Césio-137, o maior desastre radiológico do Brasil

Laura Franzolin

Césio 137 30 anos do acidente em goiania

Em 13 de setembro de 1987, trabalhadores de um ferro-velho de Goiânia acreditavam que teriam mais um dia comum, desmontando e amontoando os mais variados tipos de materiais no local, até que dois homens decidiram vasculhar os equipamentos do Instituto Goiano de Radioterapia.

Ao abrirem um antigo aparelho radioterápico descartado no local, eles se encantaram com o brilho azul emitido por um pó muito parecido com o sal de cozinha. Fluorescente, e aparentemente inofensiva, a substância fez sucesso, moradores levaram o “pó brilhante” para casa. O que eles não sabiam é que se tratava de algo mortal: o césio-137.

Pouco a pouco, a população em um raio de 120 mil pessoas, começou a ficar doente devido a exposição direta ou indireta: náusea, diarreia, tontura eram os sintomas mais frequentes. Como ninguém fazia ideia do que vinha acontecendo, os primeiros doentes não receberam o tratamento devido.

Após 16 dias, médicos conseguiram identificar qual a causa para a doença altamente contagiosa que estava colocando em risco a população goianiense. Mas para alguns, já era tarde demais.

Criança símbolo do acidente com césio-137

Devair Ferreira, dono do ferro-velho, queria reaproveitar chumbo e por isso abriu a cápsula de césio que estava no equipamento hospitalar abandonado. Ele liberou no ambiente uma quantidade pequena do material: menos de 20g de cloreto de césio-137.

Sua primeira reação, foi mostrar a descoberta do material brilhante para a família, em casa, mostrou o pó para a esposa e parentes. Seu irmão, Ivo Ferreira gostou e levou um pouco do material para filha brincar. Leide Das Neves, de apenas 6 anos, engoliu partículas de césio, falecendo pouco tempo depois, em dia 23 de outubro de 1987. A menina se tornou um símbolo do acidente radioativo de Goiânia.

No mesmo ano foi criada a Fundação Leide das Neves (Funleide), que mais tarde se tornou a Superintendência Leide das Neves (Suleide), e garante atendimento a pessoas que sofreram com a contaminação pelo césio-137. Além de atender os pacientes de forma direta, auxiliou também vizinhos de área contaminada e as pessoas envolvidas nos trabalhos de descontaminação, policiais, bombeiros, etc.

Total de vítimas do acidente radioativo de Goiânia

O incidente é considerado o maior do mundo, ocorrido fora das usinas nucleares, e causou um impacto muito negativo na vida dos afetados.

De forma direta ou indireta, 1000 pessoas foram contaminadas por césio, sendo que, na maior parte dos casos foi possível reverter os efeitos da radiação. Desse total, 129 indivíduos desenvolveram sintomas intensos e foram apenas medicadas; 49 necessitaram de internação, 21 passaram por tratamento intensivo; quatro faleceram em decorrência da contaminação.

Para a Associação das Vítimas do Césio-137, muito mais pessoas foram vítimas fatais do acidente. De acordo com a entidade, 104 pessoas faleceram nos anos seguintes, e suas mortes teriam ligação direta com a exposição que sofreram em 1987. Entre as mortes está a de Devair Ferreira, que faleceu 7 anos após o incidente, devido a um câncer.

Para saber mais sobre o Acidente radiológico de Goiânia:
Césio 137 – O Pesadelo de Goiânia (Filme de 1990)
The Radiological Accident in Goiânia (Relatório da Agência Internacional de Energia Atômica – 1988)
Brilho da Morte (Página do Governo do Goiás)
Césio 137 – 20 anos de descaso (Memorial do Greenpeace Brasil – 2007)

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