Mulheres na ciência: a história de Mary Somerville

Thalyta Bertotti

MARY SOMERVILLE: UMA VIDA DE CONQUISTAS NA CIÊNCIA

 

Mary Somerville, escritora e polímata escocesa, foi uma cientista de sucesso e dona de uma premiada carreira — tendo sido laureada com a Victoria Gold Medal, a mais alta honraria da Sociedade Geográfica Real — e autora de importantes estudos científicos. Sua história e seu legado são exemplos incontestáveis da capacidade feminina em uma época na qual a participação de mulheres na ciência não era encorajada.

 

Mary Fairfax Somerville, nasceu em 26 de dezembro de 1780, em Jedburgh na Escócia, viveu no campo durante a infância. Seu pai, William George Fairfax, um oficial da marinha, por causa da sua rotina, acabou se tornando ausente. Sua mãe, Margaret Charters, se empenhou em ensiná-la a ler, mas não se importou em não ensiná-la a escrever, já que isso lhe parecia desnecessário.

Aos 10 anos, seu pai sentiu a necessidade de colocar Mary num internato, uma escola para meninas em Musselburgh, que mais se parecia com uma prisão aos olhos da garota. Quando voltou para casa, leu todos os livros que estavam ao seu alcance, sendo que seu apreço pela leitura chateou alguns familiares que afirmavam ser uma atividade sem sentido para uma garota. Mary passou a frequentar uma escola em Burntisland, onde aprendeu a bordar. Mais tarde, teve contato com seu tio, Thomas Somerville, que a encorajou aos estudos, inclusive lhe ensinou latim — geralmente eles liam juntos antes do café.

Ela e sua família se mudaram para Edimburgo onde Mary passou a aprender a tocar piano, dançar e pintar, tinha aulas com o artista plástico Alexander Nasmyth, com quem aprendeu mais sobre perspectiva — técnica de representação tridimensional que possibilita a ilusão de espessura e profundidade das figuras — e se encantou.

Certo dia, ouviu Nasmyth explicar para outro aluno que o livro Elementos de Euclides serviu de base para compreender a perspectiva na pintura e outras ciências. Esse episódio, junto aos artigos que Mary leu em uma revista científica de um amigo, despertou o interesse dela pela matemática. O tutor de seu irmão observou a facilidade de Mary com cálculos, lhe deu alguns livros e a acompanhou auxiliando na leitura, contribuindo assim para o seu desenvolvimento. Ela gostou tanto que estudava até mesmo de madrugada, o que fez seus pais não gostarem muito desse comportamento, pois consideravam ser prejudicial a sua saúde e viam com maus olhos interesse dela por ciências.

Mary se casou com o Capitão Samuel Greig, da marinha russa, em 1804. Por causa de uma nomeação recebida por Greig, o casal teve de se mudar para Londres. Seu marido não lhe incentivava, nem tampouco se interessava por ciências. No entanto, não lhe proibiu de estudar, nem nada parecido. Infelizmente seu marido morreu três anos depois do casamento. Porém, com a herança e independência econômica, ela conseguiu se sustentar e continuar estudando. Com o falecimento do marido, Samuel Greig, Mary voltou para a Escócia.

Se casa novamente em 1812, com o médico William Greig Somerville, filho do seu tio Thomas Somerville. William, diferente de Samuel, não só compartilhava dos mesmos interesses que Mary, mas também a incentivava, inclusive tendo aprendido juntos geologia. Mary nesse tempo aprendeu também sobre botânica e melhorou substancialmente seus conhecimentos em grego, um idioma que não dominava completamente. Entre as amizades do casal, destaca-se o físico David Brewster — descobriu o princípio do caleidoscópio em 1816.

Em 1816, o casal se mudou de Edimburgo para Londres, pois W. Somerville entrara para a Royal Society — academia científica independente do Reino Unido e da Commonwealth, que tem por objetivo reconhecer, promover e apoiar a excelência em ciência, e incentivar o desenvolvimento e uso da ciência para o benefício da humanidade — portanto, Mary e William agora tinham um círculo de amizades que incluía vários matemáticos e astrônomos como George Airy, John Herschel, William Herschel, George Peacock, e Charles Babbage.  

