Carrapatos de cachorros preferem humanos como hospedeiros no calor

Amanda dos Santos
As mudanças climáticas podem afetar até os carrapatos. Imagem: Pixabay

O risco das pessoas contraírem doenças transmitidas por carrapatos de cachorros pode aumentar com as mudanças climáticas. Conforme as temperaturas aumentam, os carrapatos que carregam a doença bacteriana mortal da febre maculosa das Montanhas Rochosas (RMSF) podem mudar suas preferências.

Em vez de se alimentarem dos cães, podem se interessar mais por humanos, de acordo com uma nova pesquisa. As descobertas, apresentadas na Reunião Anual da Sociedade Americana de Medicina Tropical e Higiene, são um sinal de como as mudanças climáticas aumentam o risco das pessoas de contrair doenças transmissíveis por carrapatos.

Ou seja, o aumento nas temperaturas médias causam essa migração. A Dra. Laura Backus, veterinária e estudante de doutorado que liderou o estudo na Universidade da Califórnia Davis School of Veterinary Medicina, explicou os resultados. Ela disse em comunicado que o trabalho sinaliza o quão devemos ficar atentos com o aumento de temperatura, já que a decorrência podem ser mais infecções de RMSF em humanos.

Descobertas da pesquisa

O estudo foi realizado com base em temperaturas aumentando de 23 a 28 graus Celsius. Portanto, nessas condições, os carrapatos marrons transmissores da doença tinham 2,5 vezes mais chances de preferir humanos à cães.

A doença trata-se de RMSF, causada pela bactéria Rickettsia rickettsii, transmitida por carrapatos que geralmente se alimentam de cachorros.

carrapatos
Fonte: Escola de Medicina Veterinária Don Preisler-UC Davis

No Arizona, onde vários surtos de RMSF foram relatados nos últimos anos, além de outros estados do sudoeste, é transmitido principalmente pelo carrapato marrom do cão (Rhipicephalus sanguineus). Essa informação provém do Centro de Controle e Prevenção de Doenças (CDC).

Nos primeiros cinco dias da doença, os antibióticos podem curá-la. Mas, não sendo tratada, ela é fatal. O aumento da RMSF nos Estados Unidos vem sendo substancial – de 495 casos em 2000 para um pico de 6.248 casos em 2017, de acordo com dados do CDC.

Porém, predizer surtos da doença é difícil, disse Backus. É possível saber o que faz os carrapatos perseguirem os humanos. Identificando a situação do fator ambiental, os pesquisadores são capazes de intervir mais rapidamente na redução de casos, relatou a Live Science.

Trabalhos anteriores já sugeriram que a temperatura pode realmente ser um dos fatores, ou seja, os carrapatos dos cachorros podem ser mais agressivos com os humanos em climas quentes.

Para testar a hipótese, Backus e colegas recrutaram voluntários corajosos e caninos para um experimento único.

Como o estudo foi realizado

Os pesquisadores montaram duas caixas de madeira, uma com cachorros, outra com humanos. Elas ficaram conectadas por um tubo de plástico transparente onde foram liberados 20 carrapatos por vez.

Por 20 minutos, observaram se os carrapatos, que escolhem seus hospedeiros pelo cheiro, se moviam em direção aos cachorros ou humanos. Ou mesmo ficavam parados.

Imagens do estudo
Imagens do estudo. Fonte: Live Science /Reprodução YouTube

Consequentemente, barreiras de malha impediram que os carrapatos alcançassem seus hospedeiros pretendidos. Os pesquisadores realizaram esse experimento em duas temperaturas: 23,3 C (temperatura ambiente) e cerca de 37,8 C. Da mesma forma, utilizaram dois tipos de carrapatos de cachorros.

Os carrapatos tropicais são encontrados no sul dos Estados Unidos e, no teste, os resultados foram menos claros. Em temperaturas mais altas, uma quantidade significativamente menor escolheu os cães. Já os carrapatos temperados, o outro tipo testado, estão em todo o território continental dos Estados Unidos e, em temperatura ambiente, eram mais propensos a escolherem os cachorros. Mas, em altas temperaturas, mudavam para humanos. Dez testes foram realizados.

Estudo realizado pela Sociedade Americana de Medicina Tropical e Higiene.

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