O estranho caso das preguiças encontradas em banheiro de centro de pesquisa

Milena Elísios
(Imagem: Heymann et al., Mammalian Biology, 2011)

Preguiças são animais lindos e enigmáticos, elas passam a maior parte do tempo penduradas de cabeça para baixo nas árvores, tem um tom esverdeado em sua pelagem e desfrutam de uma dieta herbívora de folhas, flores, frutas, cascas e brotos. Mas um caso, no mínimo curioso, aconteceu em um sanitário de um centro de pesquisas no meio da amazônia peruana.

No meio da floresta amazônica, que é lar da preguiça de dois dedos (Choloepus didactylus), há uma estação de pesquisa chamada Estación Biológica Quebrada Blanco (EBQB), que está em uso contínuo desde 1997. Em uma noite no início de novembro de 2001, os cientistas viram pela primeira vez algo nunca observado antes: havia uma preguiça pendurada nas barras de madeira sobre o vaso sanitário.

“Ele estava pegando com uma mão o esterco semi-líquido composto de fezes e urina, e depois comendo.”, escreveu uma equipe de pesquisadores em um artigo de 2011.

Quando mais pesquisadores foram se aproximando, a preguiça então escalou as grades e subiu na árvore mais próxima.

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No fim das contas, os cientistas do posto avançado documentaram mais 26 casos de preguiças comendo excrementos humanos, direto do banheiro. (Imagem: Heymann et al., Mammalian Biology, 2011)

Esse estranho ocorrido poderia ter sido descartado, visto como uma preguiça doente se comportando de maneira incomum, se não tivesse se repetido. Com o tempo, mais e mais preguiças voltaram a surgir de dentro do vaso sanitário. Os cientistas do posto avançado documentaram mais de 26 casos de preguiças comendo excrementos humanos, direto do banheiro.

Os animais sempre vinham à noite – de acordo com seus hábitos noturnos – e mais frequentemente quando chovia. Eles emergiam do banheiro ensopado e voltavam lentamente para a floresta, geralmente sozinhas. Mas também foi flagrada uma preguiça fêmea com um filhote pendurado em seu pelo.

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Uma preguiça fêmea e seu filhote foi saindo do sanitário e indo em direção à floresta. (Imagem: Heymann et al., Mammalian Biology, 2011)

Esses acontecimentos levantam um questionamento: por que as preguiças – que nunca foram observadas comendo nada além de plantas na natureza – faziam isso?

Uma possível resposta pode estar em outros animais que comem excrementos, uma prática chamada coprofagia. Isso inclui roedores e lagomorfos, como coelhos; e, em menor grau, cães, potros, leitões e primatas não humanos. Esse comportamento também foi observado em salamandras de cavernas. E o motivo aparenta ser o fornecimento de nutrientes ou um meio de digerir os nutrientes.

Observe o exemplo dos coelhos, que não conseguem absorver os nutrientes efetivamente na primeira passagem, por isso precisam digeri-los duas vezes. As mães coala alimentam seus filhotes com um tipo especial de cocô para preparar o sistema digestivo para a transição de leite para folhas eucalipto. As salamandras das cavernas podem comer fezes de morcego como alternativa quando os alimentos são escassos.

Os pesquisadores acreditam que poderia haver algum nutriente ou mineral nos banheiros que era atraente para as preguiças. Sódio, por exemplo, que muitas vezes carece de uma dieta frondosa; ou até mesmo proteína, encontrada nos vermes se contorcendo na lama. Entretanto, essa prática poderia ter sido perigosa para os animais – a transmissão de bactérias nocivas e outros parasitas de humanos para preguiças. A partir daí, eles poderiam se espalhar para outras populações animais.

Mas, em 2007 os pesquisadores puseram fim às invasões ilícitas de banheiros. Eles cercaram a latrina com malha de arame, de foma que as preguiças não conseguiam passar. E bem, é melhor assim.

Um estudo sobre o estranho comportamento das preguiças foi publicado em 2011 na Mammalian Biology.

FONTE / Science Alert

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