Montanhas de Plutão possuem estranhas nevascas de metano

Felipe Miranda
(NASA/JHUAPL/SwRI and Ames Research Center/Daniel Rutter)

Há rios de metano em Titã, já que é um local muito mais frio e com uma atmosfera mais densa que a da Terra. Mas Plutão já sobe um nível. O planeta anão possui nevascas de metano, como descobriu a sonda New Horizons, que visitou Plutão em 2015. Mas essa não é a parte mais estranha.

Antes da New Horizons, sabíamos muito pouco sobre o distante ex-planeta. Mas a sonda revelou uma enorme e linda complexidade presente na superfície de plutão. As dinâmicas do clima criam lindas paisagens, cheias de formas e cores, além de inúmeros processos exóticos.

Um estudo, publicado recentemente na revista Nature Communications, revelou que o processo de deposição de neve é completamente inverso ao que ocorre na Terra.

Estranho Plutão

Lindas as paisagems das montanhas de plutão, assustadoramente parecidas com as da Terra. “É particularmente notável ver que duas paisagens muito semelhantes na Terra e em Plutão podem ser criadas por dois processos muito diferentes”, diz em um comunicado Tanguy Bertrand, autor principal do estudo e pesquisador da NASA.

“Embora teoricamente objetos como a lua de Netuno, Tritão, possam ter um processo semelhante, nenhum outro lugar em nosso sistema solar tem montanhas cobertas de gelo como esta além da Terra”, explica o pesquisador sobre o fenômeno.

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(NASA/Johns Hopkins University Applied Physics Laboratory/Southwest Research Institute, Thomas Pesquet/ESA)

Não sabia-se, inicialmente, se aquilo era metano puro, ou uma mistura de metano com nitrogênio. Na Terra, ambos os elementos são gases. No entanto, Plutão esfria mais do que a Terra. Então, naturalmente, os gases tornam-se líquidos e sólidos. Os cientistas. então, analisaram cuidadosamente  os dados em alta resolução e perceberam que é praticamente metano puro.

Ao Space.com, Bertrand descreve as montanhas cheias de gelo como “muito parecidos com cadeias de montanhas cobertas de neve vistas na Terra”. Ele ainda diz: “Tal paisagem nunca foi observada em nenhum outro lugar do sistema solar”.

Os cientistas acreditavam, inicialmente, que por se tratar de um gás residual, assim como o vapor de água para a Terra, o fenômeno que causava a formação da neve fosse o mesmo do que na Terra. Mas é um pouco mais complicado.

Nevascas na Terra

Você sabe que quando mais alto, mais frio, certo? Isso ocorre porque quanto mais alto estamos, mais rarefeita é a atmosfera. Portanto, nas regiões mais rarefeitas, a atmosfera segura menos calor do que nas regiões mais densas – na superfície. Além disso, há o resfriamento resultante da expansão do ar em movimentos ascendentes.

Dessa forma, ao evaporar, a água sobe e condensa, formando as nuvens. Em locais mais quente, a condensação gera a chuva. Em locais mais frios, a água condensada transforma-se em neve. É por isso que o topo de montanhas.

Vamos utilizar como exemplo o Kilimanjaro, uma montanha na Tanzânia. A Tanzânia localiza-se na África, em uma região muito próxima à linha do equador. Portanto, ocorrem temperaturas altas por lá, assim como no nordeste brasileiro. Mas o Kilimanjaro possui neve em seu pico. Isso ocorre porque ele possui quase 6 km de altitude, e lá no topo é extremamente frio.

Nevascas de metano

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(Tanguy Bertrand et al)

Já em Plutão, o fenômeno é inverso. O metano se concentra nas altas altitudes do planeta. E o metano é um poderoso gás de efeito estufa. Portanto, o calor é mais retido nas regiões mais altas de Plutão. Então, sim, o topo de uma montanha por lá é mais quente do que a superfície.

Em altitudes mais baixas, o metano poderia condensar, mas a concentração é baixa de mais. Próximo ao topo das montanhas, o metano condensar, mas não forma nuvens. Na verdade, ele condensa e se deposita diretamente nas montanhas, formando, assim, os depósitos de neve. As nevascas de metano não “caem”, apenas se formam.

“Plutão é realmente um dos melhores laboratórios naturais que temos para explorar os processos físicos e dinâmicos envolvidos quando compostos que regularmente fazem a transição entre os estados sólido e gasoso interagem com uma superfície planetária”, diz Bertrand.

O artigo científico foi publicado no periódico Nature Communications. Com informações de NASA e Space.com.

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