Mercado de carbono no Brasil pode finalmente se tornar real

De acordo com estudos realizados pela McKinsey, o Brasil é identificado como detentor de aproximadamente 15% do potencial global de captura de carbono por meio de soluções baseadas na natureza

Daniela Marinho
Imagem: Canva

O mercado de carbono é um sistema que visa reduzir as emissões de gases de efeito estufa (GEE) incentivando empresas, governos e organizações a limitar suas emissões e/ou investir em projetos de mitigação de emissões. Funciona através da compra e venda de créditos de carbono, onde cada crédito representa uma tonelada métrica de dióxido de carbono (CO2) equivalente que foi reduzida ou removida da atmosfera.

Nesse contexto, fazendas e empresas estão se articulando em conjunto para tornar real o mercado de carbono, sobretudo no Brasil. No cenário global, a projeção é de que os projetos relacionados possam impulsionar negócios estimados em R$ 5,4 bilhões por ano.

O mercado de REDD+

Francisco Higuchi, doutor em ecologia e manejo de florestas tropicais, é reconhecido como um dos profissionais mais gabaritados do país em questões de mercado de carbono.

Desse modo, Higuchi contextualiza que “O mercado de REDD+ (redução de emissões por desmatamento e degradação florestal) teve dois grandes momentos, de 2008 até 2014/15 e depois reaqueceu com muita força no fim de 2018/19. O Protocolo de Kyoto e o Acordo de Paris (resultados complementares das Conferências das Partes de 1997 e 2015) tiveram papel importante nos dois momentos […] O mercado continua muito interessado, porque essa questão do clima é uma realidade que os países desenvolvidos estão levando muito a sério.”

Brasil já conta com investimento francês com vista ao mercado de carbono

No cenário atual do Brasil, há um investimento importante com o objetivo de remover uma considerável quantidade de CO2 da atmosfera até 2030. Esta meta está alinhada com os compromissos globais estabelecidos nas recentes Conferências das Partes (COPs) para combater as mudanças climáticas.

A empresa francesa NetZero, especializada em tecnologias verdes, está à frente dessa iniciativa, e seu principal produto é o biochar.

O biochar é um material poroso semelhante a uma esponja, fabricado por meio de um processo conhecido como pirólise, no qual resíduos agrícolas são aquecidos em altas temperaturas sem oxigênio. Esse método permite a concentração do carbono presente na matéria orgânica.

Uma vez produzido, o biochar pode ser enterrado no solo, onde atua como um reservatório de carbono, contribuindo assim para a remoção do CO2 da atmosfera.

Além disso, o biochar demonstra ser um excelente absorvente de água e nutrientes, favorecendo o crescimento das plantas. Sua aplicação única pode substituir várias doses de fertilizantes convencionais.

Com sede em Paris, a NetZero está direcionando recursos significativos, aproximadamente R$ 20 milhões, para implementar essa tecnologia no Brasil. As operações estão em andamento em Brejetuba, no estado do Espírito Santo, e em Lajinha, em Minas Gerais.

O projeto teve início com um piloto bem-sucedido em Camarões, na África, que recebeu certificação há aproximadamente um ano. Esse investimento demonstra um compromisso substancial da empresa em enfrentar os desafios das mudanças climáticas, ao mesmo tempo em que promove o desenvolvimento sustentável e a inovação tecnológica.

Crédito de carbono

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Olivier Reinauld (à frente), da NetZero, e o CEO da green tech no Brasil, Pedro de Figueiredo. Imagem: Divulgação / NetZero

Olivier Reinaud, um dos quatro sócios da NetZero destaca que a simples produção do insumo não seria suficiente para sustentar o negócio por si só. O verdadeiro impulso para o sucesso da empresa vem da oportunidade de comercializar os créditos de carbono gerados pelo produto, por meio da redução das emissões de poluentes.

Cada tonelada de biochar produzida resulta na evitação de aproximadamente 1,5 tonelada de CO2 na atmosfera, o que representa uma valiosa oportunidade de negócio.

A NetZero já estabeleceu uma base de clientes na Europa interessados em adquirir esses créditos de carbono, e a demanda supera a oferta disponível. “Hoje, o crédito de carbono de alta qualidade que produzimos interessa sobretudo a empresas americanas e europeias. Um dia será o Brasil, mas por enquanto, no país, nosso interesse é somente vender o biochar”, diz Reinaud.

Em 2023, o mercado de carbono registrou uma movimentação significativa, totalizando US$ 1,1 bilhão (equivalente a cerca de R$ 5,4 bilhões na taxa de câmbio atual), de acordo com dados fornecidos pela consultoria especializada Trove Research, que tem sede em São Paulo.

Nesse mesmo período, aproximadamente 277 milhões de toneladas de créditos de carbono foram certificados, destacando o crescente interesse e participação nesse mercado.

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