Peixe budião azul tem declínio de 30% nos Abrolhos por causa da sobrepesca

Agência Bori
(KENDALL CLEMENTS / ARQUIVO PESQUISADORES)

Ameaçada de extinção pela pesca predatória, a população do peixe budião azul diminuiu cerca de 30% em seis anos nos recifes dos Abrolhos, litoral sul da Bahia, apesar das áreas de berçário protegidas. A avaliação, feita por um estudo da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN) publicado essa semana na revista “Scientific Reports”, mostra que delimitar Áreas Marinhas Protegidas (AMPs) sem regular a pesca nas áreas próximas pode ser uma estratégia insuficiente para preservar espécies de peixes.

Os pesquisadores avaliaram a abundância da população do budião azul a partir de amostras coletadas de 2003 a 2008 em 28 recifes da região dos Abrolhos. Localizada na costa brasileira ao sul do estado da Bahia e norte do Espírito Santo, a região tem um dos ecossistemas com maior biodiversidade marinha do Atlântico Sul. Ali também estão localizadas quatro Áreas Marinhas de Proteção Ambiental, sendo duas de proteção integral, do Parque Nacional Marinho dos Abrolhos. A quantidade de peixes nos locais foi contada com o uso da técnica de censo visual estacionário aninhado, que consiste em um mergulhador ficar parado em um determinado local do recife e ir contando os peixes que estão na sua volta num raio de 4 metros para peixes grandes e de 2 metros para peixes pequenos. Além disso, modelagens matemáticas foram usadas para predizer a tendência de densidade populacional dos peixes nos diferentes locais analisados.

Nestes seis anos, algumas áreas tiveram redução de até 60% da população de peixes jovens e adultos do budião. A explicação para essa queda de densidade populacional está nas atividades de pesca realizadas ao redor das áreas de proteção. “A pesca é tão forte na região que as áreas marítimas protegidas não dão conta de manter as populações de budião”, comenta a autora principal do estudo Natália Roos. Pode ser que outras espécies de peixe também estejam sentindo os efeitos da sobrepesca nas suas populações, segundo a pesquisadora.

Natália conta que o budião se tornou alvo da pesca por causa do declínio de outras espécies de interesse comercial e por ser abundante na região na década de 1990. Duas características biológicas tornam essa espécie ainda mais vulnerável à sobrepesca, segundo a pesquisadora: ele demora muito para se reproduzir e para crescer. “Os peixes estão sendo pescados antes de se reproduzirem, o que acaba ameaçando a espécie como um todo”, ressalta.

Medidas de manejo da pesca

O peixe budião azul entrou para a lista de espécie ameaçada de extinção em 2014, o que não impediu de o peixe continuar sendo pescado de forma indiscriminada no Banco dos Abrolhos e no resto da costa brasileira. Anualmente, são pescadas cerca de 24 toneladas da espécie na região, pela pesca artesanal e esportiva.

A regulamentação da pescaria do peixe, estabelecida pelo Plano Nacional de Recuperação de Espécies Ameaçadas em 2018, ainda não foi implementada, o que dificulta o controle da pesca. “O Plano permitia a pesca do budião azul apenas em áreas de uso sustentável para pescadores cadastrados, respeitando uma janela de captura determinada que protegia peixes jovens e grande reprodutores da espécie”, comenta Natália. No entanto, o plano nunca saiu do papel – decisão que acaba repercutindo na efetividade das áreas marinhas protegidas.

Segundo Guilherme Longo, pesquisador do Laboratório de Ecologia Marinha da UFRN e co-autor do estudo, as Áreas de Proteção Marinha desempenharem um papel fundamental para evitar um declínio ainda maior da população do budião. No entanto, seria preciso implementar outras estratégias para promover a pesca sustentável, como medidas de manejo pesqueiro. Os pesquisadores são categóricos ao afirmar que, “caso essas medidas não sejam tomadas o mais rápido possível, a proibição total da pesca será a única forma de promover a recuperação das populações desta espécie no futuro”.

Esta matéria foi publicada originalmente em Agência Bori.

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