Mamutes e megafauna podem ter vivido por mais tempo que imaginávamos, mostra pesquisa

Mateus Marchetto
Imagem: Roy Buri / Pixabay

Há quase cem anos, diversas evidências indicam que os mamutes se extinguiram há mais ou menos 10 mil anos, por ação humana. Contudo, uma nova pesquisa mostra que os mamutes e a megafauna ( ao menos parte dela) na verdade viveram até muito mais tarde que estes 10 mil anos. Ou seja, outra coisa deve ter causado essa extinção, além de nós.

Ao longo de incríveis 10 anos de pesquisa, cientistas utilizaram uma técnica inovadora de sequenciamento genético. Com o nome de shotgun DNA ou eDNA, esse tipo de sequenciamento se baseia em DNA presente no ambiente ao invés de em fósseis.

Isso é possível porque organismos vivos deixam seu DNA nas fezes, urina, sangue e cabelo, por exemplo, espalhado pela paisagem. Assim, com as condições corretas e alguma sorte, esse material genético pode se conservar por milhares de anos. Os dados da pesquisa, por exemplo, têm até 50 mil anos de idade.

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Imagem: Hans Benn / Pixabay 

Coletando então dados do solo de regiões árticas do Canadá, Europa e Ásia, os pesquisadores puderam portanto sequenciar DNAs de mamutes e da megafauna do último período glacial. Acontece que alguns animais na verdade se extinguiram muito mais tarde do que imaginávamos.

A pesquisa sugere, por exemplo, que os mamutes morreram por completo há pouco menos de 4 mil anos. Ou seja, caçadores-coletores humanos e mamutes viveram juntos por alguns milhares de anos a mais do que se sabia. Rinocerontes lanosos, ademais, morreram há 9.800 anos – 4.200 anos mais tarde do que imaginávamos.

Além disso a pesquisa também sequenciou o genoma de mais de 1500 plantas árticas, entre gramíneas e arbustos.

Papel dos humanos na extinção dos mamutes e megafauna

Segundo a pesquisa publicada na Nature, as datas contradizem a teoria de que os humanos foram os principais responsáveis pela extinção dos mamutes e da megafauna ártica. Por outro lado, as conclusões vão de encontro a uma teoria que vem ganhando mais força nos últimos anos. Na verdade, a mudança climática pode ter eliminado estes animais.

De acordo com a pesquisa, há uma variação bastante drástica da vegetação do norte do planeta no final da última Era Glacial. A chamada Estepe dos Mamutes, um bioma gelado e coberto por ervas e gramíneas deu lugar a ecossistemas mais quentes e com vegetações arbustivas ou arbóreas.

Isso aconteceu provavelmente devido a um aumento drástico na umidade e na temperatura do planeta nos últimos milhares de anos. Essa mudança, portanto, deu lugar às turfeiras e florestas de coníferas abundantes hoje nas regiões árticas.

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Imagem:  jplenio / Pixabay 

Acontece que os mamutes e a megafauna da época, que incluía uma gama de cavalos, cervos, leões e até camelos, não conseguiram se adaptar a tempo à mudança do clima.

Ou seja, estas espécies não estavam minimamente prontas para sobreviver com alimentos diferentes e climas mais quentes. Assim, o fim da Era do Gelo pode ter sido o principal catalizador da extinção destes grandes animais (os quais alguns cientistas querem, inclusive, reviver.)

Ainda assim, humanos podem ter tido um papel evidente na extinção de outras espécies da megafauna, especialmente nas últimas centenas de anos. Nesse sentido, a pesquisa chama a atenção para as perdas absurdas que a mudança climática pode causar. E nós estamos mudando o clima muito mais rápido do que ele mudou há 5 mil anos.

A pesquisa está disponível no periódico Nature.

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