Novo experimento sugere que a linguagem humana começou com gestos

Letícia Silva Jordão
Imagem: Unsplash

A linguagem humana é uma das nossas maiores habilidades, porque nos permite transmitir a nossa comunicação de forma elaborada. Com ela, conseguimos construir conhecimento através das gerações, permitindo-nos colaborar em uma escala global diferente de qualquer outra espécie no planeta. 

No entanto, muito sobre como essa habilidade se desenvolveu, incluindo suas origens, permanece um mistério. Por conta disso, um grupo de pesquisadores realizou alguns experimentos para investigar a teoria de que nossos primeiros ancestrais humanos usavam grunhidos como meio de comunicação.

Linguagem humana não nasceu com os grunhidos

A principal função da linguagem é a de comunicar um significado específico entre as pessoas. Com este conceito em mente, os pesquisadores testaram se gestos ou sons não verbais eram mais eficazes para isso.

O experimento que eles realizaram envolveu dois grupos de 30 voluntários das culturas australiana e vanuatuana. Eles tiveram que tentar comunicar significados específicos por meio de gestos não verbais ou vocalizações, semelhantes a um jogo de charadas.

A mesma prática foi replicada com 10 cegos e 10 voluntários com capacidade de enxergar, que foram encarregados de fazer gestos ou mensagens não verbais, enquanto um grupo de universitários tentava descobrir o que significava.

No Twitter, o cientista cognitivo da Universidade da Austrália Ocidental, Nicolas Fay, observou que a comunicação obteve um sucesso duas vezes maior quando os pesquisadores estavam gesticulando em vez de vocalizar. Essa taxa de sucesso aconteceu tanto transculturalmente quanto nos cegos ou pessoas que enxergavam.

A equipe disse em seu artigo que “essas descobertas são consistentes com uma teoria da origem da linguagem que prioriza o gesto”. Os sinais gestuais dos pesquisadores foram consideravelmente mais comparáveis do que os sinais vocais dos voluntários, mesmo os cegos. 

Um exemplo bem claro dessa observação durante o experimento, foi quando todos utilizaram a ação de girar uma chave para representar o termo ‘fechadura’, enquanto não havia um som comum que pudessem usar para encapsular o significado.

Os pesquisadores concluíram que “o gesto é mais bem-sucedido do que a vocalização porque os sinais gestuais são mais universais do que as comunicações vocais”.

Algumas diferenças nos gestos

Porém, como o estudo incluía pessoas Ni-Vanuatu com conhecimento limitado da cultura ocidental, várias distinções acabaram surgindo.

Fay e seus colegas disseram que a palavra “Chain” acabou sendo comunicada com dois gestos diferentes. Os australianos simularam uma ação de puxar algo preso em um ambiente pesado, enquanto que um Ni -Vanuatu imitou a ação de arremesso.

O estudo assume que nossos mecanismos cognitivos, incluindo a linguagem, não mudaram consideravelmente em até 500.000 anos desde que adquirimos a linguagem. Entretanto, os pesquisadores reconhecem que os dois tipos de comunicação podem ter evoluído ao mesmo tempo.

No entanto, Fay e seus colegas apontam que há evidências conflitantes, com algumas pequenas pesquisas indicando que a vocalização pode obstruir o sucesso da comunicação ocasionada por gestos. 

Outras evidências mostram que a humanidade pode ter confiado originalmente em gestos, como o fato de que primatas não humanos usam mais os gestos do que vocalizações, e que crianças pequenas e chimpanzés empregam gestos semelhantes.

Como resultado, é provável que a linguagem humana com significados mais complicados, tenha sido transmitida melhor por nossas mãos do que por nossas cordas vocais, antes de chegarmos às palavras reais.

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