Mulher é acometida por rara doença medieval, a doença do fogo sagrado

Ruth Rodrigues
Fonte: The New England Journal of Medicine

Seja dentro de uma sala de aula ou no meio de um diálogo com outra pessoa, você já deve ter ouvido falar sobre varíola, febre tifoide e peste bubônica. No entanto, em meio ao período de acontecimento dessas enfermidades, aproximadamente entre 990 a 1130 D.C, ficou registrado na história, a morte de mais de 50 mil pessoas, acometidas pela doença do fogo sagrado.

Essa pesquisa e números de óbitos são provenientes de um estudo publicado na revista Microbiology Society, no ano de 2015. Segundo os autores, podem ter ocorrido outras mortes, entretanto, os cálculos para a pesquisa foram feitos com base na ocorrência em solo Francês.

Um novo caso da doença do fogo sagrado

A história teve início quando uma mulher, de apenas 24 anos de idade, começou a ter dificuldades para realizar tarefas básicas como, caminhar. Posteriormente, veio a sensação de ter os pés em chamas, como se possuísse algo queimando o local. Em paralelo com esses males, a moça sentia constantes dores de cabeça e começou a se automedicar.

O medicamento que era usado para diminuir os incômodos na cabeça era o “ergotamina”. No entanto, existe o fato em que a jovem foi diagnosticada como sendo soropositivo, ou seja, era uma portadora do vírus do HIV. Como estava fazendo o uso de medicações antivirais para evitar o progresso da doença, gerou o acúmulo de compostos medicinais em seu organismo. Resultando na perda de um dos seus dedos dos pés.

raio x da doença do fogo sagrado
Exame realizado pela paciente no início e após o tratamento. Fonte: The New England Journal of Medicine

No momento em que essas substâncias estraram em contato, causaram um dano enorme, quase fatal para o organismo. Principalmente, no que diz respeito as suas artérias, onde ocorreu uma redução drástica do sangue, que teve seu fluxo redirecionado para os membros inferiores. Somando todos esses acontecimentos, a mulher foi em busca de ajuda e descobriu que estava com “ergotismo”, também conhecida como a doença do fogo sagrado.

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O Ergotismo na Idade Média

O fato que deixou os médicos e toda a comunidade científica abismados, foi devido a essa doença ter sido relatada pela última vez, em 1130 D. C. O caso teve uma grande repercussão e foi realizado um estudo, que foi publicado recentemente, no The New England Journal of Medicine.

O surto dessa doença na Idade Média foi o resultado do uso indevido de grãos envenenados por alguns compostos. Essas substâncias tóxicas foram denominadas por “alcaloide do Ergot”, fabricados por uma espécie de fungos conhecidas como Claviceps purpúrea, ou esporão-do-centeio.

fungo causador da doença do fogo sagrado
Centeio em preto é os grãos infectados pelo fungo. Fonte: Dominique Jacquin / CC BY-SA 3.0)

De acordo com um estudo realizado pela Sociedade Americana de Microbiologia (ASM), quando uma pessoa ingeria o centeio com a presença dos fungos, começa a apresentar alguns “sintomas místicos”, tais como: sensação do corpo queimando, alucinações e convulsões.

Durante o século XVII, as mulheres que sofriam com esses sintomas, eram condenadas à morte, por deduzirem que se tratava de bruxas amaldiçoadas. Isso ainda é algo que vem sendo estudado mais detalhadamente, e até o momento, são hipóteses levantadas por estudiosos em um artigo publicado em 2016, na revista JAMA Dermatology.

bruxa de salém com ergotismo
Jovem é condenada à morte por realizar bruxaria, mas deve ter sido acometida pelo ergotismo. Fonte: Thomas Satterwhite Noble / CC BY-SA 4.0)

Alguns cientistas publicaram um estudo na International Journal Angiology, para analisar os fungos que causavam a doença do fogo sagrado, e descobriram que ele ataca as células que estão aderidas nos vasos sanguíneos. E que, quando são infectadas, ocasiona na redução do fluxo para o cérebro, sendo aprisionado nos membros inferiores.

Com informações do Ancient Origins.

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