Crianças assintomáticas podem transmitir a malária aos mosquitos

Amanda dos Santos
(Imagem: Pixabay)

As crianças infectadas com malária tem o potencial de se tornarem ‘propagadores’, transmitindo o parasita para multidões de mosquitos locais. Mesmo que elas não desenvolvam os sintomas da doença, sugere um novo estudo.

Uma vez que essa doença é transmitida de humanos para mosquitos e vice-versa, ao invés de pessoa para pessoa, a descoberta é preocupante. Ou seja, se a malária não for tratada nessas crianças assintomáticas, os parasitas vão continuar circulando entre os mosquitos.

Detalhes do novo estudo sobre a malária

A nova pesquisa foi apresentada na reunião anual da Sociedade Americana de Medicina Tropical e Higiene (ASTMH). De acordo com esse estudo realizado em Uganda, mesmo um pequeno número de crianças infectadas pode transmitir os parasitas da malária para mosquitos. Por sua vez, o inseto infecta mais humanos.

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Mosquito em um ensaio de alimentação. (Teun Bousema e Chiara Andolina)

Em síntese, os pesquisadores concluíram que crianças assintomáticas entre 5 e 15 anos são a principal fonte de infecção de mosquitos locais na região que estudaram. Algumas das crianças foram chamadas de ‘superespalhadoras’, pois infectavam um número muito maior de mosquitos do que outras.

No experimento, os mosquitos se alimentaram com amostras do sangue de pessoas com a malária. Mais de 60% das infecções resultantes do mosquito conseguiram ser rastreadas até quatro crianças assintomáticas, duas em idade escolar. Ainda mais, os outros dois ‘superespalhadores’ tinham 3 e 4 anos. Só que as crianças nunca adoeceram e levavam uma vida normal com os parasitas, disse a autora principal Chiara Andolina.

Por enquanto, a malária está bem controlada na região que a equipe estudou. Mas se os esforços de controle cessarem ou falharem, essas crianças podem potencialmente alimentar um ressurgimento da doença na área.

Qual o pior tipo de infecção: de pessoas sintomáticas ou assintomáticas?

As infecções assintomáticas da malária representam 80% ou mais dos casos detectados por meio de exames abrangentes. Isto é, nas áreas onde a doença circula regularmente, disse a autora sênior Teun Bousema. Porém, os autores do estudo viajaram até o distrito de Tororo, em Uganda, para descobrir se a transmissão de pessoas assintomáticas é mais infecciosa do que de pessoas sintomáticas.

A malária já foi muito comum em Tororo. Mas, após anos de controle intensivo, as taxas de infecção despencaram. Entretanto, para eliminar essa doença completamente, é necessário encontrar e limpar todos os esconderijos restantes do parasita.

Portanto, ao longo do estudo, a equipe detectou 148 episódios de malária – 38 sintomáticos e 110 assintomáticos. Os pesquisadores realizaram 540 experimentos de alimentação dos mosquitos com sangue de 107 pessoas infectadas.

Posteriormente, a equipe dissecou os mosquitos alimentados para ver quantos foram infectados. O resultado: a grande maioria das infecções estava ligada ao sangue de pessoas assintomáticas. Ao todo, o sangue de pessoas sintomáticas infectou apenas 0,6% do total de mosquitos infectados.

Concluindo, essa tendência se deve, em parte, ao fato de as pessoas sintomáticas procurarem rapidamente tratar a malária, disseram os autores. Ou seja, antes de desenvolverem a capacidade de transmitir, crianças e adultos tinham atendimento médico e já recebiam tratamento.

Logo, o desafio é evitar a cadeia de transmissão de um assintomático, disse Bousema. Informações publicadas na Science Alert.

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