Genoma de mulher de um povo desconhecido de 25.000 anos recuperado em caverna

Mateus Marchetto
A caverna Satsurblia. Imagem: Wikimedia Commons

A análise genética e evolutiva das populações de Homo sapiens por muito tempo dependeu dos dados que temos hoje e de fósseis e ossos para completar as lacunas. Contudo, um grupo de pesquisadores acaba de recuperar o genoma de uma mulher de 25 mil anos – e sem a necessidade de fósseis.

Para testar a nova técnica de sequenciamento, os pesquisadores coletaram sedimentos, amostras da “terra”, da Caverna Satsurblia, localizada na Geórgia. Apenas com esse material, os cientistas conseguiram identificar genomas de bisões, lobos, ovelhas e seres humanos datando de antes da última Era Glacial.

Essas evidências, de acordo com a pesquisa, reforçam outras pesquisas e sequenciamentos realizados a partir de fósseis na região. Isso reforça que a nova técnica, chamada de sequenciamento shotgun (da qual falaremos mais à frente), tem potencial para fornecer bons resultados genéticos mesmo quando não há fósseis disponíveis.

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Computadores e equipamentos de detecção fazem parte do sequenciamento do genoma de um organismo. Imagem: Pixabay 

Ademais, o genoma humano no local pertenceu um dia a uma mulher, há mais ou menos 25 mil anos. Devido à reduzida quantidade de material genético, contudo, os pesquisadores não conseguiram estimar com precisão a ancestralidade da moça. Ainda assim a pesquisa relata que provavelmente ela pertenceu a uma descendência de caçadores-coletores do Cáucaso, apesar de não apresentar similaridades com genomas eurasiáticos conhecidos.

Como funciona o novo sequenciamento do genoma

O sequenciamento shotgun (do inglês: espingarda) tem como princípio a quebra do genoma em várias partes menores, como uma espingarda faz com a bala. Assim, um software busca por sobreposições entre milhares de amostras de um mesmo DNA. A partir disso, então, o programa fornece a real sequência de uma determinada parte do genoma de um organismo.

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Imagem: PublicDomainPictures/Pixabay

Então algum cientista pensou: “E se nós procurarmos pelo genoma de um animal no chão?”

Acontece que o material genético, como DNA pode se conservar se as condições forem ideais. Ou seja, dependendo da temperatura e umidade de um local, o DNA pode ficar conservado por um tempo realmente longo. Assim, uma caverna que já tinha indícios de humanos, como a Satsurblia, é um bom lugar para conseguir esse DNA.

A maior parte do DNA que estava lá, na verdade, era de microrganismos. Mas ainda assim foi possível recuperar uma pequena porção de material genético de mamíferos. Desse último, 28% era de ovelhas, 9% dos sapiens, 5,5% de lobos e 2,1% de bisões.

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Imagem:  Free-Photos/Pixabay 

A partir daí os pesquisadores puderam traçar uma possível ancestralidade desses mamíferos. Isso, por conseguinte, indicou genomas de animais que viveram antes da última era Glacial e provavelmente suas descendências acabaram extintas. Não que as espécies em si foram extintas, mas uma certa população da espécie foi, como acontece com os lobos nesta pesquisa.

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