Em Paris, em 1817, Mary também se encontrou com outros matemáticos como Laplace, Poisson, Poinsot, Emile Mathieu. Destaque para um amigo de William, Lord Byron, pai da brilhante matemática Ada Lovelace. Em 1824, se mudaram para Chelsea, pois William fora trabalhar no Hospital Real de Chelsea.

Mary publicou seu primeiro trabalho em 1826, As propriedades Magnéticas dos Raios Ultravioleta do Espectro Solar, explicando os efeitos desses raios e suas propagações em diferentes meios.

Em 1827 Mary foi convidada para traduzir o trabalho de Laplace sobre a Mecânica Celeste (Mécanique Céleste, 1831), um trabalho de difícil leitura, mas Mary superou as expectativas, fazendo não só a tradução mas também comentários no próprio livro, explicando os escritos de Laplace. O livro foi lançado em 1831 e foi um grande sucesso, inclusive Mary recebeu muitos elogios pela sua tradução e por seus comentários.

Entre 1832 e 1833, ela se dedicou a escrever seu livro A ligação Entre as Ciências  Físicas (On the Connexion of the Physical Sciences), o publicando em 1834 , no mesmo ano em que foi eleita membro honorário da Sociedade de Física e História Natural de Genebra (Société de Physique et d’Histoire Naturelle de Genève) e da Academia Real Irlandesa. Também foi uma das primeiras mulheres a se tornar membro honorário da Sociedade Astronômica Real, do Reino Unido, em 1835. O termo cientista foi cunhado por William Whewell, em uma revisão de 1834 da obra de Somerville.

Em 1838, Mary e William se mudaram para Itália, onde Mary permaneceu até a sua morte. Em 1848 publicou a sua principal obra, Geografia Física (Physical Geography), seu trabalho mais bem sucedido e muito utilizado nas universidades, inclusive é por causa desse trabalho que Mary Somerville é considerada uma pioneira na Geografia Moderna.

Escreveu mais alguns livros, dentre eles On Molecular and Microscopic Science e On the Theory of Differences. Ela foi eleita para a Sociedade Geográfica Americana em 1857 e para a Sociedade Geográfica Italiana em 1870. Nesse mesmo ano, ela recebeu a Victoria Gold Medal da Sociedade Geográfica Real Royal Geographical Society. Morreu em Nápoles, em 28 de novembro de 1872, aos 91 anos de idade.

A Ilha Somerville (74°44’N, 96°10’W), uma pequena ilha no Estreito de Barrow, em Nunavut, Canadá, foi batizada em homenagem a ela durante a primeira das quatro expedições ao Ártico em 1819. O 5771 Somerville (1987 ST1) é o nome de um asteroide (descoberto no dia 21 de setembro de 1987,  no Observatório Lowell Flagstaff, no Arizona) também em sua homenagem. Ainda em sua homenagem foram batizados o Somerville College, em Oxford, assim como a Somerville House, em Burntisland, onde ela viveu. O nome de Somerville batiza ainda uma cratera lunar na parte oriental da Lua.

Mary Somerville defendeu a educação para as mulheres e o direito feminino ao voto. Em sua época, conviveu com os melhores e brilhou junto com todos eles. Mary Somerville é uma entre muitas mulheres que brilharam na ciência.  

 

Referências:

http://www.fcsh.unl.pt/~egeo/sites/default/files/dl/mulheresgeografasnahistoriageografiamoderna2011.pdf

http://www.learn-math.info/portugal/historyDetail.htm?id=Somerville

http://mapcarta.com/24648104

http://www.minorplanetcenter.net/db_search/show_object?object_id=5771

https://www.some.ox.ac.uk/about-somerville/history/

http://www-history.mcs.st-andrews.ac.uk/Extras/Somerville_House.html

https://the-moon.wikispaces.com/Somerville

 

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