Quem foi Joseph Goebbels: nazista que teve discurso copiado por secretário da Cultura

Damares Alves

Em um vídeo divulgado pela Secretaria Especial da Cultura do governo Jair Bolsonaro, o secretário Roberto Alvim celebrou a divulgação do Prêmio Nacional das Artes copiando alguns trechos de um discurso de Joseph Goebbels, chefe da propaganda do partido nazista em 1930.

“A arte brasileira da próxima década será heroica e será nacional. Será dotada de grande capacidade de envolvimento emocional e será igualmente imperativa, posto que profundamente vinculada às aspirações urgentes de nosso povo, ou então não será nada”, afirmou Alvim no vídeo postado nas redes sociais.

“A arte alemã da próxima década será heroica, será ferramente romântica, será objetiva e livre de sentimentalismo, será nacional com grande páthos e igualmente imperativa e vinculante, ou então não será nada”, disse o ministro de cultura e comunicação de Hitler em um pronunciamento para diretores de teatro, segundo o livro “Goebbels: Uma Biografia”, de Peter Longerich (você pode comprá-lo clicando aqui).

O ocorrido causou enorme revolta, e hoje pela manhã foi anunciada pela Secretaria de Cultura a demissão de Roberto Alvim.

Afinal quem foi Joseph Goebbels?

Nascido em uma família católica da pequena burguesia, Paul Joseph Goebbels foi um político alemão e Ministro da Propaganda na Alemanha Nazista entre 1933 e 1945. Associado e devoto apoiante de Adolf Hitler, ficou conhecido por sua capacidade oratória e pela profunda admiração pelo anti-semitismo, além de sua crença na conspiração internacional judaica que o levou a apoiar o extermínio de milhares de judeus durante o Holocausto.

Nascido em 29 de Outubro de 1897, em uma pequena cidade industrial, era filho de uma família católica simples e ainda na infância sofreu de vários problemas de saúde, como inflamação dos pulmões e uma deformidade congênita no pé direito, que era mais fino e curto que o esquerdo. Mais tarde, essa deformidade o levaria a ser rejeitado pelo serviço militar, durante a segunda Guerra Mundial.

Anos depois, após se formar em Literatura e História nas universidades de BonaWürzburgFreiburg e Munique, Joseph Goebbels trabalhou como tutor particular e jornalista. Naquele ponto, seus textos já demonstravam anti-semitismo crescente.

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Retrado Joseph Goebbels por Bundesarchiv, Bild 102-01888A / CC-BY-SA 3.0, CC BY-SA 3.0

O fracasso na escrita e no amor

Em 1922 Goebbels conheceu uma professora de descendência judia chamada Else Janke, por quem ele se apaixonou. Em seus diários ele declarou estar perdidamente apaixonado, mas que após descobrir que Janke era meio-judia, o “encanto estava arruinado”. Apesar disso ele continuou a vê-la incessantemente por cinco anos.

Um ano após conhecer Janke, Goebbels, desmotivado por seu fracasso contínuo em tornar-se um escritor com obras publicadas, se viu obrigado a trabalhar como pregoeiro na bolsa e como bancário, empregos que ele detestava e dos quais acabou sendo demitido poucos meses depois. Em 1923, após ser demitido de seu trabalho no banco, Joseph Goebbels mergulhou em isolamento e no estudo de questões religiosas e filosóficas. Goebbels fez os primeiros contatos com Adolf Hitler e o Nazismo em 1924.

Ativista nazista

Em Dezembro de 1924, quando Hitler ganhou liberdade após uma condenação por traição devido a sua tentativa fracassada de tomar o poder em Munique, o líder nazista ganhou espaço na mídia. Goebbels foi atraído para o NSDAP ( Partido Nacional Socialista dos Trabalhadores Alemães) por causa do carisma e compromisso de Hitler com as suas crenças. Em pouco tempo começou a trabalhar no jornal semanal do partido em Munique.

Embora Joseph Goebbels discordasse de Hitler em inúmeras questões, principalmente na forma como ambos enxergavam o socialismo, o líder nazista viu em Goebbels um aliado, então o incentivou a colocar de lado as suas diferenças. Hitler também o convidou a discursar em reuniões do partido em Munique, e no Congresso do Partido, elogiando-o pelo seu trabalho nestes eventos.

Em dois anos Goebbels, que já era líder de um grupo do partido em Berlim e só respondia ao próprio Hitler, descobriu o poder da propaganda, independente de ela ser positiva ou negativa. Ele começou então a causar brigas de rua e a provocar o partido opositor de forma a atrair a atenção. Os ataques logo começaram a se tornar cada vez mais violentos, até que a polícia de Berlim foi abrigada a intervir, proibindo-o de realizar discursos públicos.

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Joseph Goebbels discursa numa manifestação política (1932).

Joseph Goebbels, o Ministro da Propaganda de Hitler

Em Janeiro de 1933 Hitler foi declarado chanceler do Reich e, devido ao seu papel na propaganda nazista, Goebbels, na época já casado, tornou-se oficialmente o responsável pelo recém-criado Ministério do Reich para a Educação Pública e Propaganda. Seu papel era centralizar o controle nazista sobre todos os aspectos da cultura alemã e vida intelectual. E ele sabia como conseguir isso. Como ministro da propaganda, ele passou a controlar e censurar rádios e jornais e a indústria cinematográfica da época.

Distribuição gratuita de rádios em Berlim no dia de aniversário de Goebbels em 1938. Por Bundesarchiv, Bild 183-H14243 / Nau / CC-BY-SA 3.0, CC BY-SA 3.0
Distribuição gratuita de rádios em Berlim no dia de aniversário de Goebbels em 1938. Por Bundesarchiv, Bild 183-H14243 / Nau / CC-BY-SA 3.0, CC BY-SA 3.0

Anti-semitismo, guerra e caos

Goebbels já era anti-semita desde jovem. Depois que conheceu Hitler, o seu anti-semitismo aumentou e tornou-se ainda mais radical do que já era. Quando o nazismo ganhou o poder, Goebbels insistia para que Hitler tomasse ações contra os judeus o quanto antes, além disso ele promovia ativamente a perseguição dos judeus através de propagandas, legislações e outras iniciativas. Ele também estimulou a realização de numerosos crimes, como a “noite dos cristais“, em que foram destruídas sinagogas, casas e lojas de judeus.

Após Hitler ter sofrido um atentado no dia 20 de julho de 1944, Goebbels recebeu ainda mais poder, e os utilizou para desencadear a guerra total. Nos últimos meses da guerra, os artigos e discursos de Goebbels ganharam um tom cada vez mais apocalíptico. Quando a guerra chegou ao fim, Hitler cometeu suicídio e Goebbels que havia sido nomeado seu sucessor testamentário também se matou, após ter assassinado os filhos.

Família Goebbels . Nesta fotografia manipulada, o afilhado de Goebbels, Harald Quandt, (que se encontrava ausente devido ao serviço militar) foi acrescentado ao retrato de grupo.
Família Goebbels . Nesta fotografia manipulada, o afilhado de Goebbels, Harald Quandt, (que se encontrava ausente devido ao serviço militar) foi acrescentado ao retrato de grupo.

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