Zika pode se tornar uma arma no combate de tumor cerebral mortal

Laura Franzolin
Imagem: JOURNAL OF EXPERIMENTAL MEDICINE 2017
Imagem: JOURNAL OF EXPERIMENTAL MEDICINE 2017
O Zika (verde) infecta e mata células estaminais (vermelho) no tecido do glioblastoma humano, sem infectar células cerebrais saudáveis. Imagem/reprodução: JOURNAL OF EXPERIMENTAL MEDICINE 2017

O vírus Zika pode um dia ser utilizado para trazer a cura para milhares de pacientes que sofrem com o glioblastoma, um tipo de câncer cerebral agressivo e de difícil tratamento. De acordo com uma pesquisa recente o vírus infectou e matou as células estaminais do tumor, sem afetar as células saudáveis. O estudo foi conduzido por Jeremy Rich, cientista de medicina regenerativa da Universidade da Califórnia, em San Diego, o resultado foi publicado em 5 de setembro no Journal of Experimental Medicine, publicação ligada ao The Rockefeller University Press.

Logo que se iniciaram as pesquisas sobre o Zika, foi descoberto que o vírus afeta as células precursoras neurais (responsáveis pela formação do cérebro) – por isso é tão prejudicial para os fetos de mulheres que contraem a doença durante a gestação.
Devido às semelhanças entre as precursoras neurais e as células que dão origem ao tumor cerebral, a equipe de Rich suspeitava que o vírus poderia ser utilizado para combater o glioblastoma.

Zika vírus infecta células estaminais de tumor sem comprometer células saudáveis

Para testar a hipótese, os pesquisadores da Universidade da Califórnia infectaram culturas humanas saudáveis com as células que dão origem ao glioblastoma. Na segunda etapa do processo, foi introduzido o Zika, que causou danos as células estaminais do tumor, sem afetar a área ainda saudável. De acordo com os pesquisadores, o vírus também infectou células de glioblastoma já ‘maduras’, porém em uma taxa mais baixa.

O teste com animais também foi animador. Em alguns ratos, o tratamento com o vírus Zika resultou na diminuição do tumor; em outros o glioblastoma passou a crescer de forma mais lenta, em comparação com os que não receberam o tratamento com Zika.
Os animais infectados com vírus também viveram mais. Em um ensaio, quase metade dos ratos sobreviveram mais de seis semanas após serem infectadas com Zika, enquanto todos os ratos não infectados morreram dentro de duas semanas após receberem um placebo.
Como Zika afeta as células que geram os tumores com mais força, ele pode ser útil para combater o reaparecimento do glioblastoma em pacientes que já apresentaram o este tipo de câncer.

Apesar dos testes animadores, a equipe já revelou que mais estudos precisam ser realizados para determinar se o tratamento com Zika é seguro e eficaz em seres humanos.
Além disso, como o vírus é extremamente prejudicial no desenvolvimento de cérebros, ele precisaria ser modificado para torná-lo mais seguro e menos transmissível, e ao que tudo indica, o tratamento pode ser seguro somente em adultos.
Rich e seus colegas estão testando uma nova forma de tratar os tumores em ratos, aliando o Zika a tratamentos tradicionais, como a quimioterapia.

Vírus já são usados para combater outros tipos de câncer

Os tratamentos que dependem de poliovírus modificados para atingir tumores como glioblastomas já estão em ensaios clínicos nos Estados Unidos, e há um herpesvírus modificado aprovado pela US Food and Drug Administration para tratamento de melanoma.
Segundo Andrew Zloza, chefe de pesquisa de oncologia cirúrgica no Rutgers Cancer Institute of New Jersey, em Nova Brunswick, os vírus atuam de duas formas nos tumores: no primeiro estágio infectam e matam as células cancerosas. No segundo, eles fazem com que as células de câncer remanescentes se “abram”, tornam-se visíveis para o sistema imunológico, que pode reconhecê-las e combatê-las.

“No momento, não sabemos que tipo de vírus são os melhores” para combater o câncer, diz Zloza – se é mais eficaz usar um vírus comum que muitas pessoas foram expostas ou algo mais incomum. Agora, o Zika é mais um candidato”.

Fonte: Science News

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