomura, ela é realmente gigante – pode pesar até 200 kg. A Nemopilema nomurai é uma das maiores espécies de água-vivas conhecidas em todo o mundo.

Elas são naturais das águas asiáticas, habitando principalmente a região entre China e Japão, mais especificamente, concentradas em dois mares: o Mar Amarelo e o Mar da China Oriental.

A alimentação delas é composta por zooplânctons desde a infância, e quando atingem um tamanho suficientemente grande, se alimentam também de algumas espécies de peixes.

Conforme o Science Alert, as suas “picadas” causam uma dor imediata e bastante intensa, e a área sofre uma vermelhidão e um inchaço. Não são todas as pessoas que morrem. Este fim trágico é um pouco mais raro, na verdade.

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Nemopilema nomurai. (Créditos da imagem: KENPEI / Wikimedia Commons)

Todo ano, na China, nas Coreias e no Japão, milhares de nadadores são acidentalmente picados por essa água viva. Mesmo assim, até hoje esse veneno é bastante misterioso para a ciência.

Entretanto, a ciência é movida pela dúvida, a única forma de se encontrar respostas, e estamos cada vez mais perto de desvendar um pouco de como esse poderoso veneno funciona.

Em um novo estudo, um grupo de pesquisadores chineses utilizaram o sequenciamento genômico para analisar a transcrição e a produção de proteínas que a água-viva de Nomura realiza na produção.

Com esse método, eles descobriram mais de 200 toxinas diferentes, todas relacionadas à liberação durante a picada. Eles acreditam que cada uma é especializada em atacar órgãos ou sistemas específicos. 

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Nemopilema nomurai. (Créditos da imagem: Totti / Wikimedia Commons).

Por que ainda não desvendamos o veneno desta água viva? Bom, apesar do avanço em sequenciar e entender algumas atividades, e identificar as toxinas ainda há alguns obstáculos.

Ainda há dificuldades

A complexidade das toxinas é tamanha que se torna um trabalho extremamente difícil separar e analisar os elementos individuais. Conforme dizem os pesquisadores em seu artigo:

“Embora tenhamos tentado purificar as toxinas letais do veneno de N. nomurai , era excessivamente difícil separá-las de outras proteínas individualmente”.

Ainda assim, entretanto, eles já deram um passo relevante no caminho para classificar e agrupar essas diferentes proteínas. Para isso, inicialmente eles pegaram as células que armazenam as toxinas.

Em seguida, eles injetaram em ratos para analisar os efeitos. Desta forma, eles conseguiram identificar 13 proteínas que possuem um efeito potencialmente fatal nas vítimas da picada.

Destas proteínas, cada uma possui um modus operandi. Algumas atacam as membranas celulares, outras, são capazes de catalisar a aglutinação (juntar) de substâncias dentro do corpo.

Ou seja, essas que causam a aglutinação causam congestão vascular no coração, por exemplo. Outros efeitos também são morte celular no fígado, além da degeneração vascular e etc.

Eles, entretanto, ainda não sabem dizer se a ação das proteínas é de fato individual, ou se elas agem em grupo, e o que difere o efeito é a forma como elas se agrupam durante o “ataque”. 

O estudo foi publicado no periódico Journal of Proteome Research.

Com informações de Science Alert.

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