Plasticose: nova doença causada pelo plástico descoberta em aves marinhas

A plasticose causa um enrijecimento nos tecidos da vítima e pode até mesmo matá-la de fome.

Felipe Miranda
As pardelas-de-patas-rosadas são aves mais contaminadas por plástico do mundo. Imagem: Brian Gratwicke

Os microplásticos estão por todos os oceanos do planeta, e são um enorme problema para nós. Eles já contaminaram os peixes, os corais, a água, os diversos e inúmeros animais marinhos que habitam os oceanos do planeta, e nós: há a detecção da presença de micropláticos em nosso sangue e na placenta humana.

Agora, uma nova doença está afligindo as aves marinhas: a plasticose é uma doença causada não por bactérias, vírus ou protozoários, mas simplesmente pelo plástico. O plástico no corpo dessas aves marinhas está surtindo efeito, demonstrando ainda mais o grande vilão que a humanidade criou com a exploração inconsequente da natureza.

A descoberta da doença ocasionada pela presença dos microplásticos nos tecidos das aves marinhas foi publicada em um estudo no periódico Journal of Hazardous Materials.

“Embora essas aves possam parecer saudáveis por fora, elas não estão indo bem por dentro”, disse em um comunicado do Museu de História Natural em Londres o Dr. Alex Bond, coautor do estudo e o principal e curador responsável pelas aves no Museu.

“Este estudo é a primeira vez que o tecido estomacal foi investigado dessa maneira e mostra que o consumo de plástico pode causar sérios danos ao sistema digestivo dessas aves”, explica o pesquisador.

O que é a plasticose?

“Como a biota está cada vez mais exposta à poluição plástica, há uma necessidade de examinar de perto os impactos “ocultos” subletais da ingestão de plástico”, explicam os pesquisadores no estudo. Os pesquisadores relatam que “a extensão e a gravidade da fibrose documentadas neste estudo dão suporte para uma nova doença fibrótica induzida por plástico, que definimos como “Plasticose””.

A plasticose é uma doença fibrótica – quando grandes quantidades excessivas de cicatrizes ocorrem por uma dificuldade de cicatrização normal do corpo por uma inflamação na área.

Após ocorrer diversas vezes, a inflamação ocasiona uma quantidade excessiva de tecidos da cicatrização das feridas. Dessa forma, os tecidos da área perdem sua flexibilidade. Comumente, o tecido de uma cicatriz já tende a ser mais grosso e menos elástico do que o restante dos tecidos – mas no caso da plasticose, os efeitos citados tornam isso ainda mais presente.

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Imagem: Charlton-Horward et al

Os pesquisadores encontraram o problema ao estudar as pardelas-de-patas-rosadas, ou Ardenna carneipes, em seu nome científico. Vivendo a 600 quilômetros da costa da Austrália, na ilha de Lord Howe, elas são as aves mais contaminadas por plástico em todo o mundo.

Ao estudar as aves, os pesquisadores encontraram problemas generalizados no trato digestivo das aves. Isso levou os pesquisadores a classificar o problema como uma doença.

“As glândulas tubulares, que secretam compostos digestivos, são talvez o melhor exemplo do impacto da plasticose”, explica Alex no comunicado. “Quando o plástico é consumido, essas glândulas ficam gradualmente mais atrofiadas até que eventualmente perdem sua estrutura tecidual inteiramente nos níveis mais altos de exposição”.

Com a perda das glândulas, as aves ficam ainda mais vulneráveis a parasitas e a infecções que possam afetar a capacidade de absorção de vitaminas. Além disso, a doença também causa um enrijecimento nos tecidos do estômago das aves, o que torna-os menos flexíveis e elimina boa parte da eficácia do estômago na absorção dos alimentos. Em casos extremos, à doença pode levar as aves a morrer de fome.

“Nossa equipe de pesquisa já analisou como os microplásticos afetam os tecidos”, explica Alex. “Encontramos essas partículas em órgãos como o baço e o rim, onde estavam associadas a inflamação, fibrose e perda completa de estrutura”.

Os pesquisadores estudaram, até o momento, especificamente as pardelas-de-patas-rosadas. No entanto, possivelmente outras espécies de animais possam estar sendo afetados pelo problema, já que os microplásticos são um problema altamente recorrentes no mundo.

A mancha do homem no planeta está se demonstrando bastante pior do que costumamos pensar.

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