Este menino desenvolveu uma doença rara que deixou sua língua amarela

Mateus Marchetto
Imagem: The New England Journal of Medicine ©2021

Após quatro dias com dor de garganta e três dias tendo a urina escurecida, um menino canadense de 12 anos chegou ao Hospital for Sick Children, em Toronto. Curiosamente, além dos sintomas anteriores, o menino também estava com a língua amarela e um aspecto pálido na pele. Após uma série de exames, por conseguinte, médicos identificaram a condição, uma desordem autoimune bastante rara.

Acontece que o menino desenvolveu uma forma de icterícia. Essa condição causa um aspecto amarelado da pele e dos olhos, sobretudo devido à morte de hemácias, como veremos mais à frente. Todavia, a icterícia deste menin foi diferente. A condição aconteceu, assim, por conta do vírus Epstein–Barr, da família da herpes.

Assim como outros herpesvírus, o vírus Epstein–Barr é bastante comum em seres humanos, e se transmite principalmente pela saliva. No caso desse menino canadense, no entanto, a infecção desta herpes desencadeou uma resposta autoimune que acabou por destruir muitas hemácias. Quando a destruição destas células ocorre, a bilirrubina se acumula no sangue e, nesse caso, o corpo não consegue retirar esse composto do sangue. Isso, portanto, causa o aspecto amarelado da pele e a língua amarela.

É por causa da bilirrubina, aliás, que a urina é amarela. Isso porque as hemácias velhas ou destruídas vão parar no fígado e nos rins, principalmente, para que seus restos sejam excretados pela urina. Sendo um subproduto da destruição das hemácias, portanto, esse composto é excretado também. Daí o motivo da urina escura demais do menino canadense.

Resposta autoimune e língua amarela

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Imagem: Narupon Promvichai / Pixabay 

Existem centenas de doenças e condições autoimunes. Como o nome indica, uma condição autoimune ocorre quando o sistema imune de um indivíduo deixa de reconhecer alguma estrutura do organismo. No caso deste menino, o vírus Epstein–Barr causou uma deficiência temporária da resposta imune.

Ou seja, as células responsáveis pela proteção do corpo acabaram reconhecendo as hemácias como corpos estranhos. Assim, a contagem de células vermelhas do menino acabou mais baixa que o valor de referência. Deste modo a criança precisou de uma transfusão de hemácias bem como de um tratamento imunosupressor, para evitar que o sistema imune continuasse atacando as próprias células.

Após 2 dias de internação e 7 semanas de tratamento com esteróides imunosupressores, o garoto se recuperou dos sintomas, da infecção viral e da língua amarela, como é possível conferir no relatório médico do caso.

Relatório disponível no site The New England Journal of Medicine.

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