A verdadeira história de Oppenheimer, o pai da bomba atômica

Felipe Miranda
Oppenheimer em 1946. Imagem: Wikimedia Commons

Oppenheimer é um dos físicos mais brilhantes que já existiram. Conhecido como pai da bomba atômica, J Robert Oppenheimer liderou os esforços para o desenvolvimento da arma, o projeto Manhattan, em Los Alamos. O projeto envolveu algumas das mentes mais brilhantes do mundo.

O tema está fazendo sucesso nos últimos dias com o lançamento do filme de Christopher Nolan estreado por Cillian Murphy.

As mentes envolvidas e a importância do projeto durante a Segunda Guerra, desenvolver a bomba atômica antes dos nazistas foi o que tornou o projeto, na época extremamente secreto, famoso nos anos que sucedem o ocorrido.

Pelos males que a bomba atômica causou, Oppenheimer é uma pessoa bastante injustiçada. Entretanto, é tudo muito complexo, e o contexto precisa ser analisado.

O projeto Manhattan

Durante a Segunda Guerra Mundial, alguns cientistas estavam desconfiados que a Alemanha Nazista estava desenvolvendo uma nova arma, muito mais perigosa do que qualquer outra já criada. Uma arma que utilizasse novos princípios, cujo real potencial não era totalmente conhecido.

Dada a desumanidade dos nazistas, aqueles físicos preferiam que outro país desenvolvesse aquela tecnologia. Assim, diversos cientistas enviaram uma carta aos Estados Unidos. O movimento foi tão forte que teve apoio até mesmo de Albert Einstein.

Entregue ao presidente Roosevelt, a carta pedia que os EUA iniciassem a pesquisa sobre a reação nuclear em cadeia.

Oppenheimer
Oppenheimer junto a Albert Einstein.

Assim, o enorme projeto secreto reuniu algumas das mentes mais brilhantes do mundo, vindas de diversos países diferentes, todos pensando, no curto prazo, em uma coisa: derrotar o nazismo. Alguns dos nomes envolvidos no programa são, além do Oppenheimer, Enrico Fermi, Hans Bethe, Niels Bohr, Richard Feynman.

Ao todo, meio milhão de pessoas trabalharam no projeto Manhattan.

Oppenheimer e bomba atômica

“Os cientistas não são delinquentes. Nosso trabalho mudou as condições em que os homens vivem, mas o uso que se faz dessas mudanças é problema dos governos, não dos cientistas”, disse Oppenheimer em uma ocasião segundo obituário do cientista publicado em 1967 pelo The New York Times.

O cientista também chegou a dizer: “Agora eu me tornei a Morte, o destruidor de mundos”.

Segundo um especialista ouvido pela BBC, Oppenheimer chegou a estar na alta cúpula de decisões até mesmo além do puro projeto da bomba.

“Oppenheimer ocupou um cargo de imensa responsabilidade e foi levado ao seu limite”, disse Alex Wellerstein, historiador especialista em armas nucleares à BBC.

“Ele se envolveu em decisões fundamentais sobre o projeto das bombas atômicas e esteve pessoalmente relacionado com as decisões sobre como essas bombas seriam utilizadas. Ele pleiteou que elas fossem usadas contra cidades e estava no comitê que decidiu onde exatamente as bombas seriam lançadas”, explica o especialista.

Pós Hiroshima e Nagasaki

Inicialmente, Oppenheimer demonstrou um grande arrependimento. Entretanto, com o tempo, ele demonstrou um certo distanciamento. Em 1961, chegou a dizer que não carregava peso em sua consciência em relação aos bombardeios de Hiroshima e Nagasaki.

Hiroshima antes e depois
Hiroshima após a bomba atômica e nos dias de hoje.

Em 1954, ocorreu uma destituição de sua autorização de segurança pela Comissão de Energia Atômica por uma suposta associação com comunistas. Seu irmão e sua esposa foram, em algum momento de suas vidas, filiadas a organizações comunistas, segundo a Atomic Heritage Foundation.

Durante a Segunda Guerra, entretanto, o maior inimigo não eram os comunistas, mas os nazistas. Por isso, durante aquele período, ele era útil. Mas a partir do momento que se estava na guerra fria, ter um suposto comunista na alta cúpula do governo não era bom para os americanos.

Em 1949, antes de ser destituído, ele ocupou o cargo de chefe de um comitê consultivo para a Comissão de Energia Atômica (AEC). Naquele ano, na posição, ele apresentou um relatório alertando contra o desenvolvimento de uma bomba de hidrogênio, ou termonuclear – muito mais potente do que uma bomba de fusão nuclear.

Ele chegou a chamar a bomba de hidrogênio de super bomba e disse que “Uma super bomba nunca deve ser produzida”.

Conforme já abordado pela SoCientífica, as explosões mais poderosas do mundo são soviéticas. Por um tempo, o desenvolvimento de uma bomba termonuclear foi pausada nos EUA. Mas foi retomada quando os soviéticos passaram a testar esse tipo de bomba.

Assim, a vida de Oppenheimer é muito complicada. Ele viveu em um momento muito polarizado, e o filme de Nolan pode trazer uma nova visão, talvez um pouco mais justa sobre o pai da bomba atômica.

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