Nzinga: a rainha africana que libertou seu povo da escravidão

Milena Elísios
Cena do filme “Njinga, Rainha de Angola", realizado por Sérgio Graciano, com Erica Chissapa, Ana Santos, Sílvio Nascimento, Miguel Hurst, Jaime Joaquim e Orlando Sérgio.

Os europeus invadiram o território de Ndongo por escravos, enquanto tentavam suprir a crescente demanda por escravos em suas colônias no Brasil. Nzinga Mbande Cakombe nasceu durante a primeira metade da década de 1580, filha de um governante do povo Ndongo. No ano em que a jovem nasceu, seu pai, o rei começou a liderar seu povo contra a escravidão imposta pelos colonialistas portugueses.

A brava luta contra a escravidão

Quando o irmão de Nzinga assumiu o poder como governante, ele se revoltou contra domínio português em 1618, revolta essa na qual foi derrotado. Registros mostram que três anos mais tarde, como uma enviada de seu irmão, Nzinga numa foi a uma uma conferência de paz na esperança de acabar com as hostilidades entre os dois povos (os portugueses haviam forçado o rei a fugir de sua corte em 1617). Nzinga negociou um tratado de termos iguais, converteu-se ao cristianismo para fortalecer o tratado e adotou o nome português “Dona Ana de Sousa”.

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Uma das histórias mais conhecidas sobre Nzinga ocorreu durante esta reunião. Antes da reunião, os portugueses teriam preparado a sala com apenas uma cadeira. Para que Nzinga se visse obrigada a permanecer sentada no centro durante as negociações, fazendo-a parecer inferior. Em vez de fazê-lo, Nzinga mandou um de seus servos se ajoelhar para servir como cadeira.

Encontro de Nzinga com o governador português João Corria de Sousa. (Domínio Público)
Encontro de Nzinga com o governador português João Corria de Sousa. (Domínio Público)

As negociações foram um sucesso, com a paz alcançada, e os portugueses restauraram Mbandi ao seu trono, além de concordar em limitar as atividades de invasão de escravos.

No entanto, esse período de paz não durou muito e os portugueses se voltaram contra o povo do Ndongo vários anos depois.

Nzinga chega ao poder

Em 1626, Nzinga se tornou a rainha de seu povo após a morte de seu irmão. Acredita-se que o rei cometeu suicídio diante da presença portuguesa cada vez mais agressiva na região. A rainha Nzinga é mais lembrada historicamente por sua resistência contra os portugueses e por libertar seu povo da escravidão.

Uma ilustração da rainha Nzinga de François Villain, 1800. (Wikimedia Commons)
Uma ilustração da rainha Nzinga de François Villain, 1800. (Wikimedia Commons)

Naquele mesmo período, os portugueses renovaram seus ataques contra os Ndongo. Incapaz de derrotar os portugueses militarmente, Nzinga e seu povo fugiram para o oeste e fundaram um novo estado em Matamba.

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Já em Matamba, a Rainha Nzinga lutou ferozmente contra os portugueses em uma guerra que perdurou por trinta anos. Enquanto defendia seu povo dos portugueses a rainha ofereceu refúgio a escravos fugitivos e soldados africanos que vieram ao seu reino. Além disso, ela também despertou inquietação dentro de Ndongo, que na época era controlada indiretamente pelos portugueses por meio de uma espécie de rei fantoche.

Em 1641 os portugueses foram expulsos de Luanda pelas forças combinadas dos holandeses e dos matamba. Entretanto, no ano seguinte, os portugueses estavam de volta e conseguiram recuperar Luanda. Os holandeses foram expulsos de Angola e a rainha teve que recuar de volta para Matamba.

Nzingha continuou sua luta contra os portugueses. Mas seus esforços para transformara seu reino em poder comercial fizeram toda a diferença, considerando que ele ocupava uma posição estratégica entre uma parte da costa africana e seu interior.

Na época de sua morte em 1663, diz-se que Matamba já havia se tornado um estado comercial formidável, capaz de lidar com os portugueses em pé de igualdade.

Referências

Bortolot, AI, 2003. Ana Nzinga: Rainha de Ndongo. [Online] 
Disponível em: http://www.metmuseum.org/toah/hd/pwmn_2/hd_pwmn_2.htm

Cross, VM, 2015. Rainha Ana de Sousa Nzinga Mbande de Ndongo (Angola). [Online] 
Disponível em: http://www.blackhistoryheroes.com/2011/03/queen-ana-de-sousa-njinga-mbande-of.html

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