Terremoto de 2010 teria virado uma placa oceânica de cabeça para baixo

Leandro da Silva Monteiro
Imagem: Pixabay

Terremotos são cataclismos que ameaçam cidades em várias regiões do mundo. De maneira simples, eles são produto de movimentos súbitos ao longo de falhas dentro da Terra. Sendo assim, o movimento acaba liberando energia de ‘tensão elástica’ que se armazena na forma de ondas sísmicas. Elas se espalham por todo o planeta e fazem com que a superfície do solo trema.

Em abril de 2010, ocorreu um terremoto de escala 6.3 na escala Richter, na cidade de Granada, que fica no sul da Espanha. O terremoto não chegou a causar danos muito sérios pois seu epicentro se localizava a 616 quilômetros da superfície. Apesar de apresentar ondas sísmicas incomuns, o ocorrido não chegou a chamar tanta atenção na época além das habituais cobertura da imprensa mundial. Porém, tal como outros terremotos, o episódio seguiu sendo estudado por vários membros da comunidade científica.

Foi apenas agora, quase uma década e meia depois, que pesquisadores enfim fizeram uma descoberta peculiar a respeito daquele episódio: o terremoto de Granada conseguiu virar de cabeça para baixo uma placa oceânica quando foi empurrada pela placa vizinha. No caso foi a chamada placa de Alboran, que se encontra com placa Eurasiática logo a leste do Estreito de Gibraltar.

A descoberta está descrita com mais detalhes na revista científica The Seismic Record num artigo de autoria de Daoyuan Sun, sismólogo na Universidade de Ciência e Tecnologia da China, e de Meghan S. Miller, pesquisadora do Departamento de Pesquisa em Ciências da Terra da Universidade Nacional Australiana. Ambos afirmam que essa é a primeira vez na história que uma ocorrência desse nível foi registrada.

Além disso, Sun e Miller observaram que os silicatos de magnésio hidratados, que se encontram a mais ou menos uns 600 quilômetros abaixo da superfície, indicam que a água que se encontrava acima da placa foi empurrada junto com ela. Os pesquisadores acreditam que sua descoberta por direcionar a um entendimento melhor sobre como várias partes da crosta terrestre interagem entre si e sua relação com atividade sísmica na superfície.

Quando Sun e Miller iniciaram sua pesquisa sobre o terremoto da cidade de Granada eles não esperavam fazer qualquer descoberta dessa magnitude. “Inicialmente, não estávamos visando entender melhor os mecanismos de terremotos profundos, já que vários estudos anteriores estudaram a fonte de forma satisfatória”, afirmou Sun em um comunicado para Seismological Society of America. “Nossa intenção era apenas plotar os diagramas de ondas por curiosidade, já que há muito a aprender com os diagramas de ondas individuais quando se dedica tempo para examiná-los de perto.”.

Terremoto de 2010 teria virado uma placa oceânica de cabeça para baixo
Mapa sísmico do terremoto na cidade de Granada. Imagem: The Seismic Record

Entretanto, durante a análise, Sun e Miller encontraram “chegadas estranhas” nos gráficos que incluíam uma cauda longa e uma fase extra no que se refere às vibrações residuais do terremoto. Tais vibrações de baixa velocidade são uma consequência de quando uma onda passa por material líquido ou derretido. Placas subdzidas, resultado de um movimento convergente de placas que se chocam e causam o afundamento da mais pesada, costumam ter água na sua superfície, o que seria uma explicação para os sinais captados.

Sun acrescenta que, “considerando uma idade relativamente jovem do fundo do mar no Mediterrâneo Ocidental, para que a placa permaneça fria, a velocidade de subducção deve ser bastante rápida, como uma velocidade moderada de cerca de 70 milímetros por ano. Em outras palavras, pensamos que nosso estudo poderia oferecer um limite inferior razoável para a velocidade de subducção nesta região.”.

No seu estudo, a dupla conclui que “nossas descobertas contradizem o modelo tradicional de placa com a LVL (Low Velocity Layer – Camada de Baixa Velocidade) situada no topo da placa, sugerindo que a placa de Alboran foi virada de cabeça para baixo.”.

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