Há 15 anos, Plutão deixou de ser um planeta – foi a melhor decisão?

Jamille Rabelo

Durante 76 anos, Plutão foi o nono e menor planeta do sistema solar. Sua lua, Charon, tem metade do seu tamanho, e sua órbita é inclinada e excêntrica, mas suas peculiaridades faziam dele um querido planeta pela população.

Em 2000, Plutão foi retirado da exposição planetária no Museu Americano de História Natural, em Nova Iorque. Crianças enviaram cartas de protesto a Neil deGrasse Tyson, diretor do planetário.

Da mesma forma, houve um alvoroço popular quando há 15 anos atrás, em agosto de 2006, a União Astronômica Internacional, ou IAU, escreveu uma nova definição de “planeta” que deixou Plutão de fora.

A nova definição exigia que um corpo orbitasse o Sol, tivesse massa suficiente para ser esférico e ser gravitacionalmente dominante na sua órbita. Os objetos que satisfaziam os dois primeiros critérios, mas não o terceiro, como Plutão, foram chamados de “planetas anões”.

Foi a melhor decisão?

“Creio que a decisão tomada foi a correta”, diz a astrônoma Catherine Cesarsky, que foi presidente da IAU em 2006. “Plutão é muito diferente dos oito planetas do sistema solar, e teria sido muito difícil continuar a alterar o número de planetas do sistema solar à medida que se descobriam objetos mais maciços. A intenção não era de modo algum despromover Plutão, mas pelo contrário promovê-lo como protótipo de uma nova classe de objetos do sistema solar, de grande importância e interesse”.

Mas o cientista planetário Jim Bell, agora na Universidade Estatal do Arizona, pensou que a decisão era uma farsa. Ele ainda pensa. A ideia de que os planetas têm de dominar as suas órbitas é particularmente incômoda, diz ele. A capacidade de recolher ou de expulsar detritos não depende apenas do próprio corpo.

Desde 2006, foi descoberto que Plutão tem uma atmosfera e talvez até nuvens. Assim como montanhas feitas de gelo, campos de nitrogênio congelado, picos cobertos de metano, dunas e vulcões.

A missão New Horizons mostrou que Plutão tem uma geologia fascinante e ativa para comparar com a de qualquer mundo rochoso do sistema solar. A definição da IAU deixou de lado essas características.

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Reescrevendo a história

Segundo, Philip Metzger, um cientista planetário da Universidade da Flórida Central, a narrativa do “acabamos de aprender mais” não é realmente verdadeira. Embora a história oficial seja que Plutão foi reclassificado pois entraram novos dados, não é assim tão simples.

A verdade é que não há uma única definição de planeta.

Durante séculos, qualquer grande corpo em movimento no céu era considerado um planeta – incluindo as luas. Em 1800, quando os astrônomos descobriram os asteroides, estes também foram chamados de planetas no começo.

Desde a descoberta do Plutão em 1930, mais de 2000 corpos foram descobertos, e ainda há vários. Com tantos objetos novos, houve uma necessidade crescente de uma definição formal de “planeta”.

Em 2005, com uma descoberta de um corpo que parecia ser maior que Plutão, nomeado de Xena, deveria ser o décimo planeta. No entanto, se Xena foi desconsiderado um planeta, assim deveria ser Plutão.

Dessa forma, em 2006, depois de muitas discussões sobre o assunto, em uma reunião da IAU, foi definida a nova definição de planeta. E assim, nem Xena, nem Plutão estavam dentro da lista.

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Utilização no mundo real

É cientificamente útil ter uma palavra para descrever os corpos cósmicos onde ocorre uma interessante geofísica, incluindo as condições que permitem a vida, diz Metzger. Há todo o tipo de complexidade extra, desde montanhas a atmosferas, oceanos e rios, quando os mundos rochosos crescem suficientemente grandes para que a sua própria gravidade os torne esféricos.

Não estamos afirmando que temos a definição perfeita de um planeta e que todos os cientistas deveriam adotar a nossa definição”, acrescenta ele. Esse é o mesmo erro que a IAU cometeu. “Estamos dizendo que isto é algo que deveria ser debatido”.

Uma definição mais inclusiva de “planeta” daria também um conceito mais preciso do que é o sistema solar.

 A enfatização dos oito grandes planetas sugere que eles dominam o sistema solar, quando na realidade objetos menores superam esses mundos. Os planetas maiores nem sequer ficam colocados nas suas órbitas durante longos períodos de tempo.

Ensinar a visão do sistema solar, que inclui apenas oito planetas estáticos, não faz justiça ao dinamismo que acontece lá.

O cientista Mike Brown discorda. Ter a força gravitacional para empurrar outros corpos dentro e fora da linha é uma característica importante de um planeta, diz ele. Além disso, os oito planetas dominam claramente o nosso sistema solar, diz ele. “Se me deixassem cair no sistema solar pela primeira vez, e eu olhasse em volta e visse o que estava lá, ninguém diria outra coisa que não fosse: ‘Uau, há oito – escolher palavra – e muitas outras pequenas coisas’.

Um argumento comum a favor da definição da IAU é que ela mantém o número de planetas manejáveis. Se existissem centenas ou milhares de planetas, seria muito difícil difundir o conhecimento entre as pessoas.

Mas Metzger pensa que ensinar apenas oito planetas é também uma forma de impedir o conhecimento das pessoas a todo o espaço. No início dos anos 2000, havia muita empolgação quando os astrônomos descobriam novos planetas no nosso sistema solar”, diz ele. “Toda essa animação terminou em 2006”. Mas esses objetos ainda andam por aí e ainda são dignos de interesse. Existem pelo menos 150 destes planetas anões, e a maioria das pessoas não faz ideia.

Porque precisamos de limitar o número de planetas? Porque não inspirar os estudantes a redescobrir e explorar os objetos espaciais que mais os atraem?

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