Organela escondida em células vegetais mostra conteúdo incomum

Mateus Marchetto
Pesquisadores acabam de descobrir novas estruturas peculiares para células vegetais. (Zachary Wright/Rice University)

A cada minuto, milhares de processos acontecem dentro das nossas células. Cascatas bioquímicas dos mais diversos tipos permitem que todas as funções vitais do corpo continuem funcionando. Isso é uma regra não só para os humanos, mas também para praticamente todos os seres vivos do mundo. Acontece que uma célula é composta de diversas organelas – pequenos “órgãos” que realizam funções vitais a nível celular. As organelas podem ser muito variadas e distintas. Contudo, pesquisadores acabam de observar algo incomum: peroxissomos com vesículas em células vegetais.

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(Imagem de Vierschilling por Pixabay)

Primeiramente, precisamos nos relembrar das aulas de biologia. Um peroxissomo é uma organela bastante simples e numerosa. Até pouco tempo atrás pouco se sabia sobre a função dos peroxissomos, e até pensava-se que eles eram apenas resíduos criados pelos microscópios. Contudo, essas organelas se mostraram bastante importantes para as células. Elas são responsáveis por digerir certas gorduras e principalmente por resgatar oxigênio. Acontece que a respiração celular cria espécies reativas de oxigênio. Essas moléculas podem facilmente matar uma célula e, portanto, os peroxissomos as recolhem e transformam em H2O2 – água oxigenada, para os íntimos.

Todavia, acreditava-se que os peroxissomos eram moléculas muito simples, sem estruturas internas. Isso porque essas organelas são muito pequenas, muito difíceis de observar mesmo ao microscópio. Nesse sentido, os pesquisadores Zachary J. Wright e Bonnie Bartel mostraram que na verdade os peroxissomos têm uma rede interna de vesículas contendo enzimas digestivas.

Para demonstrar isso os cientistas observaram peroxissomos de Arabidopsis sp., uma planta parecida com o agrião. Essa planta tem peroxissomos em suas células vegetais muito maiores do que seria o normal em outros organismos, o que facilitou a vizualização.

Organelas fantasmas nas células vegetais

Em geral é possível observar organelas por microscopia. Isso porque praticamente todas elas têm um tamanho que permite essa observação. Os peroxissomos, por outro lado, são muito menores que as organelas regulares. Ao microscópio não se pode observar muito mais que pequenos pontinhos dentro das células. Justamente por esse motivo, pouco se sabe sobre a estrutura interna dos peroxissomos.

No entanto, é certo que essas organelas têm muitas enzimas. Essas moléculas, mais uma vez lembrando da aula de biologia, são responsáveis por se ligar a outras moléculas e quebrá-las ou mediar outros processos. Diversas dessas enzimas, por sua vez, ficam armazenadas nos peroxissomos. Elas ajudam a evitar que produtos tóxicos se formem dentro da célula. A grande descoberta publicada na Nature Communications, todavia, mostra que os peroxissomos têm estruturas ainda mais internas, ainda menores: vesículas.

As vesículas são bastante comuns dentro das células. Elas são como uma bolha que transporta moléculas de uma lado para outro no citoplasma e para fora. Portanto, faz bastante sentido que haja vesículas dentro dos peroxissomos, uma vez que elas são importantíssimas para a exocitose.

Como surgiram essas organelas?

Várias organelas podem um dia ter sido células independentes. Acredita-se que há bilhões de anos atrás diversos tipos de células primitivas podem ter interagido. Em algum momento, células que produziam energia acabaram sendo engolidas por outras células maiores. No entanto elas não foram digeridas, mas ficaram por lá mesmo, protegidas e produzindo energia para a célula maior. Assim surgiram as mitocôndrias es os cloroplastos.

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(Imagem de Andrea Vierschilling por Pixabay)

Os peroxissomos podem ter surgido de forma parecida. Nesse sentido, essas organelas podem ter sido um dia células singulares que acabaram criando uma simbiose com outros organismos unicelulares maiores. Dessa forma os peroxissomos recebiam os nutrientes que precisavam e protegiam a célula maior dos metabólitos tóxicos. Com o passar de centenas de milhões de anos, originou-se essa organela minúscula e essencial para a vida.

O artigo científico foi publicado no periódico Nature Communications.

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