Homem de Altamura: cientistas estudam fascinante neandertal

Felipe Miranda
(Reprodução).

O Homem de Altamura é um conhecido neandertal… digo, restos mortais de um neandertal. Os neandertais foram a última espécie humana a coabitar o planeta Terra com os sapiens (nós). Depois de milhares de anos de competição, só sobramos nós de humanos. 

Em 1993 um grupo de espeleólogos (pesquisadores que estudam cavidades naturais, como cavernas), encontrou em Altamura, na Itália, os restos mortais de um neandertal que habitou o local há pelo menos 130 mil anos. Os ossos estavam terrivelmente presos nas rochas. Além disso, mesmo se você não possui tripofobia, com certeza se arrepiou com a foto. Esses pontos que se parecem com cogumelos ou algo assim são deposições de calcita. 

Os pesquisadores exploraram as cavernas em busca de novidades. Primeiro, desceram um corredor vertical com cerca de 15 metros de altura. Depois, depararam-se com outros três corredores, desta vez horizontais. Caminhando pelo corredor, levemente iluminado por suas lanternas e cheio de ossos de animais nas paredes, eles enxergam um esqueleto humano ao final do corredor.

História do Homem de Altamura

A história do Homem de Altamura é meio trágica. Acredita-se que ele escorregou e caiu em um poço que havia ali. Lá embaixo, inicialmente sobreviveu à queda, mas ficou paralisado com o impacto. O homem, então, morreu de fome. Hoje, o crânio está de ponta cabeça, junto a seus ossos, preso no calcário. 

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(MOGGI-CECCHI, Jacopo et al. / PLOS One).

Pela raridade, os cientistas não o removeram. Eles danificaram o incrível conjunto. Portanto, as análises científicas valem mais se in loco. Trata-se do esqueleto neandertal mais completo e mais bem preservado já encontrado. Por isso, as autoridades locais praticamente o esconderam, com as entradas restritas. Mas nos últimos anos os pesquisadores tentaram autorização para estudá-lo. 

Agora, o Dr. Jacopo Moggi-Cecchi, professor no departamento de biologia da Universidade de Florença, na Itália, liderou um estudo publicado no início de dezembro na revista PLOS One

“Neste trabalho, apresentamos um relato da cavidade oral, possibilitado pelo uso de um videoscópio, que nos permitiu alcançar algumas partes ocultas da mandíbula e do palato. Esta é a primeira visão geral detalhada dos dentes e ossos maxilares do esqueleto de Neandertal de Altamura”, explicam os pesquisadores no estudo. 

As análises

“Apesar dos inúmeros problemas na realização de observações no espécime de Neandertal de Altamura, como a posição do esqueleto na caverna e as camadas de calcita de espessura variável cobrindo a superfície dos dentes e ossos, foi possível registrar várias características interessantes”, diz a equipe no estudo

O homem era adulto, mas ainda não velho. No entanto, perdera dois dentes antes de morrer. Os pesquisadores acham isso estranho, já que a saúde bucal dos neandertais não era muito ruim. “A perda do dente é algo interessante. Temos um grande registro fóssil de Neandertais, e não é típico. Em termos de saúde bucal, eles estavam em boa forma”, diz Moggi-Cecchi à CNN International

Mas eles encontraram, no homem, cálculo dental, ou seja, a placa bacteriana endurecida da superfície dos dentes. Nos dias de hoje, elas se formam pela falta da utilização de fio dental e os dentistas as retiram por meio de raspagens. Além disso, as raízes dos dentes do Homem de Altamura estavam expostas, sugerindo que ele possuía alguma doença gengival. 

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O cálculo dental. (MOGGI-CECCHI, Jacopo et al. / PLOS One).

Os cientistas perceberam, ainda, que ele utilizava a boca como uma terceira mão. As marcas indicam que ele segurava coisas como carnes e couros com a boca. Provavelmente ele fazia isso para manipular os materiais, como cortar carne e esticar o couro, conforme os pesquisadores. 

À CNN International, Moggi-Cecchi destaca, ainda, sua vontade de retirar o corpo de lá. Ele diz que somente com análises visuais, eles conseguiram coletar muitos dados, mas analisar em laboratório traria ainda mais avanços. Mas como já dissemos neste texto, as autoridades responsáveis têm medo de danificar uma peça tão rara.

O estudo foi publicado no periódico PLOS One. Com informações de Ancient Origins, CNN International e El País. 

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