Lobos se apegam em humanos assim como os cachorros

Felipe Miranda
(Ádám Leéb / Eötvös Loránd University)

Os nossos queridos cachorros são derivados dos lobos. Embora hoje já sejam muito diferentes, é um fato que já foram uma coisa só. Construímos essa diferença toda com o passar do tempo. Ao mesmo tempo que alguns grupos de lobos ajudavam os humanos, ficavam também cada vez mais dependentes. Além disso, a seleção artificial, feita pelos humanos, moldou a aparência dos cachorros, ao longo de milhares de anos de convivência. Qual a diferença no comportamento entre lobos e cachorros?

Eles se parecem até mesmo no nome científico. O famoso cãozinho pertence à espécie Canis lupus familiaris, enquanto o lobo é apenas Canis lupus.  A genética deles se assemelha muito, e notamos diferenças no porte, aparência e comportamento. O lobo continua sendo um animal selvagem, então caça seu próprio alimento. Embora alguns cachorros cacem, trata-se de uma pequena parte, e os que o fazem, comumente caçam pequenos animais por instinto ou diversão, mas não dependem disso para a sobrevivência.

Mas um estudo, publicado no periódico Scientific Reports, editado pela Nature, indica que algo que pensávamos ser diferente talvez não seja tão diferente assim. Aparentemente os lobos de cativeiro são capazes de agir de forma semelhante aos cachorros. Mas muita calma – não tente socializar com um lobo selvagem. Os cientistas analisaram especificamente os lobos de cativeiro, acostumados a socializar com humanos. Um lobo selvagem é, naturalmente, mais agressivo. Lobos resgatados de cativeiros ilegais são incapazes de viver na natureza.

Companheirismo de lobos e cachorros

Estudar como os lobos se apegam aos humanos ajuda a entender um pouco sobre a origem dos cachorros, já que o companheirismo é a característica que tornou a relação mútua de amizade entre humanos e cachorros tão forte e duradoura, como bem conhecemos.

“O apego é um chamado complexo de comportamento, que tem várias manifestações. Por exemplo, cachorros buscam proteção de seus donos em situações de ameaça ou ficam mais calmos em novas situações quando o dono está presente, mas mostram sinais de estresse em sua ausência”, explica Rita Lenkei, uma das autoras do estudo, em um comunicado. “Estávamos nos perguntando se os lobos adultos intensamente socializados apresentam pelo menos algumas características do comportamento de apego em relação a seus treinadores”.

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(Paula Pérez Fraga / Eötvös Loránd University).

O experimento

O experimento consistiu em testar o comportamento dos animais sozinhos. O companheiro do lobo ou do cachorro o deixou sozinho em um lugar desconhecido por três minutos. Dessa forma, os pesquisadores analisaram a resposta do animal frente ao breve “abandono”. 

“Ficamos surpresos com a pouca diferença entre o comportamento dos lobos e dos cachorros durante o teste”, explica  Tamás Faragó, autor principal do estudo. “Quando seu treinador – ou dono, no caso dos cachorros – estava presente, eles ficavam mais calmos, passavam o tempo explorando as redondezas e farejando. Mas quando foram deixados por seu treinador, eles se estressaram, gemeram e puxaram a guia em direção ao esconderijo”.

Outro teste que os cientistas realizaram foi pedir para que um estranho deixasse os cachorros ou lobos sozinhos em um local desconhecido. Nesses casos, o comportamento do animal praticamente não mudou. Ou seja, a agitação era uma resposta de apego.

Embora o lobo e o cão se comportem, de maneira geral, de forma semelhante, obviamente há diferenças. O cachorro, conforme o estudo, demonstra maior curiosidade e apego com humanos no geral, já que são naturalmente mais condicionados a esse comportamento e possuem uma inteligência social mais acurada. Os lobos são carinhosos somente com o seu humano emocionalmente mais próximo.

“É importante enfatizar a criação e a socialização intensiva de nossos lobos”, explica Lenkei. Ela ainda ressalta o fato de que a socialização não é um traço genético do lobo, mas apenas do cão domesticado, e que “ o cão não é apenas um lobo domesticado, enquanto o lobo nunca se tornará um animal de estimação”.

O estudo foi publicado no periódico Scientific Reports. Com informações de Science Alert e Eötvös Loránd University.

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