Rajada rápida de rádio na Via Láctea está se repetindo

Felipe Miranda
(Pixabay).

Há cerca de duas semanas, relatamos um feito interessante de grupos de astrônomos – a detecção de um grande pico de sinais de rádio provindos de algum ponto do espaço. Não é raro que os observatórios detectem sinais de rádio emitidos por um ou outro magnetar – estrelas de nêutrons especialmente carregadas, que emitem um fortíssimo sinal magnético.

O campo magnético de um magnetar é trilhões de vezes mais forte do que o campo magnético da Terra, além de milhares de vezes mais forte do que as estrelas de nêutrons comuns (que já possuem campos magnéticos bastante fortes). Trata-se de algo realmente monstruoso. Além disso, estrelas de nêutrons são os objetos mais densos existentes em todo universo depois dos buracos negros – imagine uma massa entre pouco mais de 1 e 2,5 vezes a massa do Sol comprimida em uma bola de apenas 20 km de diâmetro.

Em abril, astrônomos do CHIME (Canadian Hydrogen Intensity Mapping Experiment) detectaram sinais de rajada rápida de rádio (FRB, na sigla em inglês) que aparentavam vir do magnetar SGR 1935 + 2154. Logo, cientistas do Transient Astronomical Radio Emission 2 (STARE2) resolveram investigar um pouco também. Por fim, o radiotelescópio chinês FAST também se envolveu, de forma independente. 

Os três trabalhos se agregam um ao outro, confirmando ou refutando alguns pontos e trazendo os valores finais. O ponto é: pela primeira vez os astrônomos conseguiram rastrear as emissões de rádio até sua fonte. Os trabalhos originaram três artigos publicados juntos na revista Nature; [1] do CHIME, [2] do STARE2 e [3], do FAST.

FAST radio telescope
O gigantesco radiotelescópio FAST, na China. (Reprodução).

Novidades

Geralmente a ciência progride lentamente, já que depende de uma cuidadosa análise e interpretação de dados. No entanto, este caso é peculiar em sua velocidade. Mas tudo ocorre rápido pois tudo se encaixou bem. Até então, os astrônomos nunca detectaram FRBs dentro da Via Láctea. Portanto, quando detectavam, era longe de mais para rastreá-los – só encontravam a galáxia de origem. Nesse caso, eles conseguiram chegar até ao magnetar SGR 1935 + 2154. 

Agora, então, com detecções ao final de abril, os astrônomos conseguiram já publicar os resultados de três estudos em novembro. E agora, em um artigo publicado no último dia 16 revista Nature Astronomy, um grupo de astrônomos traz novidades dos FRBs. E com novidades não considere novas respostas, mas sim novas perguntas – a base da ciência.

Artists impression of the magnetar in the star cluster Westerlund 1
(ESO/L. Calçada).

As incógnitas do magnetar

Todos os sinais eram mais fracos do que geralmente são os sinais emitidos por magnetares. Eram bastante forte porque estavam perto – mas levando em consideração a distância, deviam ser ainda mais fortes. Ainda assim, os dois primeiros sinais foram consideravelmente fortes. Em 3 de maio, o radiotelescópio chinês FAST detectou um sinal bem mais fraco; em 24 de maio, o Westerbork Synthesis Radio Telescope (WSRT), na Holanda, detectou dois sinais também bastante fracos.

Então, os astrônomos estão completamente confusos. A primeira questão é: por que há uma variação tão grande nos sinais detectados? Entre uma das soluções estaria a possibilidade de que os feixes não nos atingiram em cheio. Isso explicaria o motivo pelo qual todas elas são mais fracas do que deveriam – especialmente as três últimas, em maio. Outra hipótese é a da idade. Se esse for um magnetar mais velho, e as explosões que chegam até nós vêm de magnetares novos, bastante agitados, isso explica as diferenças nas forças.

“Nossas observações demonstram que SGR 1935 + 2154 pode produzir explosões com energias aparentes abrangendo cerca de sete ordens de magnitude, e que a taxa de burst é comparável neste intervalo”, relatam os pesquisadores. “Isso levanta a questão de saber se essas quatro rajadas surgem de processos físicos semelhantes, e se a distribuição da população de rajada de rádio rápida se estende a energias muito baixas”.

Agora, portanto, os cientistas se aprofundarão mais no assunto para desmistificar esses pontos. 

O estudo foi publicado no periódico Nature Astronomy. Com informações de Science Alert.

Compartilhar