Cientistas reconstroem face de “vampiro” do século 19

Daniela Marinho
Cientistas recriaram face de "vampiro" do século 19 por meio de DNA. Imagem: Parabon Nanolabs, Virginia Commonwealth University

Até hoje, a figura do famoso vampiro Conde Drácula e as características eternizadas pelo personagem, como a transformação em morcego, são indissociáveis do imaginário de várias gerações. Quando Bram Stoker, autor irlandês, escreveu o romance de terror e suspense gótico, “Drácula“, publicado em 1897, certamente ele não tinha ideia da proporção que sua obra ia tomar. Três décadas após o lançamento, o livro foi adaptado para o cinema, ganhando ainda mais popularidade. O filme tornou-se um dos maiores fenômenos do gênero, ultrapassando o sucesso de obras anteriores.

Desse modo, a realidade parece se confundir com a ficção quando as pessoas passaram pelo grande pânico vampiro da Nova Inglaterra no século 18. No período, 200 anos após os julgamentos das bruxas de Salem, os fazendeiros se convenceram de que seus parentes, sobretudo crianças, estavam voltando dos túmulos para se alimentar dos vivos.

Nesse contexto, em 1990, crianças que brincavam em Griswold, Connecticut, tropeçaram em um cemitério que não possuía identificação. Ao investigar o local, os arqueólogos ficaram interessados numa sepultura em específico.

Face de “vampiro” é reconstituída

A sepultura despertou interesse dos arqueólogos não por acaso: em seu interior, foram encontrados os ossos do fêmur de um homem do século 19, removidos e cruzados sobre o peito. O arranjo indica que os moradores da região podem ter acreditado que ele era um vampiro.

Isso porque vários anos após sua morte, eles o exumaram para evitar que ele prejudicasse os vivos, corroborando com as ideias que se tinham acerca de tais crenças. No entanto, o homem não era um vampiro.

Foi apenas em 2019 que os pesquisadores conseguiram finalmente identificar de quem eram os restos mortais encontrados: não eram do “vampiro que assombrava os vivos” naquela época, mas sim de um fazendeiro chamado John Barber, de 55 anos, cuja causa da morte foi a tuberculose, muito comum no período em que ele esteve vivo e conhecida também por “peste branca”.

Recentemente, uma equipe de cientistas forenses revelou uma imagem que descreve como Barber poderia ter sido fisicamente. Com riqueza de detalhes, os cientistas recriaram a imagem do “vampiro”.

Processo de reconstrução

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Restos esqueléticos de “JB-55”, o “vampiro” do século 19 no Museu Nacional de Saúde e Medicina em Silver Spring, Maryland. Imagem: Tech. Sargento Robert Trujillo / Sistema de Exame Médico das Forças Armadas

O projeto de reconstrução foi uma colaboração entre a Parabon NanoLabs e o Laboratório de Identificação de DNA das Forças Armadas. Os resultados da pesquisa foram divulgados na primeira semana de novembro numa importante conferência forense que ocorre todos os anos – o Simpósio Internacional de Identificação Humana em Washington, DC.

De acordo com uma análise de DNA, os pesquisadores conseguiram prever que Barber tinha olhos castanhos, cabelos castanhos ou pretos e pele clara. Com as previsões, e uma imagem 3D do crânio, um artista forense conseguiu reconstruir o rosto do homem.

Histeria em massa

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Enterrar “vampiros suspeitos” com as pernas cruzadas para que não pudessem ressuscitar dos mortos era uma prática comum. Imagem: MDPI, Basel, Suíça

Barber não foi vítima apenas da tuberculose. No século 19, a Nova Inglaterra passava pelo surto da doença, mas também pela histeria em massa da população que acreditava na existência de vampiros.

Em comunicado, a Parabon disse que “Comunidades atingidas por epidemias recorreram ao folclore para obter explicações […] Eles frequentemente culpavam o vampirismo pela mudança na aparência, comportamento errático e mortes de seus amigos e familiares que na verdade sofriam de doenças como porfiria, pelagra, raiva e tuberculose.”

Extração de DNA dos ossos

Extrair DNA dos ossos é um verdadeiro desafio para os cientistas. Ellen Greytak, diretora de bioinformática da Parabon, revelou que “A tecnologia não funciona bem com ossos, especialmente se esses ossos forem históricos […] Quando os ossos envelhecem, eles se quebram e se fragmentam com o tempo. Além disso, quando restos permanecem no ambiente por centenas de anos, o DNA do ambiente de coisas como bactérias e fungos também acaba na amostra. Queríamos mostrar que ainda podíamos extrair DNA de amostras históricas difíceis.”

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