Nova pesquisa confirma seis subespécies vivas de tigres

Diógenes Henrique

Pesquisadores  analisaram os genomas completos de 32 espécimes representativos e confirmam que os tigres realmente se encaixam em seis grupos geneticamente distintos: o tigre de Bengala (Panthera tigris tigris), o tigre de Amur (P.t. altaica), o tigre do Sul da China (P.t. amoyensis), o tigre da Sumatra (P.t. sumatrae), o tigre da Indochina (P.t. corbetti) e o tigre da Malásia (P.t. jacksoni). Hoje, existem menos de 4.000 tigres sobrevivendo livremente na natureza, cobrindo apenas 7% do seu alcance histórico. Esforços de proteção esses animais já foram prejudicados devido a incerteza de a espécie compreender seis, cinco ou duas subespécies. As novas descobertas são as evidências genéticas mais fortes até agora para o delineamento de subespécies em tigres.

“A falta de consenso sobre o número de subespécies de tigres tem dificultado parcialmente o esforço global para recuperar as espécies à beira da extinção, já que tanto a reprodução em cativeiro quanto a intervenção na paisagem de populações selvagens exigem uma delineação explícita das unidades de conservação”, disse Shu-Jin Luo,  autor sênior do estudo e pesquisador da Universidade de Pequim. “Este estudo é o primeiro a revelar a história natural do tigre a partir de uma perspectiva genômica completa. Ele fornece evidências robustas e genômicas para a origem e evolução dessa carismática espécie de megafauna.”

“Os tigres estão se dirigindo rapidamente para a extinção na natureza e a perda observada nas últimas décadas está aumentando e está acontecendo apesar do intenso interesse pela conservação, vigilância, proteção legal e pelos recursos financeiros envolvidos”, disse o Stephen O’Brien, Cientista da Faculdade de Ciências Naturais e Oceanografia na  Halmos College of Natural Sciences and Oceanography da Nova Southeastern University. “A diminuição dos tigres se destaca como uma das mais comoventes narrativas de perda de moralidade do esforço de conservação da vida selvagem ”, pontua O’Brien.

Luo e O’Brien e os demais co-autores se propuseram a expandir suas evidências genéticas anteriores sobre a história evolutiva e a estrutura populacional do tigre usando uma abordagem genômica completa. Eles perceberam que a triagem em todo o genoma também era a única maneira de procurar sinais de que grupos distintos de tigres passaram por uma seleção natural para se adaptar aos ambientes encontrados nas regiões geográficas distintas onde habitam as populações.

“Evidências fósseis mostram que os tigres remontam de dois a três milhões de anos. Mas, as evidências genômicas mostram que todos os tigres vivos só remontam a um período de cerca de 110 mil anos atrás, quando os tigres sofreram um gargalo histórico na população. Essas evidências também mostra que há muito pouco fluxo gênico entre as populações de tigres”, disseram eles segundo o Sci-News.

Apesar da baixa diversidade genética do tigre, o padrão entre os grupos é altamente estruturado, oferecendo evidências de que cada subespécie de tigre tem uma história evolutiva única. Isso é bem único entre os grandes felinos. Várias outras espécies, como a onça-pintada, mostraram muito mais evidências de mistura entre continentes inteiros.

As subespécies de tigre têm características distintas. Por exemplo, os tigres de Amur são grandes com pelo laranja pálido, enquanto os tigres de Sumatra nas ilhas de Sunda tendem a ser menores com pelagem mais escuras e grossas. De fato, apesar do ancestral comum muito recente de todos os tigres vivos, a equipe de pesquisadores foi capaz de detectar evidências da seleção natural.

“No final, ficamos muito surpresos que, ao realizar uma varredura ampla do genoma, sete regiões [genômicas], incluindo 14 genes, se destacaram como as regiões potenciais sujeitas à seleção”, observou Luo.

mais forte sinal de seleção natural encontrado pelos autores do estudo foi no tigre de Sumatra, através de uma região genômica que contém o gene ADH7 relacionado ao tamanho do corpo.

Essas sete regiões genômicas identificadas sugerem que o tigre de Sumatra poderia ter sido selecionado para tamanho menor para reduzir suas demandas de energia, permitindo que ele sobrevivesse com presas menores da ilha, como porcos selvagens e muntjac, um pequeno cervo.

“Os tigres não são todos iguais. Os tigres siberianos são evolutivamente distintos dos da Índia. Até os tigres da Malásia e da Indonésia são diferentes”, disse Luo.

“A origem do tigre do sul da China continua sem solução, já que informações genéticas de apenas um exemplar em cativeiro foram usada neste estudo”, disseram os cientistas. “Infelizmente, essa subespécie foi extinta na natureza. Planejamos estudar espécimes antigos de origem conhecida de toda a China para preencher as partes que faltam da história evolutiva dos tigres vivos.”

A equipe também está recuperando informações genômicas de espécimes históricos, incluindo aqueles que representam três subespécies extintas: o tigre de Java (Panthera tigris sondaica), o tigre de Bali (P.t. balica) e o tigre do Cáspio (P.t. virgata).

Este novo artigo representa uma análise sequencial genômica que tem influência direta nas estratégias de recuperação e gestão de espécies e subespécies ameaçadas de extinção em alto risco de extinção. “Nosso estudo traz contexto e conclusões importantes para as estratégias de recuperação e de manejo de uma espécie em vias de extinção, incluindo subespécies em alto risco de extinção”, disse O´Brien. “Recomendamos o reconhecimento, a classificação e a gestão das seis subespécies de tigres vivos como unidades de conservação separadas que merecem planejamento de proteção individual”, concluiu o cientista.

Os resultados estão publicados na prestigiado periódico científico Current Biology.

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