Descobertas de Louis Pasteur ainda estão salvando vidas

Daniela Marinho
Louis Pasteur foi um pioneiro em química, microbiologia, imunologia e vacinologia. Imagem: Getty Images

Em tempos de Covid-19 e doenças infecciosas reemergentes, como a poliomielite e a varíola, o legado de Louis Pasteur é inevitavelmente inspirador. Isso porque Pasteur é considerado o microbiologista mais importante do mundo, amplamente conhecido por inventar o processo de pasteurização para preservar alimentos.

Além disso, Pasteur — que viveu de 1822 a 1895 — é creditado pela teoria do germe e por ter desenvolvido vacinas contra a raiva e antraz, uma doença infecto-contagiosa de origem animal, conhecida popularmente por peste da Manqueira ou mal de ano.

O início do legado de Louis Pasteur

Mesmo após dois séculos, as descobertas médicas de Louis Pasteur [no século XIX] ainda salvam vidas. Mas para chegar até elas, Pasteur percorreu um caminho deveras interessante, iniciando seus trabalhos na área da química.

Durante o tempo em que Pasteur estudou com o químico francês Jean-Baptiste-André Dumas, seu maior interesse foi pela origem da vida, trabalhando no campo da cristalografia e luz polarizada.

Alguns meses após receber seu doutorado, em 1848, o gênio descobriu que os cristais ocorrem em formas de imagem espelhada, uma forma conhecida como quiralidade. A descoberta tornou-se a base da estereoquímica, uma subdisciplina da química que consiste no estudo do arranjo espacial dos átomos dentro das moléculas. O descobrimento foi na época uma hipótese revolucionária, como era de se esperar.

Teoria dos germes

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Uma ilustração de Louis Pasteur, à direita, supervisionando a administração da vacina contra a raiva no Instituto Pasteur em Paris em 1886. Imagem: Biblioteca do Congresso/Arquivos provisórios via Getty Images

No século XIX, a cerveja e o vinho eram essenciais para a economia da França. Nesse sentido, a noção científica de geração espontânea afirmava que a vida poderia surgir de matéria inanimada — o que seria a causa pela deterioração do vinho.

Em 1745, o biólogo inglês John Turberville Needham criou um experimento para mostrar que os micro-organismos podiam crescer nos alimentos mesmo após fervidos, corroborando com a teoria da geração espontânea. Contudo, Louis Pasteur refutou o experimento e criou um novo método, só que dessa vez com a cultura esterilizada e materiais livre de contaminação.

Pasteur usou seus famosos frascos com pescoço de cisne. Por meio do experimento, ele não apenas refutou a teoria da geração espontânea, como demonstrou que os micro-organismos estavam por toda parte. Por esse motivo, a comida e o vinho estragavam, pois eram contaminadas por bactérias invisíveis e não por geração espontânea, foi então que nasceu a teoria moderna do germe da doença.

Vacinação

Pasteur também teve grande participação no processo de vacinação que se conhece hoje. Ainda na década de 1860, ele desenvolveu um processo perspicaz que consistia em examinar os ovos do bicho-da-seda e preservar os saudáveis. Mais tarde, Louis Pasteur se tornou uma espécie de herói francês.

Depois, em 1878, ele conseguiu cultivar a bactéria causadora da doença aviária. Pasteur observou que galinhas vacinadas com culturas antigas poderiam sobreviver à exposição de cepas selvagens da mesma bactéria. Além disso, ele concluiu que galinhas sobreviventes excretavam bactérias nocivas.

No final da década de 1880, após seus esforços e pesquisas para a prevenção do antraz, Pasteur mostrou que expor o gado a uma forma enfraquecida de vacina contra a bactéria Bacillus anthracis poderia levar ao que hoje conhecemos por imunidade, reduzindo consideravelmente a mortalidade desses animais.

Vacina contra a raiva

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O vírus mortal da raiva. Embora evitável por vacinação, a raiva ainda mata muitas pessoas em todo o mundo a cada ano. Imagem: Nano Clustering/biblioteca de fotos científicas via Getty Images

A raiva é uma doença mortal transmitida de animal para humano por meio de uma mordida, é chamada de “o vírus mais diabólico do mundo” e ainda mata aproximadamente 59.000 pessoas em todo o mundo a cada ano.

Através de uma observação minuciosa e cuidadosa, Pasteur descobriu que secar as medulas espinhais de coelhos e macacos raivosos mortos resultava em uma forma enfraquecida do vírus da raiva. Usando essa versão enfraquecida como uma vacina para expor gradualmente os cães ao vírus da raiva, ele demonstrou que poderia imunizar efetivamente os cães contra a raiva.

Desse modo, em julho de 1885, Joseph Meister, um menino de 9 anos da França, foi severamente mordido por um cão raivoso. Pasteur assumiu o caso e, ao lado de dois médicos, aplicou no menino uma série de injeções durante muitas semanas.

O menino sobreviveu e Pasteur chocou o mundo com uma cura para uma doença universalmente letal e abriu o caminho para o uso generalizado da vacina, reduzindo drasticamente as mortes por raiva tanto em humanos, como em animais.

Pasteur, irrevogavelmente, teve uma vida digna do Prêmio Nobel. Se tivesse vivido na era dos prêmios, certamente teria sido reconhecido.

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