Não existe vida nesta parte da Terra; saiba por quê

Milena Elísios
Lagoas hiperácidos, hipersalinos e quentes no campo geotérmico de Dallol (Etiópia). Apesar da presença de água líquida, esse sistema multi-extremo não permite o desenvolvimento da vida, de acordo com um novo estudo. A cor amarelo-esverdeada é devida à presença de ferro reduzido. (Imagem: Puri López-García)

A Terra é habitável porque possui os ingredientes químicos certos para a vida, incluindo água e carbono. Mas há pouco tempo um grupo de pesquisadores descobriu um lugar na Terra onde vida nenhuma pode prosperar.

Um estudo realizado anteriormente afirmava que certos microrganismos podem desenvolver-se em tal ambiente multi-extremo. Porém, agora cientistas confirmaram a ausência de vida microbiana nos lagos quentes, salinos e hiper-ácidos no campo geotérmico de Dallol na Etiópia.

O estudo da equipe de cientistas franco-espanhóis liderado pela bióloga Purificación Lopez Garcia do Centro Nacional Francês de Investigação Científica (CNRS) sugere que não há vida nos lagos multi-extremos de Dallol.

Lospez conta que depois de analisar uma enorme quantidade de amostras, com controles adequados para não contaminá-las e uma metodologia bem calibrada, não foram encontrados quaisquer indícios de vida microbiana nessas piscinas salgadas, quentes e hiper-ácidas ou nos lagos adjacentes de salmoura ricos em magnésio.

De fato existe uma grande diversidade de arquebactérias halofílicas (um tipo de microorganismo primitivo amante do sal) no deserto e nos canyons salinos ao redor do sítio hidrotermal, mas elas não se encontram nas próprias piscinas hiperácidas e hipersalinas, nem nos chamados lagos Negros e Amarelos de Dallol, onde existe uma enorme abundância de magnésio.

Os resultados dos estudos anteriores foram confirmados usando métodos diferentes como o sequenciamento maciço de marcadores genéticos para detectar e classificar micro-organismos, tentativas de cultura microbiana, citometria de fluxo fluorescente para identificar células individuais, análise química de salmouras e microscopia eletrônica de varredura combinada com espectroscopia de raio X.

Alguns precipitados minerais de Dallol ricos em sílica podem parecer células microbianas sob um microscópio, estas partículas minerais podem ter sido interpretadas como células fossilizadas, quando na realidade elas se formam espontaneamente nas salmouras, embora não haja vida.

Lopez e sua equipe descobriram duas barreiras físico-químicas que impedem a presença de organismos vivos nas lagoas: a abundância de sais de magnésio chaotrópicos (um agente que quebra pontes de hidrogênio e desnatura biomoléculas) e a confluência simultânea de condições hipersalinas, hiperácidas e de alta temperatura.

O estudo ajuda a circunscrever os limites da habitabilidade e exige cautela na interpretação das bioassinaturas morfológicas na Terra e além dela. Enquanto isso, não se deve confiar no aspecto aparentemente celular ou “biológico” de uma estrutura, pois ela pode ter uma origem abiótica.

O estudo também apresentou uma evidência de que há lugares na superfície da Terra, como as piscinas de Dallol, que são estéreis apesar de conterem água líquida. Enquanto isso, a presença de água líquida em um planeta, que muitas vezes é usada como critério de habitabilidade, não significa necessariamente que ele tenha vida.

O estudo é apresentado na Nature Ecology & Evolution.

FONTE / Tech Explorist 

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