Não existem evidências de que a maconha possa tratar ansiedade ou depressão

Milena Elísios
(Imagem: © Shutterstock)

A maconha pode de fato amenizar os sintomas de diversas doenças como epilepsia, e a esclerose múltipla, entretanto, especialistas afirmam que a maconha medicinal e seus parentes químicos não aliviam efetivamente distúrbios de saúde mental, como depressão ou ansiedade. Simplesmente não há nenhuma evidência. Isso de acordo com a análise mais abrangente de canabinoides médicos e saúde mental realizada até o momento.

Os canabinoides, são qualquer produto químico derivado da planta cannabis que exerce efeitos similares aos do organismo, “são frequentemente defendidos como um tratamento para várias condições de saúde mental”, de acordo com a nova análise publicada hoje (28 de outubro) na jornal The Lancet Psychiatry. Mas apesar disso, poucas evidências sustentam a noção de que os canabinoides medicinais tratam os distúrbios de saúde mental com mais eficácia do que os comprimidos de placebo – tratamentos projetados para não fazer nada, afirmou em um comunicado a co-autora do estudo Louisa Degenhardt, professora de epidemiologia na Universidade de New South Wales, em Sydney, Austrália.

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As poucas pesquisas existentes não atendem aos critérios de padrões necessários para provar que um determinado medicamento é seguro e eficaz para uso generalizado, observaram os autores. “Médicos e consumidores precisam estar cientes da baixa qualidade e quantidade de evidências para comprovar a eficácia dos canabinoides medicinais no tratamento de distúrbios de saúde mental e o risco potencial de eventos adversos”, eles escreveram.

Produtos como cannabis medicinal, extratos de grau farmacêutico e os derivados sintéticos THC e CBD ganharam popularidade entre os consumidores, à medida que mais países começam a legalizar seu uso no tratamento de condições médicas, de acordo com o novo artigo. Logo tanto a mídia tradicional quanto o setor comercial entraram na onda, divulgando os muitos usos terapêuticos potenciais dos canabinoides. A tendência crescente pode estar um pouco à frente da ciência, como descobriram Degenhardt e seus co-autores.

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A nova análise reuniu dados de 83 estudos com o objetivo de descobrir se os canabinoides medicinais podem melhorar os distúrbios da saúde mental, em geral, ou aliviar seus vários sintomas. Destes, a maioria examinou os efeitos do THC, com ou sem adição de CBD, e apenas 40 estudos eram ensaios clínicos randomizados. A pesquisa incluiu cerca de 3.000 pessoas e se concentrou em seis transtornos de saúde mental: depressão, ansiedade, transtorno de déficit de atenção e hiperatividade (TDAH), síndrome de Tourette, transtorno de estresse pós-traumático (TEPT) e psicose.

O THC falhou em melhorar significativamente os principais sintomas de qualquer um dos seis distúrbios, e muitos  dos pacientes que utilizaram o medicamento experimentaram mais efeitos adversos e sintomas de abstinência em comparação com aqueles que tomaram apenas um placebo.

O estudo também descobriu algumas evidências de “qualidade muito baixa” que sugerem que o THC, o principal composto alterador de mente encontrado na maconha, pode ajudar a aliviar os sintomas de ansiedade em pessoas com outras condições graves de saúde, como dor crônica ou esclerose múltipla. No entanto, nesses casos, não está claro se o THC usa sintomas melhorados diretamente ou se o medicamento melhorou principalmente os problemas de saúde subjacentes dos pacientes, e sua ansiedade melhorou como resultado disso. Apesar da falta de pesquisas aprofundadas sobre os efeitos que a maconha e seus derivados tem sobre as doenças mentais, os especialistas tem uma certeza: os canabinoides medicinais devem ser submetidos ao mesmo exame rigoroso de todos os outros medicamentos psiquiátricos.

FONTE / Live Science

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