Não é Star Wars: os cientistas estão apenas estudando a Nebulosa Carina

Felipe Miranda
(ESO/G. Hüdepohl).

Os cientistas lançaram quatro feixes de laser na Nebulosa Carina, que explode há 200 anos. A ideia não é mitigar uma potencial ameaça espacial, até porque, embora a proximidade, a nebulosa não representa nenhum risco para o planeta Terra. Na verdade, trata-se apenas da insaciável busca por conhecimento pelos humanos.

Se você espera por guerras espaciais, lamento te decepcionar. Por um lado, o verdadeiro intuito dos lasers é muito mais sem graça do que uma batalha com sabres de luz gigantes. Mas por outro, é fascinante como telescópios guiados através de simples lasers que apontam para o coração de uma nebulosa tornam-se mais eficientes. Nessa imagem, então, encontra-se o sistema de óptica adaptativa do Very Large Telescope (VLT), localizado no ESO (Observatório Europeu do Sul), no Chile. 

O milagre da óptica adaptativa

Veja a imagem abaixo:

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(Gemini South Telescope / Inter-American Observatory).

A primeira fotografia foi feita pelo Observatório Gemini com o sistema de óptica adaptativa, ao passo que, a segunda, fotografada pelo Observatório Interamericano de Cerro Tololo e bastante desfocada e sem nitidez alguma, não contou com a óptica adaptativa. O sistema de óptica adaptativa é, em resumo, aqueles lasers medonhos. 

Basicamente, possuímos muitos telescópios poderosíssimos em solo. No entanto, há uma extensa camada de atmosfera consideravelmente densa acima de nossas cabeças. Consequentemente, ela interferirá em tudo o que entra no planeta, o que inclui a luz. Sabe quando as estrelas cintilam? É exatamente a interferência da atmosfera.

A primeira imagem, portanto não tenta consertar essa distorção causada pela atmosfera e, consequentemente, a imagem fica bastante desfocada, como se o telescópio tivesse miopia. O laser possui o papel de consertar a imagem. Ele simula uma estrela. Observando suas distorções ao longo da atmosfera, quando apontado para o coração da nebulosa, os cientistas consertam a imagem através de computadores. 

“O sistema óptico espera que os raios venham em paralelo, mas eles não estão, então você obtém esta imagem borrada”, disse a professora de astronomia e astrofísica na Universidade da Califórnia, Claire Max, em uma palestra no evento 2018 Ames Summer Series, da NASA, conforme o portal Universe Today. Na palestra, Max falou justamente sobre os sistemas de óptica adaptativa.

É bastante fascinante que, apenas analisando distorções no caminho dos lasers, os cientistas consertem as imagens. Isso é muito legal, pois não precisamos lançar todos os telescópios ao espaço para estudar os objetos. É muito mais fácil e barato manter os telescópios em Terra – e os lasers são essenciais para isso.

Perspectivas da Nebulosa Carina

A Nebulosa Carina é uma nuvem de gás e poeira espacial que localiza-se a 7500 anos-luz da Terra. Por quase dois séculos, observamos uma explosão contínua do sistema, e seu brilho aumenta constantemente. Isso não representa perigos, é claro, mas desperta o interesse dos cientistas. Além de bonitas, no entanto, as nebulosas fascinam em outros aspectos.

Ademais, dentro da nebulosa há diversos aglomerados de estrelas. Uma nebulosa carrega uma imensa quantidade de gás e poeira, e elas geralmente tornam-se berçários de estrelas. Quando esse material se aglomera, passa a formar corpos maiores. Assim, ao atingir tamanho o suficiente, a fusão nuclear se inicia em seu núcleo e aquela poeira tornou-se uma estrela.

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((P. Hartigan / Rice University)).

A imagem acima, também feita com o Telescópio Gemini, carrega uma fotografia de 2015 e outra em 2018. É fácil saber qual das duas possui o sistema de correção óptica. Isso tornou-se alvo de um estudo recente, publicado no periódico The Astrophysical Journal Letters.

No estudo, os cientistas trazem um preview do Telescópio Espacial James Webb, que entrará em operação em breve. Similarmente, com o sistema de óptica adaptativa, o Telescópio Gemini alcança resoluções comparáveis à resolução que terá James Webb, o telescópio espacial mais potente da história – centenas de vezes melhor do que o próprio Telescópio Espacial Hubble.

Com informações de Live Science, Universe Today e ESO.

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