Descoberta nova população de baleias-azuis no Oceano Índico

Mateus Marchetto
Pesquisadores identificaram o canto de uma nova população de baleias-azuis no Oceano Índico. (Imagem de janeb13 por Pixabay)

A partir de 1864 a indústria baleeira tomou um impulso muito grande. Esse impulso foi baseado em arpões lançados por pólvora e navios a vapor que agora podiam caçar e carregar animais muito maiores do que antes, inclusive as baleias-azuis. A população desses animais só parou de cair assustadoramente mais de 100 anos depois, em 1967. Nesse ano a Comissão Baleeira Internacional proibiu o abatimento de baleias-azuis ao redor do mundo. Essa medida, claro, não evitou baleeiros ilegais – só nos anos 60, a URSS matou 1294 baleias de diversas espécies. Apesar de toda a barbárie, no dia 17 de dezembro de 2020, pesquisadores descreveram o canto de uma população desconhecida de baleias-azuis no Oceano Índico, próximo à costa de Omã.

walharpune 1925131 1920
(Imagem de Michael Treu por Pixabay)

Os pesquisadores responsáveis publicaram a descoberta, feita por uma parceria de 11 instituições, no periódico Endangered Species Research. Nesse sentido, microfones aquáticos da equipe registraram pela primeira vez esses sons no ano de 2017, próximo a Madagascar. Os autores relatam no artigo que o padrão sonoro era claramente de uma população de baleias-azuis. Contudo, a parte mais intrigante é que esse canto pertence provavelmente a uma população nunca antes vista desses animais. Os cientistas registraram os mesmos sons posteriormente no Mar Arábico, no Arquipélago de Chagos e na costa de Omã.

O canto das baleias é único

A maioria das espécies de baleias possuem cantos, que são vocalizações características entre as populações. Aliás, cada população desses cetáceos possui um canto específico que pode ser diferenciado por algoritmos de som. Isso permite que pesquisadores identifiquem e localizem populações distintas de algumas espécies de baleias, incluindo a baleia-azul. As baleias usam esses cantos para se comunicar e mesmo localizar presas e cada som emitido pelos animais pode alcançar milhares de quilômetros de distância. Não obstante, as baleias podem usar padrões de cantos para formar frases, ou seja, elas têm uma espécie de linguagem, muito mais primitiva que a nossa, mas bastante eficiente.

A quase-extinção das baleias-azuis

Ainda em 2020 as baleias-azuis sofrem pelo risco de extinção, seja pela caça ilegal ou pelo aumento da poluição e atividade humana nos mares. Em 2018, por exemplo, pescadores da Islândia mataram ilegalmente uma baleia-azul. Estimativas apontam que existem entre 10 e 25 mil baleias-azuis restantes nos oceanos do mundo todo. À primeira vista esse número pode parecer grande, mas essa quantidade é muito próxima do limite para que as populações se mantenham estáveis, conseguindo dar origem a novos filhotes conforme os animais mais velhos morrem.

national history museum 4314035 1920
(Imagem de just-pics por Pixabay)

Os pesquisadores responsáveis pelos registros de som desses animais ainda não observaram ou registraram imagens dessa nova população. Contudo, logo após alguns dos registros, barcos locais observaram baleias-azuis nas regiões próximas aos microfones da pesquisa. Esses animais podem ser um resquício de grupos maiores que foram caçados até o desaparecimento nas décadas da atividade baleeira e, portanto, podem ter se mantido o mais longe possível da atividade humana.

De qualquer forma, a nova população desses cetáceos gigantescos é uma notícia animadora em meio a tantos problemas ecológicos nos oceanos. Nesse sentido, os pesquisadores buscam, nos próximos anos, fazer registros em vídeo ou imagens desses sobreviventes.

O artigo científico está disponível no periódico Endangered Species Research.

Compartilhar