Racistas tentam provar que sereias não podem ser negras usando a “ciência”

Damares Alves

Recentemente foi anunciado que Halle Bailey, de Chloe x Halle, fará o papel principal de Ariel no próximo remake do clássico filme de animação da Disney, A Pequena Sereia.

Parece uma excelente ideia: quem melhor que uma cantora indicada ao Grammy para um papel que exige tanto canto?

É claro que muitas pessoas concordaram e discordaram sobre se uma criatura mitológica metade mulher, metade peixe deveria ser representada por uma atriz negra ou não. O que é bem comum já que as pessoas utilizam as redes sociais para debaterem as mais variadas ideias. Porém, nos últimos dias vêm crescendo uma enorme onda de discursos de ódio e ataques racistas disfaçados de opiniões.

Logo muitos começaram a tentar usar a “ciência” para tentar justificar por que o personagem deveria ser branco.

“Sereias vivem no oceano. Subaquático = luz solar limitada. Luz solar limitada = menos melanina. Menos melanina = cor de pele mais clara”, um twittou. “Porque elas vivem debaixo d’água, que não tem acesso à luz além de uma certa profundidade, Ariel e todas as outras sereias existentes seriam albinas.”

“Corrija-me se estiver errado”, escreveu outro. “Mas não é fisicamente impossível para Ariel ser negra? Ela mora debaixo d’água, como o sol a levaria a produzir melanina? Ninguém pensou nisso…?”

Aplicar a ciência em sereias é uma ideia bastante boba. Vistos que elas são apenas contos e não criaturas de fato biológicas. E a ciência que vem sendo usada, é uma má ciência. Péssima na verdade, vem sendo usada para apoiar o racismo, para ferir e magoar pessoas.

E os argumentos utilizados são tão cômicos quanto errôneos, já nem todas as criaturas do mar são brancas. Os peixes arco-íris não são brancos. Orcas não são (completamente) brancas. Até mesmo os peixes brancos são principalmente pretos, marrons e verdes.
Os peixes-boi, os animais em que se baseiam os mitos das sereias, também não são brancos, são um tipo de cinza acastanhado.
Algumas pessoas argumentaram que o elenco com atores negros ia contra o folclore tradicional. “No entanto, o folclore de sereia existe há muito tempo em todo o mundo e, como todo o folclore, é um espelho de cada sociedade, daí o retrato dessas criaturas míticas ter uma variedade de cor de pele, caudas, e poderes muito antes da criação da pálida ruiva cantarolante em 1989.” Afirma a Folclorista Sasha Coward ao site IFLScience.

Ela também desmente vários e vários argumentos em sua conta no twitter.

Para muita gente uma história sobre um mítico Tritão lutando com uma bruxa marinha com pernas de polvo, com a ajuda de um caranguejo cantor faz muito mais sentido que uma Ariel negra.

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