A Lua está encolhendo, causando terremotos em um potencial local de pouso da NASA

Apesar de o perigo para os tripulantes espaciais ser considerado reduzido, o abalo tem a capacidade de provocar desmoronamentos de terra, o que poderia afetar futuras colônias estabelecidas na região polar sul da Lua.

Leandro da Silva Monteiro
Imagem: Pexels

Para nós aqui na Terra o encolhimento da Lua não produz efeitos significativos. Por outro lado, na superfície lunar, terremotos resultantes desse processo podem gerar problemas para futuras missões da NASA, em especial o pouso da Artemis III que deve ocorrer em 2026.

As evidências vêm de um artigo publicado mês passado no Planetary Science Journal, um estudo promovido pela própria NASA que observa as atividades sísmicas na região do polo sul lunar. Um dos co-autores, o geólogo Tom Watters, disse em uma entrevista recente que embora os terremotos ocorrem com frequência é importante levá-los em consideração principalmente com os planos para construir postos avançados na Lua.

As observações levantam três importantes perguntas: o que causa o encolhimento da Lua, como esse processo gera terremotos e quais são os riscos para as futuras missões da NASA em 2026?

Explicando os terremotos e o encolhimento da Lua

A primeira pergunta não é nenhum mistério para a ciência e também ajuda a responder a segunda. A Lua passa por um processo natural de resfriamento do seu núcleo que faz com que ela se contraia lentamente, algo em torno de 45 metros nos últimos milhões de anos. Porém o encolhimento da Lua não é a única consequência que esse resfriamento produz. A superfície precisa se adaptar à mudança de volume ao mesmo tempo que está sob constante efeito da força gravitacional da Terra. Isso acaba resultando na formação de falhas de empuxo que se estendem por metros acima da crosta lunar. 

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O Lunar Reconnaissance Orbiter da NASA encontrou essas falhas de impulso perto do pólo sul da lua. Imagem: Watters et al., The Planetary Science Journal , 2024, sob CC BY 4.0 DEED

As falhas criadas pelo encolhimento da Lua seriam as principais causas dos terremotos recentes que o estudo citado observou no polo sul do satélite. O monitoramento das atividades nessa região específica leva para a resposta da terceira e última pergunta.

Quais os riscos para as missões da NASA?

Artemis III será a primeira missão que levará humanos de volta à superfície lunar nos últimos 50 anos. Os primeiros testes ocorreram há alguns anos e a NASA planeja iniciar a missão em 2026. O lugar escolhido para o pouso da nave é justamente o polo sul, por isso existe um enorme interesse em se estudar o máximo possível da região e reduzir quaisquer potenciais riscos por conta dos tremores.

Vale destacar que existe uma diferença fundamental entre terremotos ocorridos na superfície terrestre e no seu satélite. Em geral, os terremotos lunares são muito mais “fracos” em escala. Com os dados coletados pelos sismómetros deixados décadas na Lua, os cientistas conseguiram identificar um terremoto de magnitude 5 ocorrido no polo sul. Na Escala Richter isso indica tremores que frequentemente não são sentidos e causam, no máximo, pequenos danos. 

Contudo, a gravidade da Lua é seis vezes menor do que a da Terra e assim qualquer objeto na sua superfície está muito mais vulnerável a qualquer forma de aceleração. Portanto, um terremoto de magnitude 5 terá um efeito consideravelmente maior nas regiões lunares, podendo acarretar danos aos equipamentos levados em futuras explorações.

Os cientistas dizem que os riscos são baixos e que isso não deve desencorajar nem frustrar os planos da NASA. Pelo contrário, contribuirão para melhorias no planejamento de missões, ainda mais as que visam uma permanência de longo-prazo em solo lunar. Além disso, os reais impactos desses terremotos ainda não são um consenso e existem estudos que apontam que talvez eles sejam menores do que se pensa. O importante é que mais dados sejam levantados para se ter uma maior compreensão da geologia lunar. Ainda não se pode afirmar quais são os lugares mais seguros para o pouso da Artemis III, mas o progresso está em andamento.

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