Pesquisas sobre o ZIKA estão ameaçadas devido aos cortes na ciência

Wesley Oliveira de Paula
Este bebê no Rio de Janeiro nasceu com microcefalia após a mãe ter sido infectada pelo vírus Zika no início da gravidez. (Imagem: Antônio Lacerda/EFE/ NEWSCOM)

Em 2015 número de casos de microcefalia em recém nascidos aumentou consideravelmente. Como a microcefalia pode ser causada por vários fatores, por algum tempo o aumento de casos foi uma preocupação sem resposta. As pesquisas na área evoluíram, mas agora estão ameaçadas graças aos cortes de gasto na ciência.

Em resposta rápida, várias linhas de pesquisas começaram a procurar o responsável pelo aumento de casos de ZIKA. Alguns estudos aplicavam o ZIKA vírus em fetos de ratos para que pudessem observar o desenvolvimento durante o crescimento. Em outro caso, o vírus era aplicado em micro cérebros onde era possível estuda-los de perto em laboratório. Com toda a preocupação e o trabalho rápido dos pesquisadores, métodos mais rápidos começaram a ser descobertos e aprimorados, tudo isso em um curto espaço de tempo, além de políticas para diminuir a proliferação do vetor Aedes Aegypti.

A ciência brasileira de fato mostrou seu potencial e deixou claro que é extremamente competente. O mundo todo acompanhou nossas contribuições e a capacidade dos nossos pesquisadores.

E nosso avanço ainda não acabou. No dia 05 de Setembro de 2019, um artigo da UFRJ, publicado na Nature, mostra quais os riscos do ZIKA em células neuronais de pessoas adultas. Dividido em duas etapas, o estudo buscou entender, primeiramente, como a infecção pode ocorrer em células neuronais adultas, e, logo após, saber quais são os efeitos da infecção no comportamento do organismo.

Para responder tais perguntas, primeiro os pesquisadores coletaram amostras de tecido cerebral humano, cultivaram o tecido e por fim aplicaram o vírus. Dessa forma puderam ver a replicação do vírus e as inflamações que o mesmo causava nos tecidos. Com essas inflamações, o sistema imunológico era ativado e por sua ação dificultava as sinapses dos neurônios.

Seguindo a mesma lógica, na intenção de responder as perguntas da segunda etapa da pesquisa, os pesquisadores infectaram ratos adultos, e puderam observar o comprometimento de áreas ligadas a coordenação motora e a memória. Apesar de algumas variáveis, isso já mostra que existe a possibilidade do mesmo acontecer em cérebros de humanos adultos.

Esse tipo de pesquisa avança as perguntas a serem feitas sobre o assunto. Podemos, agora, esperar novas pesquisas que tentem responder se o observado ocorre de forma semelhante nos adultos, quantos dos infectados serão afetados ou, ainda, se existem maiores complicações que não foram perceptíveis.

Ficou claro como avançamos de forma rápida e o quão competente é a ciência brasileira, capaz de contornar problemas e estudá-los de forma eficaz. Entretanto, todos esses avanços correm risco diante dos cortes de gastos na ciência. Muitas dessas pesquisam demandam tempo e uma linha cronológica a ser seguida à risca, qualquer tipo de paralisação da continuidade dessas pesquisas significa jogar todos os possíveis avanços no lixo, além de uma perda de dinheiro já gasto.

Todo esse impasse tem causado ainda um fenômeno no país que pode fazer com que a ciência seja desmontada de uma vez, ciência essa que já se mostrou extremamente útil e competente.

A fuga de cérebros é uma realidade atual do Brasil, pesquisadores estão deixando o país, muitos por vontade própria, pela necessidade de continuar seus trabalhos. Enquanto isso, países que entendem a importância de uma ciência viva e produtiva, ganham com profissionais que estamos, de certa forma, expulsando de casa.

FONTES / El Pais / NatureBBC BrasilValor Econômico

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