Um importante judeu traiu Anne Frank e denunciou sua família

Letícia Silva Jordão
Imagem: Fotografia de Anne Frank na escola em que foi matriculada em Amsterdã, por volta de 1940

O Diário de Anne Frank é um dos livros mais lidos do mundo e conta com detalhes de como era a vida dos refugiados judeus durante a Segunda Guerra Mundial. O dia 1º de agosto de 1944 foi o último dia em que ela escreveu em seu diário, onde finalizou dizendo “continuo tentando encontrar a maneira de ser como desejo ser, e como poderia ser, se… se não houvesse mais ninguém vivo neste mundo…”.

Depois desse dia, a Polícia de Segurança Alemã foi informada sobre o endereço em que os Franks estavam, e acabou invadindo o local e levando todos para Auschwitz, o mais famoso campo de concentração alemão da Polônia. Mas, anos depois do ocorrido, ainda ficou a dúvida de quem traiu Anne Frank e sua família divulgando o endereço de seu esconderijo.

Anne Frank
Flickr

Quem afinal traiu Anne Frank?

Estudiosos e o público discutem há tempos sobre a identidade da pessoa que traiu Anne Frank, sua família e os outros moradores do esconderijo chamado Anexo Secreto. Mas, uma investigação de 6 anos, liderada pelo agente aposentado do FBI Vince Pankoke, mostrou que eles podem ter encontrado o possível informante do endereço do abrigo.

O informante seria Arnold van den Bergh, um judeu relevante na época que pode ter revelado onde ficava o esconderijo dos Frank em uma lista que continha o endereço de diversos judeus fugitivos. O principal motivo para Arnold ter divulgado essa lista aos nazistas foi exclusivamente para proteger a própria família de um destino cruel que os judeus estavam enfrentando na época.

“Não há evidências para indicar que ele sabia quem estava escondido em qualquer um desses endereços”, diz Pankoke “[Mas] quando van den Bergh perdeu toda a sua série de proteções que o isentava de ir aos campos, ele teve que fornecer algo valioso aos nazistas com quem teve contato para que ele e sua esposa ficassem seguros naquele momento.”

A principal evidência da investigação

O caso da Família Frank foi investigado por uma equipe diversificada, que contava com Pankoke, um psicólogo investigativo, um investigador de crimes de guerra, historiadores, criminologistas e arquivistas. Para realizar a investigação, a equipe contou com recursos de big data e análise de inteligência artificial para poder encontrar a pessoa que traiu Anne Frank.

A investigação, que foi narrada com detalhes no livro The Betrayal of Anne Frank: A Cold Case Investigation de Rosemary Sullivan, contou com 30 suspeitos em 20 cenários diferentes até chegar no Arnold van den Bergh, que se provou ser o traidor mais provável por conta de uma nota enviada a Otto Frank quando retornou a Amsterdã em 1945.

A nota não possuía assinatura mas somente uma mensagem que dizia que van den Bergh era a pessoa que denunciou o esconderijo aos nazistas. Essa nota chamou a atenção de investigadores em 1963, mas não recebeu muito interesse na época. A equipe conseguiu encontrá-la depois de entrar em contato com o filho de um dos investigadores.

Uma figura trágica, mas não um vilão

Essas foram as palavras de Rosemary Sullivan em seu livro, onde ela completa dizendo que “procuramos um criminoso e encontramos uma vítima”. Arnold van der Bergh forneceu a lista aos nazistas para manter ele e a família fora dos campos de extermínio. “Era uma lista anônima de endereços — não havia nomes. Ele não estava traindo Otto Frank” diz a biógrafa.

Mesmo encontrando um possível culpado, algumas pessoas ainda não concordam totalmente com o desfecho da situação. O diretor da Casa de Anne Frank, Ronald Leopold, apontou que existem algumas peças do quebra cabeças que faltam, fazendo com que o mistério não tenha sido totalmente resolvido.

Anne Frank
Flickr

Erik Sommer, historiador do NIOD Institute for War, Holocaust and Genocide Studies, vai na mesma linha e critica a profundidade da investigação, dizendo que van der Bergh era um homem muito influente e poderia ter evitado a sua deportação diversas vezes.

Aceitando ou não a conclusão, fato é que se van der Bergh for realmente a pessoa que traiu Anne Frank e sua família, Sullivan defende que ele não é uma pessoa que deva ser julgada já que estava em uma posição difícil na época, onde muitos no lugar dele fariam o mesmo.

Compartilhar