Povo Bajau, adaptado ao mergulho, pode ficar submerso por mais de 10 minutos

Daniela Marinho

O Povo Bajau são os primeiros seres humanos conhecidos geneticamente muito adaptados ao mergulho, podendo ficar submersos por mais de 10 minutos a uma profundidade de 70 metros. Nós, humanos, não somos naturalmente adaptados na permanência prolongada em baixo d’água. No entanto, quando prendemos a respiração, o corpo reage diminuindo o batimento cardíaco e contraindo os vasos sanguíneos e também o baço.

Essa série de fatores é automática e se chama resposta de mergulho, sendo essencial na economia de energia durante a falta de oxigênio. Depois de alguns poucos minutos submersos, a maioria de nós ficaria sem ar, o que levaria à danificação dos órgãos, principalmente o cérebro. Entretanto, esse não é um problema para os Bajau, que levam o mergulho livre muito a sério.

Evolução genética permitiu que o Povo Bajau ficassem conhecidos como “nômades do mar”

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Bajau. Imagem: Matthieu Paley, National Geographic

Durante centenas de anos, os Bajau viveram no mar. Desse modo, a seleção natural pode tê-los tornado mergulhadores geneticamente mais fortes, como sugere um estudo na revista Cell, o qual oferece as primeiras pistas de que uma mutação de DNA para baços maiores dá a esse povo uma vantagem genética para a vida nas profundezas das águas.

Prender a respiração embaixo d’água por alguns segundos e até por poucos minutos é possível para a maioria das pessoas. No entanto, esse grupo de pessoas [Bajau] consegue segurar a respiração por 13 minutos. Esse feito extraordinário é resultado de mais de mil anos de mergulho livre e estilo de vida marítimo – eles mergulham para caçar peixes e buscar por elementos naturais para usar em artesanatos.

Costumes

O termo Sama-Bajau refere-se a vários povos indígenas intimamente relacionados que se consideram um único grupo étnico ou nação distinta. Esse povo vive nas águas do Sudeste Asiático e são conhecidos por viver do mar e da pesca. Suas casas são flutuantes e longas – cabanas de madeira construídas no mar próximas da costa – são conhecidas como lepas.

Frequentemente, os Bajau são chamados de “nômades do mar” ou “ciganos do mar”, pois eles só estão em terra quando precisam negociar ou buscar proteção das tempestades marítimas. Outros grupos que viveram próximos ao mar certamente já existiram, mas nenhum outro tinha uma relação tão estreita e familiar com as águas do que o Povo Bajau, podendo ser o último povo com costumes marítimos que sobreviveu até os dias atuais.

São especialistas em mergulho livre principalmente porque vivem da pesca, passando mais de 5 horas submersos diariamente, o que significa dizer que eles têm o maior tempo de mergulho sem respirar do que qualquer outro humano. As habilidades de mergulho e natação são desenvolvidas desde cedo, quando os Bajau ainda são crianças, uma vez que elas começam a pescar e caçar desde os 8 anos de idade. Em seu tempo livre, elas brincam na praia ou ajudam com a rotina da casa.

Como se não bastasse uma vida toda relacionada ao mergulho, alguns Bajau rompem de forma intencional seus próprios tímpanos para adquirir capacidades de mergulho ainda mais eficazes, pois conseguem suportar melhor a pressão do oceano. Por isso, pessoas mais velhas apresentam mais problemas de audição.

Baço como órgão essencial

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Bajau caçando. Imagem: Matthieu Paley, National Geographic

O baço está longe de ser um órgão glamoroso e complemente indispensável. Entretanto, o estudo, cuja autoria é de Melissa Llardo, do Centro de Geogenética da Universidade de Copenhague, sugere que a seleção natural ajudou o Povo Bajau a desenvolver a vantagem genética.

De acordo com a pesquisa, foram coletados dados de um grupo relacionado de pessoas chamado Saluan, que vive no continente indonésio. Quando as amostras foram comparadas – exames laboratoriais e de utrassom – a equipe descobriu que o tamanho médio do baço de uma pessoa Bajau era 50% maior do que o mesmo órgão em um indivíduo Saluan.

Além disso, os pesquisadores se depararam com um gene chamado PDE10A, que se acredita controlar um determinado hormônio da tireoide, no Bajau, mas não no Saluan. Em camundongos, o hormônio foi relacionado ao tamanho do baço.

Povo Bajau ameaçado

Com uma capacidade incrível de mergulho devido a baços maiores e uma visão subaquática excelente, o Povo Bajau tem a sua existência ameaçada: por um lado porque a pesca está prejudicada e porque eles sofrem bastante discriminação por pessoas de áreas vizinhas.

Dessa maneira, é possível que num futuro próximo, os Bajau e suas habilidades impressionantes desapareçam para sempre, como sinalizam os pesquisadores.

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