Baleias quase foram extintas ao nadar no Rio de Janeiro durante Brasil Colônia

Daniela Marinho
Imagem: iguiecologia.com

De valor comparado ao do petróleo, as baleias eram muito caçadas – e quase foram levadas à extinção – durante o Brasil Colônia no Rio de Janeiro. Isso porque o litoral da cidade maravilhosa é rota migratória de várias espécies desse mamífero. Embora hoje sejam motivo de muitos cliques e admiração, as baleias enfrentaram enormes desafios por conta da ambição desenfreada do homem.

Matança de baleias era política de Estado

Dentro dos corpos dos cetáceos percorre um óleo que, durante a era do Brasil Colônia, era muito procurado e valia o equivalente ao que o petróleo vale hoje em dia. Das gorduras destas baleias, era feito um precioso azeite, cuja finalidade primordial consistia em iluminar as vias públicas e as casas da época.

Eram as imponentes baleias-francas o foco principal dos baleeiros e arpoadores. Dada a elevada concentração de óleo em sua composição, em comparação a outras espécies como a jubarte, elas continuavam boiando mesmo despois de mortas e, portanto, não afundavam.

De acordo com o oceanógrafo José Laílson, “As baleias-franca foram as mais abundantes na zona costeira do Rio de Janeiro. Com a chegada dos europeus, logo pelos idos de 1600 e 1700, estabeleceram armações baleeiras na costa do Brasil. Essas populações foram caçadas ao extremo”.

É evidente que pouco importava o meio ambiente, a preservação e o bem-estar do animal, pois um único par de baleeiros conseguia até 40 animais no período, cada baleia rendia cerca de 8 mil litros de óleo.

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Imagem: Canva

Desse modo, a matança de baleias era tão intensa que havia uma “economia da baleia”, incentivada pela Coroa. O Marquês de Pombal, por exemplo, criou a “Companhia de Baleação”. Por se tratar de uma prática muito lucrativa, a caça às baleias se tornou uma política de Estado e perdurou por bastante tempo.

Não se usava apenas o óleo

Cada nova rodada da carnificina durava cerca de 2 meses. No entanto, não era apenas o óleo que era explorado nas baleias. Segundo a historiadora Maria Isabel Lenzi, “Ela [a baleia] entra, é arpoada, o sangue jorra. Acaba levada para a armação, o local onde a destrincham e tiram tudo dela”.

A exploração contra as baleias não se limitava apenas ao óleo. O processo de fervura da banha não só resultou em um óleo valioso, mas também deixava para trás um resíduo viscoso de natureza aderente, que desempenhou um papel crucial como argamassa em inúmeras edificações daquela época.

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Obra de Leandro Joaquim mostrando a caça às baleias. Imagem: Reprodução TV Globo

Além disso, fragmentos de pedras, cuidadosamente unidos por essa solução adesiva, era misturada com água, cal e areia para formarem blocos robustos e muito resistentes destinados à construção civil.

Liberdade

O historiador João Daniel Almeida explica que a exploração comercial relacionada às baleias não apenas contribuiu para a iluminação e o desenvolvimento expandido do Rio de Janeiro, mas também se revelou como uma rota através da qual muitas pessoas escravizadas conquistaram sua emancipação.

Segundo o historiador, “Você tinha um grande número de pessoas escravizadas que compravam a sua alforria e criavam redes de solidariedade para melhorar de vida — ou vendendo carne, ou vendendo óleo”.

Nesse contexto, no século XIX, essa prática começou a experimentar uma perda gradual de vigor, um fenômeno atribuído em grande medida à diminuição da população de baleias ao longo das costas. Além disso, tal declínio também foi influenciado pela emergência competitiva do óleo derivado de peixes norte-americanos.

Embora os recursos tenham passado por mudanças, há uma crença entre os investigadores de que certas espécies, incluindo a baleia franca, continuam a lutar para uma recuperação completa dos danos devastadores que foram infligidos sobre elas há séculos atrás, demonstrando que os efeitos duradouros da tragédia persistem até os dias de hoje.

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