Arquitetura hospitalar pode melhorar a saúde dos pacientes

Daniela Marinho
Imagem: Canva

Os avanços na medicina certamente beneficiam a sociedade e os profissionais envolvidos. A possibilidade de ter algumas das ferramentas e remédios atuais provavelmente não foi sequer imaginada pelos médicos do passado. Com técnicas medicinais tão primitivas, não era possível fazer muita coisa: havia muitas mortes prematuras por falta de medicação apropriada, como vacinas e fármacos designados para um tratamento específico. No entanto, a arquitetura hospitalar pode melhorar a saúde dos pacientes, como indica um estudo.

O chamado design de saúde tem relação direta com a arquitetura e o layout do hospital. Essa nova configuração, mais simples do que parece, pode levar a resultados clínicos promissores e positivos no que diz respeito à recuperação de pacientes.

Além disso, as descobertas podem auxiliar os médicos quanto a escolha do quarto, uma vez que seriam admitidas pessoas nas “salas especiais” com maior risco para que tenham mais chances de sobrevivência.

Estudo indica que a arquitetura hospitalar influencia na recuperação de pacientes

O design de interiores aliado à arquitetura hospitalar são, surpreendentemente, elementos que desempenham um papel no ato da Medicina. Fatores não apenas aparentemente simples, como ter uma janela no quarto, podem influenciar diretamente no tratamento dos hospitalizados.

De acordo com Mitchell J. Mead, estudioso de saúde e design da Universidade de Michigan, coautor do estudo, “ficamos fascinados ao ver em um estudo anterior que a mortalidade era diferente em quartos que ficavam na linha de visão do posto de enfermagem. Os enfermeiros poderiam avaliar mais prontamente a condição do paciente e intervir mais rapidamente em eventos graves. Queríamos ver como essa descoberta se desenrolaria em nossa instituição, especificamente em uma população cirúrgica […] um dos próximos grandes passos para o design de saúde é entender esses caminhos de causalidade que podem levar a diferentes resultados clínicos em pacientes que permanecem em quartos de hospital com características diferentes”.

O estudo mencionado por Mead foi publicado ainda em 1984, evidenciando que a arquitetura hospitalar poderia produzir benefícios médicos reais. Desde então, novas pesquisas na área foram realizadas e tiveram o mesmo resultado: estatisticamente, os pacientes “não tão bem visualizados” pela equipe estão mais propensos a apresentar piora nos quadros.

Estudo contou com a participação de pacientes no pós cirúrgico

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Imagem: Canva

Escrito por pesquisadores da Universidade de Michigan, o estudo atual aprofundou a compreensão acerca da arquitetura hospitalar. Foi feita a análise do impacto que fatores como características do quarto, o número de ocupantes por sala e também a distância de um posto de enfermagem podem ter no desenvolvimento da recuperação dos pacientes.

Entre 2016 e 2019, 3.964 pacientes submetidos a 13 cirurgias de alto risco, como colectomia, pancreatectomia e transplante de rim no Hospital da Universidade de Michigan foram acompanhados pelos pesquisadores que ligaram cada paciente com o número respectivo do quarto.

Cada quarto, por sua vez, recebeu uma codificação com base em vários recursos, como janela/sem janela, ocupação individual/ocupação dupla, distância de um posto de enfermagem e linha de visão dos médicos. A codificação das salas permitiu que os pesquisadores avaliassem como o quadro clínico do paciente variava de acordo com o design do ambiente.

Resultados

Um dos resultados mais importantes assinala sobre a variação das taxas de mortalidade: um quinto (20%) maior em geral para pacientes admitidos em um quarto sem janela em comparação com aqueles em um quarto com janelas. Ademais, entre os pacientes em quartos sem janelas, as taxas de mortalidade em 30 dias foram 10% maiores.

Os resultados, apresentados no Fórum Científico do American College of Surgeons (ACS) Clinical Congress 2022, podem ajudar, a longo prazo, no projeto de construção dos hospitais, com o aproveitamento dos fatores que beneficiam na saúde dos pacientes. Segundo Andrew M. Ibrahim, professor assistente de cirurgia e codiretor do Centro de Resultados e Políticas, “a pergunta comum que nos fazem é: você quer que reconstruamos nossos hospitais? Claro, isso não é prático. Mas reconhecemos padrões claros em que certos tipos de quartos têm melhores resultados após a cirurgia […] Podemos começar a priorizar os pacientes mais doentes de lá”.

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