Jovem é curada de lúpus após terapia imunogenética experimental

Mateus Marchetto
Imagem: Michael Rabenstein/ Universidade-Hospital de Erlangen)

Uma jovem, diagnosticada com lúpus eritematoso sistêmico (LES) recebeu, em março de 2021, uma terapia imunogenética experimental como último recurso de seu tratamento. Seis meses depois, a jovem de 20 anos chamada Thu-Thao V está completamente curada dos sintomas, sem sinais de reincidência da doença.

Thu-Thao V tinha ainda 16 anos quando teve os primeiros sintomas do lúpus. A doença, assim como a artrite e a esclerose, por exemplo, é autoimune. Ou seja, uma disfunção no sistema imune faz com que as células de defesa do corpo ataquem os próprios tecidos do paciente.

No caso do LES, os linfócitos B passam a produzir anticorpos contra as células do coração, rins e da pele, principalmente. A doença impedia Thu-Thao V, por exemplo, de praticar atividades físicas, devido a dores nas juntas e palpitações. Em muitos casos, aliás, o lúpus pode ser fatal.

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Doenças autoimunes frequentemente causam dores severas nas articulações, como a artrite – que é mais incidente na população idosa. Imagem: PeachMoon / Pixabay 

Assim, médicos da Universidade-Hospital Erlangen resolveram tentar uma terapia imunogenética experimental, usada para alguns tipos de câncer, para combater o LES de Thu-Thao V. Vale ressaltar, ademais, que todos os tratamentos tradicionais para o lúpus haviam falhado no caso da jovem, como a hidroxicloroquina, esteroides e mesmo outra terapia imunogenética baseada nas células B.

Agora, após seis meses desde a aplicação do tratamento, a jovem pode praticar esportes, dormir melhor e teve uma diminuição significativa das palpitações e retenção de líquidos. De acordo com os médicos, Thu-Thao V não apresenta nenhum sinal de reincidência da doença.

Como funciona a terapia imunogenética experimental

A terapia imunogenética usada no caso de Thu-Thao V, originalmente, tem sido usada para combater tipos agressivos de câncer, como leucemias e linfomas. O Receptor Quimérico de Antígeno de células T (do inglês, chimeric antigen receptor T-cell ou CAR T cell) se baseia em modificar geneticamente as células T de um paciente.

Ou seja, os médicos coletaram as células T (também parte do sistema imune) da jovem, e as editaram geneticamente no laboratório. Essa edição tem por objetivo fazer com que estas células passem a destruir ou inativar um alvo específico no corpo.

Como Thu-Thao V tinha um tipo de célula B que estava causando o lúpus, os pesquisadores programaram as células T para atacar as parentes disfuncionais. Assim, as células B com anticorpos autoimunes passavam por uma inativação pelas células T geneticamente modificadas.

Evidentemente, o processo todo parece mais fácil do que realmente foi. Mesmo os médicos afirmam, em uma declaração, que a aplicação da técnica foi um último recurso, já que nada mais havia funcionado.

Com os resultados impressionantes obtidos, por conseguinte, a equipe de médicos e pesquisadores agora busca iniciar testes clínicos para o tratamento em pessoas com lúpus sistêmico. Essa doença, aliás, atinge principalmente mulheres jovens e é considerada pouco incidente na população, com uma média de 50 casos a cada 100.000 pessoas no planeta.

Mesmo com a baixa incidência, contudo, os médicos de Thu-Thao V afirmam que novas terapias são essenciais para a doença, que pode causar problemas significativos na qualidade de vida e na saúde de um paciente.

O estudo de caso está disponível no periódico The New England Journal of Medicine.

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