Macacos desenvolveram cérebros maiores após receberem gene humano

Erik Behenck

Há pelo menos 1 milhão de anos os cérebros humanos começaram a se desenvolver mais rapidamente, passando a ser cada vez maiores. Agora, cientistas chineses realizaram um teste, onde macacos desenvolveram cérebros maiores após receberem gene humano específico.

Se você é um grande fã do filme Planeta dos Macacos pode ter ficado preocupado, mas por enquanto isso está apenas no início. Ainda assim, a pesquisa pode ser fundamental para a identificação de um gene importante que nos trouxe até aqui. Enquanto isso, estes primatas continuam nas árvores.

Como macacos desenvolveram cérebros maiores?

A pesquisa foi desenvolvida por cientistas do sul da China, onde tentaram “criar” diversos macacos transgênicos. Para isso, fizeram uma cópia extra de um gene humano, identificado como um dos principais responsáveis pela inteligência das pessoas, o ARHGAP11B.

“Esta foi a primeira tentativa de entender a evolução da cognição humana usando um modelo de macaco transgênico”, diz Bing Su, geneticista do Instituto de Zoologia Kunming que liderou a pesquisa.

Macacos desenvolveram cérebros maiores
Imagem microscópica de uma seção de um hemisfério cerebral de um feto de sagui transgênico com 101 dias de idade, que recebeu o gene ARHGAP11B. Diferentes populações neuronais são visualizadas por imuno-histoquímica (magenta, amarelo, verde). Os núcleos celulares são visualizados por DAPI (branco). (Imagem: Heide et al. / MPI-CBG)

Foram realizados testes com os macacos geneticamente modificados, que apresentaram um desempenho cognitivo melhor. O teste de memória envolvia a escolha de cores e imagens em blocos. Contudo, cientistas de outras partes do mundo consideraram essa uma experiência imprudente, questionando a ética dos profissionais.

“O uso de macacos transgênicos para estudar genes humanos ligados à evolução do cérebro é um caminho muito arriscado”, diz James Sikela, geneticista que realiza estudos comparativos entre primatas da Universidade do Colorado.

Segundo ele, isso desrespeita os animais e no futuro pode causar modificações mais extremas. “É uma questão clássica de declive escorregadio e que podemos esperar que se repita à medida que esse tipo de pesquisa for realizado”, diz ele.

Pesquisas com primatas são raras

Se os camundongos continuam sendo muito requisitados em laboratórios, as pesquisas com primatas são cada vez mais raras nos Estados Unidos e na Europa. Mas, na China ainda não é assim, por isso realizaram os testes e desenvolveram os primeiros macacos alterados pela ferramenta de edição de genes CRISPR.

Na Alemanha, resultados parecidos

Embora as pesquisas com primatas na Europa sejam raras, testes foram feitos no Instituto Max Planck de Biologia Celular e Genética Molecular, da Alemanha. Assim, o gene ARHFAP11B foi aplicado em fetos de saguis com 101 dias de idade, faltando 50 dias para o nascimento.

Macacos desenvolveram cérebros maiores
A esquerda os cérebros normais de saguis, a direita os modificados. Foto: Heide et al. / MPI-CBG.

Os pesquisadores descobriram que a produção de neocórtex foi ampliada, transformando o córtex cerebral, que é responsável por habilidades cognitivas avançadas, como a linguagem. Além disso, esse é um gene que apareceu após a divergência dos chimpanzés, já presente em neandertais e denisovanos.

“Descobrimos de fato que o neocórtex do cérebro do sagui comum estava aumentado e a superfície do cérebro dobrada. Sua placa cortical também era mais espessa que o normal”, disse Michael Heide, principal autor do estudo, em comunicado.

Conforme os cientistas alemães, uma mutação acontecida entre 1,5 milhão e 500 mil aos atrás foi a responsável pelo crescimento cerebral. Por fim, afirmam que os filhotes de sagui foram tratados com ética e responsabilidade.

O estudo que descreve as experiencias foi publicado na revista Science, confira.

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