Narluga: conheça este híbrido de narval com beluga

Ruth Rodrigues
Ilustração de uma Narluga. (Guido Gerding)

Na baía de Disko, localizada na parte ocidental da Groelândia, cientistas descobriram um crânio bastante incomum. Esse acontecimento ocorreu há quase 30 anos, mais precisamente, no dia 30 de março de 1990. Porém, não foi nessa ocasião que os seres humanos observaram um híbrido pela primeira vez. Antigos caçadores, que eram conhecidos como Inuits, já tinha uma breve noção acerca do cruzamento de narval com beluga, resultando em uma Narluga.

A morfologia híbrida da Narluga segundo os Inuits

De acordo com esses antigos caçadores, toda a parte anatômica do animal compreende ambas as origens, tanto da beluga, quanto de narval. Dessa forma, quando algum osso era encontrado, a tendência era sempre achar que pertencia a uma espécie ou outra.

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Suas barbatanas peitorais são iguais as de beluga, enquanto a sua cauda, se assemelha com as da narval. Durante a realização de uma pesquisa, Skovrind et al. (2019) puderam assegurar que um macho Narluga nasceu após o acasalamento entre um macho beluga e uma fêmea da espécie narval.

crânio do híbrido de narluga
Modelos 3D do crânio de Beluga, Narval e Narluga. Fonte: Markus Bühler (crânio do híbrido), NOAA (Beluga), Encyclopedia of Marine Mammals (Narval)

O crânio que foi encontrado, é a prova física e única que essas duas espécies realmente conseguem se reproduzir. Ela está localizada no Museu de História Natural da Dinamarca (NHMD), em Copenhague. Para estudarem de forma mais profunda o crânio que fora descoberto, os pesquisadores criaram moldes em 3D, utilizando diferentes dispositivos.

Com o auxílio de uma câmera fotográfica, os cientistas puderam fotografar inúmeras imagens, e assim, inseri-las em um banco de dados para realizar as devidas comparações. No crânio em 3D foram colocados pontos de referências, ou seja, os locais que esse híbrido possui de semelhante com os seus progenitores.

Como ocorre o acasalamento entre essas espécies?

Tanto a beluga quanto os narvais podem ser encontrados habitando no Ártico. O encontro entre ambas as espécies ocorre tanto devido ao processo migratório durante o inverno, quanto ao fato das mudanças climáticas que assolham a região da Baía. Portanto, até o momento, o único local conhecido em que o acasalamento pode acontecer é na Baía de Disko.

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Acerca dos cetáceos, sabe-se que esses possuem um total de 44 cromossomos em cada célula. Somente 7 espécies conhecidas possuem um número inferior aos demais, perfazendo um total de 42 cromossomos. Essa é um tópico que merece um olhar mais atento e estudos mais profundos, uma vez que é graças a ele, que esses mamíferos possuem mais híbridos que os demais.

crânio em 3d de um híbrido
Filmagem do espécime híbrido em modelo 3D (MCE 1356). Fonte: Museu de História Natural da Dinamarca (NHMD)

Mesmo existindo em torno de 57 casos de hibridização envolvendo animais marinhos, a Narluga ainda assim é um exemplar único. Os cientistas ainda precisam aprofundar mais acerca desse híbrido, para que possamos compreender um pouco mais sobre seu modo de viver, reproduzir e até mesmo sua morte.

Quanto a sua fertilidade, nada ainda ficou muito esclarecido, tendo em vista que o crânio encontrado da Narluga pertence a primeira geração de híbridos envolvendo essas duas espécies. A única informação obtida até o momento, é que o crânio pertencia a um animal já adulto, pois foi observado a fusão dos ossos no bico.

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