Ativistas climáticos pedem para Greenpeace reconsiderar oposição à energia nuclear

Felipe Miranda
Imagem: Shutterstock

Jovens ativistas pelo clima na Europa pedem ao Greenpeace para reconsiderar a postura anti energia nuclear. A campanha, chamada “Dear Greenpeace” faz o apelo à organização em nome da luta contra as mudanças climáticas, já que o grupo que protesta acredita que a energia nuclear pode ser importante para a diminuição da pegada de carbono dos países.

“Estamos muito, muito desesperados para tê-los na luta contra os combustíveis fósseis. E parece uma traição para eles estarem enfrentando a energia nuclear”, disse Ia Aanstoot, uma ativista climática sueca de 18 anos à rádio CBC.

“É uma mensagem de desespero da minha geração para a deles”, diz a jovem.

Obviamente, o Greenpeace não manda em nenhum governo. Entretanto, indiscutivelmente, o posicionamento da organização causa uma forte influência em políticos, governos e movimentos por todo o mundo.

Briga de gerações

Os jovens autores do movimento Dear Greenpeace dizem que consideram o posicionamento do Greenpeace antiquado. Eles dizem que o pensamento e o posicionamento do Greenpeace não faz mais sentido nos dias de hoje, e que está com a cabeça décadas atrás, quando os movimentos anti energia nuclear eram mais fortes.

“Eles nasceram do movimento antinuclear”, disse Aanstoot, referindo-se à composição do Greenpeace.

O grupo de protestantes diz, ainda, que as decisões dos governos da União Europeia devem se basear na ciência. A ONG não é diretamente ligada a governos, mas por seu tamanho, causa uma grande influência na opinião das pessoas e de políticos.

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Ia Aanstoot. Imagem: Rowan Farrell/RePlanet.

“As decisões da UE sobre o que é verde devem basear-se na ciência e ser neutras em carbono, e não devem ser tendenciosas em termos tecnológicos”, diz a jovem sueca.

Resposta do Greenpeace

A ONG deu à CBC sua resposta.

“Temos o maior respeito pelas pessoas que estão preocupadas com a crise climática e querem jogar tudo o que temos no problema, mas construir novas usinas nucleares simplesmente não é uma solução viável”, disse Ariadna Rodrigo, ativista de finanças sustentáveis do Greenpeace na UE, à CBC.

Além disso, a porta-voz da ONG explica a visão da organização em relação ao problema. Para ela, a energia nuclear não trás os requisitos mínimos para ser considerada um aliado no combate às mudanças climáticas.

“A principal prioridade é reduzir as emissões de carbono o mais rápido e, idealmente, o mais barato possível, e o nuclear falha em ambos os aspectos”, explica Rodrigo.

“A boa notícia é que não precisamos de novas coisas nucleares. As tecnologias solar e eólica são uma maneira muito mais barata e rápida de reduzir as emissões e, com tecnologia de armazenamento moderna, sistemas 100% renováveis são perfeitamente possíveis”, completa rodrigo ao portal.

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Imagem: Rowan Farrell/RePlanet

A ativista ainda fala sobre a questão do tempo, que a ONG considera primordial, e diz que a energia nuclear não aproveitaria bem o pouco tempo disponível para a substituição da matriz energética do mundo.

“Não temos o luxo de tempo e recursos infinitos, então devemos concentrá-los nas soluções com a melhor chance de entrega”.

Memórias distantes

“Jovens que estão convencidos – precisamente, na minha opinião – de que a geração mais velha não aprecia a crise climática (…) estão dizendo que se vamos lutar pelo clima, temos que usar todas as ferramentas à nossa disposição”, disse à CBC Daniel Kammen, professor de energia da Universidade da Califórnia e estudioso de energia nuclear.

O professor diz ao portal que os famosos desastres nucleares, como Fukushima, Chernobyl e Three Mile Island são apenas memórias distantes para os mais jovens. Por isso os perigos da má gestão de usinas nucleares são tão olhados pelos mais velhos e quase imperceptíveis pelos mais novos.

O professor diz que o risco de um novo desastre nuclear no futuro “é real e é grande”.

“É razoável ser otimista, mas quanto mais fundo você olha, mais cético deve ser em relação a todas as opções nucleares”, diz.

Fusão nuclear

Se a fissão nuclear ainda parece tão problemática para o mundo, que segue uma severa onda de desligamento de usinas nucleares, o futuro pode ser a fusão nuclear. A fusão nuclear é muito limpa e, idealmente, não gera nada de resíduos. Entretanto, segue alguns desafios técnicos, muito embora esteja cada dia mais próxima de se tornar realidade.

Se quiser entender as diferenças sobre a fissão e a fusão nuclear, a Socientífica já falou sobre isso.

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